segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Morena da Cidade Universitária



Barão Geraldo é um lugar simpático, gosto daquele clima de cidadezinha que paira no ar, tudo é perto e parece que todo mundo se conhece. Só eu que não conhecia a tal morena do título, porque pela lotação em pleno almoço de quinta-feira, todo o pessoal de lá já sabe dela... refiro-me ao restaurante Morena Flor, que fica naquele trecho da Estrada da Rhodia onde se concentram outros restaurantes, como o Tábua de Marés, Gregs, Panneteria Di Capri (na verdade, é aquela ruazinha paralela à estrada).

Eu e minha amiga Pati fomos conferir o que a tal "morena" tem, pois o movimento é sempre intenso, tanto durante a semana quanto nos finais de semana. O ambiente é super simpático, bem rústico, porém aconchegante. Só que com as janelas abertas, o calor ficou insuportável quando a casa encheu, exigindo um certo tempo para que o ar-condicionado desse conta do recado, o que aconteceu após alguns minutos. Também devido à lotação, o serviço ficou meio lento, desatencioso, mas isso foi no final da nossa refeição, pois chegamos bem cedo.

Ainda vazio, mas depois encheu....

Notamos que não há exatamente uma especialidade da casa, o cardápio vai de massas a risotos e carnes, mas talvez a ênfase do menú esteja nos pratos regionais, com a carne seca como ingrediente-estrela. Dada nossa percepção, optamos por dois pratos regionais: paella nordestina (me encantei com a criatividade do nome), que nada mais era que um arroz com açafrão, carne seca, pimenta e cubos de queijo coalho, e um bolinho de aipim com carne seca cujo nome não me recordo, mas era do tamanho de uma quiche individual, acompanhado de risoto de legumes e salada.

De entrada, dividimos os fundos de alcachofra com manteiga de ervas que, apesar de serem do tipo congelado, estavam bem macios e saborosos.



Nossos pratos vieram dentro do tempo esperado, porém vi que outras mesas ficavam impacientes com a demora. As porções eram generosas mas sem exagero, mas no caso do prato da pati, somente o tal bolinho e a salada seriam suficientes, o risoto parecia estar "sobrando" no prato, competindo com o bolinho. Mas verdade seja dita, o arroz era arbóreo mesmo e os legumes estavam al dente, tudo certinho com o risoto. Só uma ressalva quanto ao tal bolinho, que poderia ter mais recheio, já que a mandioca é "massuda" por natureza e qualquer excesso pode causar um desequilíbrio.

Bolinho ou bolão?

Minha paella nordestina estava bem saborosa, com arroz cremoso e carne seca presente em quantidade notável. O queijo coalho dava o contraste de textura, enquanto a cheirosíssima pimenta da casa coroava tudo com a "picância" necessária. Um prato criativo com ingredientes simples, muito saboroso e harmônico.

Adorei meu prato, principalmente o nome

Achamos que nossas escolhas mereciam ser acompanhadas de "loiras geladas", portanto o garçom nos providenciou baldinho com gelo, cobrando apenas as cervejas que foram consumidas. Muito conveniente para o calor senegalesco que fazia naquele dia.

Nossa conta deu cerca de 35 reais para cada, valor que consideramos bem pago. A morena só tem que tomar mais cuidado com a qualidade do seu atendimento em dia de casa cheia, pois notei que a fórmula boa comida + preço razoável já a tornou irresistível, só não pode deixar a peteca cair e frustrar a clientela.

Morena Flor Cozinha Contemporânea
R Maria Tereza Dias da Silva 234
Cidade Universitária
Campinas, SP
(19) 3249-0424

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Redescobrindo o Santa Therezinha

Mais legal que descobrir um lugar bacana é descobrir que este lugar tem mais a oferecer do que você pensava. Por exemplo, que o empório Santa Therezinha era um lugar super legal, cheio de iguarias e ingredientes de primeiríssima, um verdadeiro parque de diversões para os amantes do fogão, isso eu já sabia. Mas outro dia, passando por lá em uma sexta-feira de calor senegalesco, tive a brilhante idéia de almoçar no empório, bebericando um excelente choppe de colarinho cremoso e temperatura baixíssima. Lógico que, se os ingredientes vendidos no empório são muito bons, a comida feita por lá também deveria ser, já que eles utilizam os mesmos produtos que estão à venda. O cardápio inclui, além das opções de almoço executivo, os pecaminosos beliscos e sanduíches, tudo com aquela vibe boêmia. Dentre as opções de almoço, pratos com bacalhau, escondidinhos, polenta mole com linguiça ao sugo, baião de dois, e por aí vai. Escolhi o tal do arrumadinho de bacalhau, enquanto o parceiro Xana foi de arrumadinho também, mas na versão de carne seca - carne desfiada acebolada, feijão de corda temperado com manteiga de garrafa, farinha de mandioca com vinagrete e couve.

O choppe descia que era uma maravilha, as mesinhas ficam à sombra, sob um pergolado agradabilíssimo, minha sensação foi de que os pratos vieram super rápido. As porções eram enormes, tanto a de bacalhau quanto a de carne seca.

Lindo, lindo...

O bacalhau desfiado estava tenro e úmido, atestando a boa procedência do peixe, nada salgado e temperado com um bom azeite. A couve que acompanhava era daquelas novinhas, bem macia e clarinha, cortada fininha. O feijão de corda cumpria bem seu papel de coadjuvante, sem pesar na quantidade. Tudo super harmonioso e muito saboroso, assim como a versão de carne seca, segundo o Xana - carne macia e bem dessalgada, com tempero na medida certa.

O tal do arrumadinho, em versão com bacalhau...

... e com carne seca

Poderia passar horas naquela mesinha, contemplando a paisagem e bebericando aquele choppe fantástico, até o sol baixar e o calor, diminuir. Mas, como o não somos marajás e nem ganhamos na mega (ainda!), o dever nos chamava e fomos obrigados a encerrar a refeição, satisfeitíssimos. O preço? R$ 32,00 por pessoa... valeria só pela mesinha à sombra, com um choppe bem tirado daqueles.

Se liga no sol lá fora... você também não ficaria horas aqui?


Empório Santa Therezinha
Shopping Parque D. Pedro
fone: (19) 3756 9984
www.santatherezinha.com.br

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A farra portenha - Parte 2: Le Sud



Continuando com a nossa farra portenha, na segunda noite em Buenos Aires fomos conhecer o restaurante francês do Hotel Sofitel - que, por sinal, é belíssimo e muito bem localizado, pertinho do Pátio Bullrich - o Le Sud.

À primeira vista, parecia que as coisas não iam muito bem, já que o lugar estava absolutamente vazio. Mas os portenhos têm a boemia como herança dos espanhóis e costumam jantar bem tarde, por isso não nos precipitamos em achar que o restaurante estaria em baixa.

Serviço impecável e ambiente idem. Cardápio enxuto, com poucas opções de entradas e pratos principais, mais semelhante ao menu de um bistrô. Logo que vi o tal ovo mole com trufas negras nem terminei de checar as opções de entrada, pois já tinha meu eleito. De principal, quis experimentar a truta rosa da patagônia, como forma de enaltecer os ingredientes locais.

O couvert era simples e mínimo em termos de quantidade, com patê de azeitonas pretas, azeite virgem com pimenta rosa e pãezinhos fresquinhos, além de um hommus em porção individual.

Até aí, tudo padrão. Mas quando colocaram o ovo na minha frente, fiquei sem entender como pode um ovo com gema mole ser empanado e frito! As trufas negras estavam salpicadas em um crostini de parmesão e sob o ovo, um sautée de cogumelos. O prato ficou ainda mais bonito quando cortei o ovo e deixei aquela gema dourada e gelatinosa escorrer sobre os cogumelos. As trufas eram "das boas", com aroma e sabor super potentes. Uma entrada realmente surpreendente, tanto é que perguntei à nossa atendente como eles descascavam, empanavam e fritavam um ovo tão mole, e a resposta veio com um sorriso: "es difícil, muchos se los rompen!"

Como?

Ah, tá! Por mais afinidade que eu tenha com as panelas, não me aventuro a fazer um desses em casa, não...

A truta rosa da patagônia veio acompanhada de risotto "frito" de açafrão, que nada mais era que um risotto enformado e dourado no azeite... interessante, mas eu prefiro o tradicional, cuja textura e sabor fazem com que nada mais seja necessário para deixá-lo delicioso. Já a truta era delicada, muito fresca e saborosíssima - principalmente na parte da pele, bem fininha e tostadinha, tal qual um torresminho do mar.

Truta da Patagônia

Para finalizar, não poderia deixar de provar o suflê de chocolate, já que estávamos em um restaurante francês. Inclusive, na hora dos pedidos eles já nos avisaram que deveríamos pedir o suflê com antecedência, devido ao tempo de preparo. Mesmo que tivéssemos que esperar os 30 minutos do preparo após o fim da refeição, teria valido à pena. Fofíssimo, o suflê era visivelmente feito com chocolate de primeira, intenso e com pouco açúcar, do jeito que eu gosto. Uma bolinha de sorvete servia para brincar de quente-e-frio, ainda mais com o creme fumegante que fora colcado no interior do doce, à nossa frente. Sublime, atestando que o Le Sud é um autêntico francês.

Gran finale!

Os valores não são nada exorbitantes, entradas em torno de 40 pesos (cerca de 20 reais), principais em torno de 80 pesos (cerca de 40 reais) e o suflê saiu por 50 pesos (25 reais).

Ao final do jantar, o restaurante já contava com umas 10 mesas ocupadas, o que nos deixou aliviadas, afinal de contas, a cozinha merecia créditos. Saímos satisfeitas, com a sensação de que encontramos mais um bom lugar em meio a tantas ótimas opções na capital portenha.

Le Sud - Hotel Sofitel
Arroyo 841 , BUENOS AIRES, ARGENTINA

Mais Olho Que Barriga na mídia

Pessoal, antes de continuar postando sobre os restaurantes de Buenos Aires, segue o link da entrevista sobre o blog que concedi a um portal de Piracicaba - para quem se interessar, é claro!

http://www.grupoempresariospiracicaba.com.br/2010/11/mais-olho-que-barriga-mari-colari-radar.html

Já volto com um post bacana!
Um abraço,

Mari Corali

domingo, 24 de outubro de 2010

A farra portenha - Parte 1: El Bistro

Bom, mamãe fez aniversário de XX anos (se eu revelar a idade ela me mata) e quis comemorar em Buenos Aires, então ao invés de arrumar as malas, preferi passar a mão no telefone e fazer algumas reservas para garantir que a viagem seria uma verdadeira esbórnia enogastronômica.

Minha primeira ligação foi para El Bistro, um restaurante de alta gastronomia que fica dentro do Hotel Faena, uma belíssima construção que antes abrigava um silo e que hoje é um dos melhores hotéis da capital portenha, na região de Puerto Madero. O chef é o jovem Mariano Cid De La Paz, pupilo e queridinho de Ferran Adriá, que parece ter aprendido com o mestre como ser excêntrico e, ao mesmo tempo, genial na cozinha. A experiência toda foi magnífica, desde a entrada no hotel, cuja decoração Belle Époque de cair o queixo tem a assinatura do grande Philippe Starck, com ambientes espantosos e decoração exótica. O próprio El Bistro é de um exotismo a parte, com decoração predominantemente branca, alguns detalhes em vermelho e cabeças de unicórnio nas paredes (!)...

Parece até obra do cineasta Tim Burton, mas é Philippe Starck mesmo...

Eu achei meio perturbador o lance das cabeças de unicórnio, mamãe achou bonito

Passado o momento de contemplação, acomodadas em um sofá de couro (branco, obviamente), perguntei à nossa atendente sobre o menú degustação - pelo qual eu estava assanhadíssima para conhecer - mas ela disse não poder dizer a relação dos pratos, pois o chef simplesmente faria o que tivesse vontade. Oi? Tudo bem que o chef é dos bons e eu como de tudo, mas mamãe tem várias restrições alimentares e eu não poderia deixar que nosso jantar fosse arruinado por uma sequência de pratos que ela não gostasse (afinal de contas, a aniversariante era ela!). Daí que, mais olho que barriga que sou, disse que eu iria de menú degustação, enquanto minha mãe pediria à la carte, mas a atendente nos disse ser impossível, pois o menú só poderia ser servido para todos da mesa. Nessa hora, mamãe quase se levantou para sentar sozinha em outra mesa, assim eu poderia pedir o menú degustação, mas resolvemos de uma forma mais pacífica, criando nossa própria degustação a partir das opções do cardápio. Cada uma pediria duas entradas, um prato principal e uma sobremesa, e faríamos o bom e velho troca-troca de pratos na mesa.

Até então, a sommelier nem tinha dado as caras, acho que ela estava mais afim de fazer suas indicações para os que escolheram agradar o chef e pedir o menú degustação, mas mesmo assim não tivemos dificuldade nenhuma para escolher nosso vinho da carta que, te tão grande, mais parecia um catálogo telefônico. Ela só resolveu dar as caras na nossa mesa quando teve que inventar uma boa desculpa para nos dizer que nossa opção não estava disponível e para sugerir outra à altura, que aceitamos sem fazer caso.

Para as entradas, minhas escolhas foram o confit de pato em seu próprio caldo de cozimento e lagostins com curry vermelho. Mamãe pediu uma sopa de alcachofra com ovo cozido em baixa temperatura e um carpaccio de shitake com capelettis de pistache.

Enquanto aguardávamos os pratos, alguns petiscos nos entretinham: muffin de azeitonas pretas - inusitado, mas muito saboroso - torrões de gergelim e um "shot" que não consegui definir exatamente do que era, mas tinha algo alcóolico.

Muffin de azeitonas campeão!

Na sequência, nos serviram uma sopa/espuma de cenoura com geléia de grape fruit (ou pômelo rosado) cuja textura era supreendente, semelhante a uma mousse, porém muito mais leve.

Amuse bouche de primeira

Primeiro vieram o confit de pato e a sopa de alcachofras. Lógico que cresci o olho para a sopa, mas o pato estava tão perfumado, aroma este proveniente de um espesso caldo que foi derramado em volta da carne bem na minha frente, que logo voltei minha atenção para o meu prato. A carne, muito macia, era desfiada e derretia na boca, junto com o caldo de sabor intenso. Como minha mãe não parava de vibrar com a sopa, tive que experimentar antes de trocarmos os pratos e quase me arrependi de não ter pedido uma só para mim. Não que o pato não estivesse sublime, mas a sopa era pra lá de especial, com nacos macios de fundo de alcachofra e um ovo gelatinoso no meio do prato, cuja gema espalhava sua cor dourada a cada colheirada.

Alguém me dá uma colher para raspar todo esse caldo, por favor?

"Zóião" com pompa no meio da sopa

Passado o alvoroço das entradas, mais entradas: lagostins com curry vermelho e ninhos de rice noodles bem fininhos e carpaccio de shitake com mini-capeletti de pistache. Como mamãe não gosta dos amigos do mar, poderia ficar com todos os pequenos "artrópodes" (momento biologia) só pra mim, mas é claro que eu não abriria mão daquelas lindas lâminas de shitake... os lagostins eram frios, mas estouravam na boca de tão tenros. O curry vermelho, que costuma ser bem picante, acrescentou pungência ao prato. Já o carpaccio de shitake era o oposto, delicado, quase etéreo. As lâminas eram bem fininhas, mas assim mesmo dava para sentir a textura carnuda do cogumelo. Os capeletti de pistache eram bem pequenos, mas davam uma certa "sustância" ao prato.

Ainda bem que esse eu não tive que dividir...

... e ainda "roubei" do prato da mamãe

A esta altura, não poderíamos esperar nada que não fosse delicioso saindo da cozinha do jovem chef. Quando bati os olhos no menú e vi que ele fazia o leitãozinho confitado, cozido por horas até sua carne praticamente derreter, não tive dúvidas do que iria pedir. Havia opções bastante exóticas, como coelho e javali, mas este porquinho já habitava minha mente desde a abertura do Dalva e Dito, em SP, com o tal do "porco na lata". Mamãe foi de filé mignon mesmo, cheia de receio de provar algo mais "excêntrico".

O porquinho não era o que eu imaginava... era melhor. Sob uma camada de pele fininha e crocante e outra camada de gordura com textura cremosa, escondia-se a melhor carne de porco que já provei até hoje - e olha que já comi muito joelho de porco dos bons quando morei em Munique - mas esse leitãozinho superou qualquer experiência anterior. A textura da carne rosadíssima, combinada com o sabor que só uma boa dose de gordura pode oferecer, ofereciam garfadas de prazer, uma atrás da outra. Tanto é que nem liguei muito para a marmelada que servia de acompanhamento, concentrando-me somente naquele pedaço de paraíso porcoso.

Eu poderia comer isso todos os dias, sem enjoar...

Os filés eram bons, altíssimos e no ponto certo do pedido, mas nada de especial. Talvez porque, dentre tantas opções interessantes no cardápio, não consigo achar um filé mignon atraente em nenhum aspecto, mesmo amando carne vermelha. Mas uma coisa é fato: a porção era enorme!



Após tão criativo banquete, não poderíamos nos despedir do El Bistro sem provar uma sobremesa, cujas opções eram tão inusitadas quanto os pratos do menú. Mamãe, em um ato de quase-ousadia, escolheu o creme de chá verde, acompanhado de espuma de sei lá o quê e crisp de alga marinha. Agora foi minha vez de ser um pouco mais "conservadora" no pedido e fiquei com a sopa de chocolate, acompanhada de mini flans de baunilha e chocolate (sim, flans, tipo aqueles da infância, quando era preciso virar o copinho pra baixo e quebrar um pininho que deixava o ar entrar e o flan escorria no prato). Enquanto esperávamos, mais uma gentileza: copinho de ruibarbo (!) com flocos gelados de pômelo rosado.

Só descobri que era ruibarbo quando a atendente nos explicou, porque pra mim, tinha gosto de doce de banana!

As sobremesas também tinham seu ritual: a sopa de chocolate foi derramada fumegante sobre os mini flans, preenchendo os espaços do prato, algo semelhante a lava de vulcão, de tão quente que estava... o tal creme de chá verde parecia uma escultura de arte moderna, a montagem era linda. Faltava saber se era gostoso, então provamos: o creme em si era bem espesso, firme, mas não incomodava. Já a espuma de sei lá o quê era fantástica e o conjunto todo se mostrou espetacular, não só pelo sabor, mas também pelo interessante contraste de texturas.



A sopa era muito boa, mas de duas, uma: ou eu tinha maiores expectativas quanto ao excelente chocolate argentino, ou eu já estava no momento "mais olho que barriga" quando pedi a sobremesa, não aguentando ver mais nada na minha frente. Acontece que não achei a sopa tão boa quanto tudo o que a precedeu, mas ainda sim não deixei um mini flan sequer no prato...

Flans que lembravam a infância

O melhor de tudo é que, mesmo um restaurante considerado caro na capital portenha, tem um preço convidativo para os brasileiros, se tomarmos como referência os valores de menú degustação que encontramos por aqui, além da paridade entre peso e real. Nosso banquete, incluindo o vinho, saiu por menos de mil pesos, o equivalente a 500 reais. Vale lembrar que pedimos duas entradas cada, além de um vinho de 200 pesos (100 reais). Digo que valeu muitíssimo à pena, não só pelo jantar magnífico, mas também pela sensação de ter chegado pertinho de Ferran Adriá, nem que tenha sido através de seu pupilo Mariano Cid de La Paz.

El Bistro - Faena Hotel e Universidade
www.faenahotelanduniverse.com

Em breve, as próximas partes da farra portenha: 2 - Le Sud; 3 - San Babila; 4 - La Estancia

sábado, 23 de outubro de 2010

Circuito off-Campinas: "Navegando" pelo rio Piracicaba

*Desculpem-me pelas fotos de celular, mas melhor que postar sem fotos!

Em um domingo ensolarado, aceitamos um convite para almoçar em Piracicaba, cidade que fica a 45 minutos de Campinas e que eu, particularmente, adoro. Com aquela atmosfera de interior, seus deliciosos restaurantes à beira do rio Piracicaba me encantam, não só pelo lugar, mas pelos ótimos peixes da Amazônia e o famoso cuscuz da cidade, super cremoso. Mas desta vez o convite foi para conhecer um restaurante que não fica na conhecida Rua do Porto, mas sim um pouco mais adiante, na margem oposta do rio, chamado Navegantes.

O clima já era propício para um bom peixe, ainda mais em um ambiente extremamente agradável, bastante arborizado e acolhedor. Chegamos por volta das 13h e o lugar estava lotado, mas meu tio já nos aguardava em nossa mesa, com um geladíssimo vinho da uva Torrontés, que desceu maravilhosamente bem durante toda a refeição.
No cardápio, inúmeras opções de peixes e frutos do mar, inclusive bacalhau e paella, mas sem descuidar das opções que não contemplavam os amigos do mar, como boas pedidas de carnes.

O couvert conta com mariscos fresquíssimos, nadando em bom azeite e tempero elaborado. Das opções do cardápio, cresci os olhos gulosos para os peixes da Amazônia, em particular o pirarucu e o filé de pintado grelhado. Como não poderia pedir os dois, empurrei uma das opções para o maridão, que não reclamou da imposição. Os demais comensais pediram peixes também, sendo o badejo em versões bem distintas: uma delas denominada Caiçara, acompanhado de farofa de camarões, palmito pupunha grelhado, regados ao molho de azeite, alho, limão e pimenta de cheiro; o outro, flambado no whisky, acompanhado de risotto de shimeji e maçãs assadas. Apenas uma pessoa pediu carne, no caso um filé mignon Dijonnaise, acompanhado de batatas Rosti.

Um pratinho só pra mim

A apresentação dos pratos era belíssima e as porções fartas, não só no quesito acompanhamentos, mas os peixes eram grandes também. Vamos à descrição dos pratos:

O filé de pintado era grelhado, acompanhado de farofa de côco e banana grelhada. O peixe, de carne bem clara e sem espinhas, era muito tenro e saboroso. A farofa de côco tinha lascas de côco fresco, o que conferia ao prato um interessante contraste de textura e sabores também. Isso sem falar das bananas, que não eram meras coadjuvantes.

Depois dizem que peixe de rio não é bom...

O pirarucu era enorme, acompanhado de um delicioso pirão e molho de tomates frescos. A carne era extremamente saborosa e macia, com a grande vantagem de não ter espinhas. O pirarucu é o maior peixe de escamas de água doce, um ícone da Amazônia e não poderia ter sido melhor preparado.

E os americanos ainda querem tirar a Amazônia da gente...


O badejo caiçara também veio imponente, em um belo pedaço de carne branca e brilhante. A farofa de camarão conferia textura ao prato, enquanto o pupunha grelhado dava leveza. Com uma boa pimentinha, o prato estava divino na opinião de quem comeu (lógico que eu experimentei para conferir e endosso o veredicto!).

Badejo em versão brasuca...

Já a versão "alpina" do peixe, com maçãs assadas e risotto de shimeji, estava tão boa quanto à versão brasuca. O peixe era basicamente o mesmo, mas que belo risotto o acompanhava! No ponto correto de cozimento, era suave mas sem ser insosso, muito delicado e saboroso. As maçãs também contribuíram para a leveza do prato, tudo muito harmônico.

... e em versão "alpina"

Os filés vieram em dois gordos medalhões, no ponto perfeito e com bastante molho de Dijon. As batatas Rosti eram um espetáculo à parte, pareciam um "fetuccini" de batatas, em enorme quantidade!

Não é só de peixe que vive o Navegantes!

Depois de tanto peixe e vinho, somente alguns corajosos pediram sobremesa. A única parte triste foi que a famosa pamonha de Piracicaba, em versão miniatura, tinha "acabado de acabar". Mamãe ficou frustradíssima, pois estava louca para provar as três versões, com melado perfumado e cachaça orgânica, mel silvestre e raspas de laranja e com sorvete de côco e farofa de canela. Uma pena, pois realmente são as estrelas do cardápio de sobremesas. Contudo, o creme brûlée estava digno dos melhores franceses...

Como eu já tinha "pecado" durante toda a refeição, tomei vergonha na cara e não pedi sobremesa. Maaaas, como cortesia, o cafezinho veio com uma "pequena" montanha de chantilly, que eu não me atrevi a recusar e mandei ver!

Quanta gentileza...

A média de valores de todos os pratos que citamos aqui varia de 35 a 40 reais. O couvert é opcional e sai por 7,20 por pessoa, mas só pelos deliciosos mariscos, vale à pena.

Além da ótima cozinha, o Navegantes oferece algo que não consta no cardápio, mas que faz toda diferença: a linda paisagem, com um belo trecho do rio Piracicaba e sua rica vegetação do entorno, o que tornam a experiência gastronômica um passeio diferente, longe do trivial da cidade...







Navegantes Cozinha do Mediterrâneo - Piracicaba
www.navegantesrestaurante.com.br

P.S.: acabei de voltar de uma pequena viagem a Buenos Aires que se converteu em verdadeira esbórnia gastronômica, a ser narrada em breve aqui no blog, aguardem...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Mais do mesmo: o "deja vu" das cantinas

Alô? Alguém por aqui? Pessoal, desculpem pelo sumiço, mas este blog exige uma boa dose de dedicação para que seja feito conforme a premissa e, ultimamente, não tenho conseguido o tempo necessário para me dedicar a ele tanto quanto eu gostaria... acontece que nas poucas horas livres que têm me restado nos últimos dias, acabo pedindo comida em casa ou indo aos lugares nos quais não terei surpresas, mas dos quais já falei por aqui, então prefiro não chover no molhado.
Inclusive, em prol de expandir o conteúdo do blog, na semana passada recebemos visitas de Sampa que pediram para ir a uma cantina, mas ao invés de levá-los ao sempre certeiro Fellini, decidi que iria experimentar um lugar até então desconhecido por mim: Cantina Brunelli.

Perdi as contas de quantas vezes, ao passar pela Júlio de Mesquita, olhei para este restaurante e me perguntei por que nunca tinha ido lá ou ouvido alguém falar dele, já que está ali há tantos anos, no mesmo lugar. Fato é que a gente acaba se "viciando" em certos lugares e não abre a mente para novas experiências, mesmo que seja para saber que não vale a pena voltar.

Já passava das três da tarde quando chegamos ao local e, mesmo com o adiantado da hora, fomos muito bem recebidos. O ambiente é típico de cantina, com pequenas salas divididas por passagens em arco, garrafas pendendo do teto e muitas fotografias nas paredes. Assim como o couvert, com a sempre presente cestinha de pães italianos e de ervas, além da manteiga em bolinhas, azeitonas pretas, sardela e patê de ricota.

Salão típico

Couvert típico também...

Ao me deparar com as opções do menú, pude perceber que as semelhanças entre as cantinas causam um certo tédio na hora da escolha dos pratos, porque não há nada ali que surpreenda ou cause uma expectativa para saborear algo novo ou inusitado. Lógico que uma cantina deve seguir um "script" para que seja classificada como tal, mas talvez a inclusão de pratos inusitados e/ou criativos possa render um crédito ao estabelecimento que o diferencie dos demais na hora da escolha do restaurante.

Já ia escolhendo meu prato, o mesmo que gosto de pedir no Fellini e que utilizei como referência para avaliar o Artesanalli, mas me detive pois encontrei um outro peixe que me pareceu novidade nas cantinas: Filé de truta com creme de limão siciliano, acompanhado de risoto de limão siciliano. Já me animei por ter feito uma escolha menos "standard" e por sentir aquela expectativa gostosa por saborear um prato que poderia sim me surpreender.

Os demais pediram massas, como o fetuccine com molho de tomates e calabresa, o polpetone com fetuccine na manteiga e um agnoloti recheado com ricota, nozes e passas, gratinado ao molho branco. A carta de vinhos não nos pareceu muito variada, com opções de rótulos um tanto quanto restritas e poucos com boa relação custo x benefício.

Quando os pratos chegaram, pude notar que as porções variavam entre generosas e nem tão generosas, pois as massas vieram em boa quantidade, mas meu peixe veio em um filé um tanto quanto "magro" demais, mais semelhante a uma porção de almoço executivo e não de um prato cujo valor é de 35 reais. O agnoloti era para duas pessoas e veio em uma grande cumbuca de barro. O polpetone era grande e a quantidade de massa era farta. O fetuccine com calabresa veio em um prato fundo não muito grande, mas que foi suficiente para a fome do maridão (que, diga-se de passagem, come bem menos que eu...).

Sobre o peixe, o filé de truta estava saboroso e tenro, mas no limite do ponto de cozimento, um minuto a mais o deixaria ressecado. O creme de limão siciliano poderia levar um pouco mais do caldo do limão e não somente as raspas da casca, o que daria mais personalidade ao prato. Já o risoto não deveria ser chamado de risoto, já que não era feito com arroz arbóreo ou carnaroli, mas sim com o arroz normal. Na minha opinião, um restaurante italiano, seja cantina, trattoria, osteria, ou qualquer outra derivação, tem por obrigação moral utilizar o arroz correto para um risoto. Ou então, que não chame de risoto no cardápio, porque pra mim, isso pega bem mal.

Meu peixin magrin...

Quanto às massas, todas estavam boas, mas o destaque foi a de calabresa, que combinava perfeitamente com o molho de tomates e tinha pimenta na quantidade ideal. O polpetone estava bem gostoso, com bom equilíbrio de carne e queijo, mas na minha opinião, a massa deveria ter um belo molho sugo, para contribuir com a rusticidade do prato. O fetuccini na manteiga torna-se muito leve para um polpetone imponente, que parece meio "abandonado" no prato sem a companhia dos tomates. O agnoloti estava excelente, leve, apesar do molho branco abundante, porém nada enjoativo. O ponto de cozimento da massa estava corretíssimo e a combinação da ricota com nozes e passas deixou tudo mais suave e delicado.

A boa pedida: massa com calabresa

Olha ai o polpetone reinando absoluto...

Agnolotti

De sobremesa, um petit gateau (que estava mais para grand gateau), acompanhado de sorvete e chantilly, fez a alegria da mesa inteira. Naquele momento, sem poder afogar as mágoas em um bom doce (sim, momento detox), só conseguia pensar que até a sobremesa me parecia mais farta que meu prato.

Petit era meu peixe, esse gateau era grand...

Quanto aos preços, as massas variam bastante conforme os ingredientes, mas pode-se dizer que o valor de um prato individual gira em torno de 30 reais, quanto um prato para duas pessoas varia entre 50 e 60 reais. Peixes e pratos com frutos do mar são mais caros, em torno de 35-50 reais.

Em suma, a Cantina Brunelli me parece que já conquistou uma clientela fiel, que se mostra satisfeita com o que é oferecido pelo restaurante, sem a intenção de inovar ou surpreender. Mas para o caso de novos clientes, pessoas que assim como eu buscam novas alternativas para um segmento que tem bons representantes na cidade, fica aquela sensação de deja vu...



Cantina Brunelli
Avenida Júlio de Mesquita, 1057
Telefone: 3325-9500

domingo, 19 de setembro de 2010

Lellis Trattoria: boa briga na cidade



Mais de dez anos depois de expandir suas atividades para Curitiba, esta tradicional cantina de São Paulo escolheu Campinas para abrigar sua nova casa, com ambientes e cardápio idênticos aos da casa-mãe. Se este blog tivesse foco nos restaurantes da capital, talvez eu não estivesse escrevendo sobre o Lellis, já que o restaurante é velho conhecido dos paulistanos, assim como seu dono, o baiano João Lellis, cuja carreira teve início no imortal Giggeto da rua Avanhandava. Mas achei que seria interessante dedicar um post ao mais novo concorrente da cidade no quesito "cantina italiana", pois parece que a briga vai ser boa...



Com um cardápio extenso, que inclui uma infinidade de opções da massas, molhos, carnes e peixes, a carta de vinhos impressiona com seus 230 rótulos. O atendimento é extremamente atencioso, deixando até dúvida se a equipe não teria sido trazida da matriz paulistana, além do serviço de manobrista como cortesia - algo que deveria ser padrão para os restaurantes da cidade.

Sobre o cardápio, nada que fuja do script de uma cantina, com massas rústicas e porções fartas. Aliás, todas as porções são para duas pessoas, sendo que o valor cobrado por meia porção corresponde à 60% do preço no cardápio, talvez um pouco injusto para as mesas com número ímpar de ocupantes. Inclusive, estávamos em 7 e um dos pratos teve que ser meia porção. O que me deixou entusiasmada mesmo foram as mais de 30 opções de antepastos, dentre elas alcachofras, camarões, berinjelas, pimentões... decidi que na minha próxima visita ao Lellis, ficarei só nos antepastos, acompanhandos de um bom vinho, claro.

Infinidade de antepastos

O couvert, com deliciosas berinjelas assadas, azeitonas chilenas carnudas e sardella saborosíssima, além dos pães frecos e torradas de alho.

Para a escolha dos pratos, acabei dividindo o meu com uma amiga que também está num momento "detox" e topou pedir um linguado grelhado com espinafre. O maridão dividiu um cappelletti de carne ao mulho de tomates e funghi e os demais comensais pediram fusilli à napolitana com calabresa e filé ao molho madeira com tagliarini aos quatro queijos. Os pedidos vieram rápido e sim, as porções são mesmo fartas.

O linguado

Infelizmente, o peixe estava passado demais, fazendo com que as partes mais finas da carne ficassem muito ressecadas. Gosto muito de linguado por ser um peixe delicado, de carne brilhante e macia, mas o ponto errado acaba anulando estas características. E de todos os pratos, o peixe foi o que veio em menor quantidade, contrastando com o exagero das demais porções.



O cappelletti

Se fosse eu, não teria pedido o molho de funghi com tomates, já que acho que são dois elementos de personalidade rivalizando entre si, sem que nenhum se sobressaia. Mas na opinião de quem comeu, o molho estava gostoso, com cogumelos carnudos e macios e acidez no ponto certo. A massa estava al dente, mas sem incomodar. Na minha opinião, os cappelletti poderiam ser menores e mais delicados, mas essa definitivamente não é uma característica da cozinha do Lellis.



O fusilli

Este foi o prato cuja porção era individual, mas quem comeu ficou satisfeito e ainda sobrou. A massa estava no ponto certo e o molho era muito saboroso, com a feliz combinação de calabresa com tomates. Apesar da espessura do fusilli, não ficou pesado nem "massudo".



O filé com tagliarini

Ao fazer o pedido, o garçom não perguntou o ponto da carne nem o pessoal se lembrou de mencionar, então não podiam reclamar dos filés bem-passados. Se fosse eu, antes mesmo de pedir a carne já falaria do ponto, pois não consigo comer nada que não seja mal-passado. Mas na opinião de quem comeu, o sabor era bom, mas a textura da carne bem-passada comprometia sua maciez. Já o tagliarini nos deu a impressão de estar muito cozido, mas tal impressão era mais por causa do molho de queijos, que deixava tudo meio "grudento" - porém gostoso.



Pelo que pudemos perceber, praticamente todas as mesas ocupadas estavam comemorando aniversários, o que nos forçou a ouvir a canção de parabéns tocada pelos músicos presentes umas 10 vezes. Mas como nós também estávamos lá pelo mesmo ensejo, entramos no clima e cantamos juntos. A única ressalva é que os músicos não vieram até nossa mesa prestigiar o comensal aniversariante e, por isso, fizemos nós mesmos a cantoria, o que provocou um certo mal-estar entre os funcionários e os músicos. No final das contas, os músicos se redimiram com um pout pourri das mais animadas canções italianas de cantina.

O que podemos dizer é que trata-se de um restaurante para inúmeras ocasiões, com opções para todos os gostos, televisões espalhadas pelo amplo salão, sala de espera com serviço de bar e preço dentro dos padrões. Em uma quinta-feira à noite, várias mesas estavam ocupadas por casais, famílias com filhos, grupos de amigos... não há uma definição de público, mas fiquei feliz em ver um casal entrar depois das dez e meia da noite e ser atendido da mesma forma, o que não acontece sempre em outros restaurantes de mentalidade provinciana que vemos por aí. Talvez seja o jeito de trabalhar aprendido por João Lellis nesses quase 50 anos de estrada.



Lellis Trattoria - Campinas
www.lelliscampinas.com.br