sábado, 29 de maio de 2010

Per Se: o apogeu gastronômico deste blog

Estou há exatos 7 dias pensando em como escrever este post, matutando como poderei transmitir, através de palavras e fotos, a experiência magnífica que tivemos neste restaurante, considerado um dos melhores do mundo por inúmeras publicações. Por diversas vezes, tive receio de que meu texto não estivesse à altura da descrição que esta refeição merece, mas acho que estou pronta para colocar em palavras tudo o que sentimos naquela ocasião tão especial que foi nosso almoço no Per Se.

Pra começo de conversa, uma reserva no Per Se é algo dificílimo, pois a "janela" de dois meses de antecedência que eles abrem para reservas costuma estar sempre lotada, principalmente no almoço, pois além da belíssima vista para o Central Park, há também a opção de um menú mais enxuto, por um preço um pouco menor (US$ 175 por cinco pratos). Apesar de já estar conformada com a possibilidade de não conhecer o Per Se nesta viagem, não perdi a esperança e entrei no site do Open Table insistentemente, até que um milagre aconteceu: uma mesa para 4, disponível para às 13h do sábado, quando estaríamos lá. Era pegar ou largar e, neste caso, pegar significava não somente reservar online, mas também registrar meu cartão de crédito para o caso de um no-show que nos custaria US$ 275. Com a confirmação da reserva, vieram também as instruções de como chegar no local, com coordenadas exatas como qual entrada e elevador deveriam ser utilizados. Além disso, a exigência por um dress code que incluía paletó para os rapazes e proibia jeans ou tênis.

Com nosso "mapa do tesouro" em mãos, rumamos para o Columbus Circle e seguimos as instruções para chegar ao templo gastronômico do Thomas Keller, o único chef americano a ter dois estabelecimentos classificados com 3 estrelas no guia Michelin. Tudo no Per Se é grandioso, desde a entrada, por onde já se pode vislumbrar uma das vistas mais lindas de Manhattan, mas sem nenhuma afetação. A sobriedade da decoração se estende ao comportamento do staff, sempre discretos mas muito corteses, como se atendessem a todos da mesma forma. Nada daquele tom blasé tão comum em alguns restaurantes famosos daqui, nos quais a gente se sente até mal por tamanha distinção feita pelos atendentes entre os habitués e famosos dos demais (que, inclusive, estão pagando o mesmo para estar ali).

O maitre nos explicou sobre as opções de menu e nos deu tempo para decidirmos. Como minha mãe tem várias restrições alimentares, ela optou pelo menu de vegetais, com 9 pratos, além das sobremesas. Como meu irmão, o maridão e eu optamos pelo menu de 5 pratos, o maitre nos disse que teríamos que esperar em algumas ocasiões, já que o menu de vegetais teria mais pratos, mas isto não nos incomodaria de maneira alguma, pois estávamos preparados para uma longa e prazeirosa experiência.

Escolhas feitas, teve início o mais fantástico desfile de iguarias que já vimos. Para começar, um mimo oferecido pelo chef: o cone de salmão, que se tornou marca registrada do Thomas Keller, além do cone do menu de vegetais que não me lembro ao certo do que era - aqui vale uma ressalva: foram tantos pratos e tantas explicações que não vou me lembrar de tudo, mesmo porque não estava disposta a ficar anotando nada, por isso peço desculpas por não descrever tudo no detalhe.

Signature Dish

Após abrir nossos paladares com os cones, recebemos outro mimo (digo mimo porque não fazem parte dos pratos do menú, são extras): bolinhas de queijo fontina em fina camada crocante. Deu vontade de falar "garçom, mais uma porção deste aqui, por favor", mas a intenção é essa mesmo, quando você coloca na boca, vê que é delicioso e anseia por mais, mas logo em seguida já vem outra coisa para surpreender o paladar, de uma maneira nova, com texturas e sabores diferentes, explorando ao máximo nossos sentidos.



Até então, nem lembrávamos que ainda teríamos os pães pela frente, mas até isso tem seu ritual próprio: o primeiro pãozinho (e o melhor de todos) tinha uma camada externa finíssima e crocante, com o interior que lembrava a textura de um pão de queijo, porém muito mais leve e aerado. Para acompanhar, duo de manteigas: uma sem sal, da Califórnia, e outra com sal, de Vermont.

Até pão-com-manteiga no Per Se deixa de ser simplesmente pão-com-manteiga.

Antes que pudéssemos sentir falta de mais um pãozinho, vieram as entradas. A minha e do maridão era a mesma, um Tartare de Atum de um tipo de "raspadinha" de limão, que a cada garfada derretia na boca e dava sabor aos pequenos cubinhos do peixe fresquíssimo. A do meu irmão era uma terrine de algo que não sabemos ao certo, mas a estrela do prato era um tipo de geléia de trufas brancas, cuja potência de sabor era altíssima, aromatizando tudo o que havia no prato, mas sem passar do ponto. A entrada do menú de vegetais era simples, mas para vegetais, simplicidade pode significar algo dificílimo de se fazer: devolver um sabor único e autêntico a um alimento que, normalmente, é coadjuvante de outros, devolvendo a ele o status de protagonista (e é justamente isso que o Thomas Keller faz neste menú de vegetais).

O Tartare de Atum, com cubinhos cortados minuciosamente e raspadinha de limão.

A Terrine e sua geléia de trufas.

Vegetais cozidos "em geléia" com croûtons.

Depois das entradas, mais entradas! Para nós três, mousse de aspargos com pepino glaceado. Para mamãe, prato de vegetais.

Fica difícil lembrar de todos os ingredientes, mas esta é a "mousse" de aspargos" (e nem adianta querer olhar no menu da internet, porque eles mudam diariamente e um determinado prato pode não constar mais).

"Amostra de Vegetais" é o nome deste aqui, que por mais prosaico que pareça, seus sabores e texturas eram surpreendentes.

Não nos cansávamos de comentar nossas impressões sobre os pratos, nem de contemplar a bela vista que tínhamos ali, bem na nossa frente, pelo tempo que nossa permanência ali nos permitiria.

Parecia que todo o caos da cidade estava muito distante de nós que, inevitavelmente, sentíamo-nos acima de tudo, literalmente.

Enquanto mais um prato do menú de vegetais era servido, nossa gentil atendente nos oferecia mais pães, explicando minuciosamente as características de cada um. Isso sem mencionar que a cada prato servido, independente de ser para todos da mesa ou só para um de nós, tanto a louça quanto talheres eram dispostos da mesma forma para cada um e retirados em seguida para que outro prato viesse. Vale ressaltar que o serviço do Per Se merece tanto mérito quanto a comida, pois é de uma primazia que jamais encontrei em nenhum outro lugar.

Tipo de wrap de vegetais, com recheio cremoso.

Nas opções de principais, nós 3 escolhemos lagosta, mas divergimos no segundo prato: escolhi o pato e os meninos foram de vitela. No menú de vegetais, uma dupla de croquetes de feijão "garbanzo" e um agnoloti feito de cogumelos e ervilha torta com recheio de ricota defumada do Brooklyn.

Ainda bem que escolhemos a lagosta, porque estava sublime, a cada garfada um suspiro de prazer.

Croquetes de feijão, com um toque perfeito de coentro (eu sou da turma que defende o uso do coentro, com parcimônia, claro).

O peito de pato que, além do sabor divino, tinha uma casquinha por fora que parecia um torresmo bem fininho. O foie gras que acompanhava era grelhado, com exterior crocante e interior muito cremoso mas de textura leve, quase aerado.

A vitela, assim que sai do forno, é trazida para apreciação dos comensais, antes de ser fatiada e servida no prato.

Para acompanhar a vitela, diferentes versões de cebolas grelhadas.

A massa de vegetais com recheio de ricota defumada do Brooklyn (origem que eles fizeram questão de ressaltar na explicação do prato).

Após tamanho deleite, só nos restava ansiar por uma sobremesa à altura de tudo o que havia sido nos oferecido até então. Mas nossas expectativas com relação ao término da refeição estavam erradas, pelo menos em termos de quantidade.

Para abrir nosso paladar para os sabores doces, um sorbet de morango com creme gelado de mascarpone, cubinhos de morango e farofinha. No menú de vegetais, um chocolate trufado cremoso, em forma de sorvete, com copinho de zambaione e pão de ló.

Simples e saboroso como um sorbet deve ser.

Apenas o começo do fim, a primeira das sobremesas.

Prontos para sabores mais complexos, nossa sobremesa era descrita apenas como "copinho de manteiga de amendoim", mas era bem mais que isso: além do aspecto estético belíssimo, o amendoim apresentava-se em três diferentes versões e texturas. O sorvete, cremoso e doce no ponto certo; o creme de amendoim dentro do copinho de chocolate, leve e aveludado; e o rolinho de amendoim com chocolate, que lembrava de longe uma paçoquinha, porém muito mais leve e saborosa. A base era um bolinho de chocolate com amendoim.

Pequena obra-de-arte

A segunda sobremesa do menu de vegetais era ainda mais bela que a nossa. Também pudera, com o nome de "Trinity and Hearts", era constituída de geléia de ruibarbo, Bavarois de iogurte e pétalas de rosas cristalizadas, com sorbet de iogurte aromatizado com rosas.

Se alguém aí estiver pensando em pedir a mão da amada no Per Se, sugiro fazê-lo no momento que chegar esta sobremesa... tem coisa mais linda?

Foi nesta hora que percebemos que havíamos errado em nossas previsões, porque o que se seguiu deste ponto em diante foi uma interminável enxurrada de doces, que culminou com um pedido de socorro por parte de nossos fígados. Vejam a sequência:

Chocolates gourmet: o da esquerda era branco e levava curry, o da direita era 70% cacau.

Frozen capuccino com bombons de sorvete, cobertos por finíssima camada de chocolate.

Três andares de doces: no primeiro, trufas; no segundo, macarons; no terceiro, balinhas de doce de leite.

A esta altura, até nossos discretíssimos atendentes estavam rindo, não só da nossa descrença devido à interminável oferta de doces, mas também da nossa gula, que não negávamos um docinho sequer...

O café era só um pretexto para ficar mais um pouquinho ali.

Finalmente, mas não sem nos deixar à vontade para ficarmos ali o quanto quiséssemos, o maitre nos trouxe a conta, com lembrancinhas para que pudéssemos levar um pedacinho daquela experiência única para casa.

Carreguei meu pacotinho como um troféu, pelos mais de 20 quarteirões que separavam Columbus Circle de Murray Hill, com uma sensação de estar caminhando nas nuvens, como se o que acabara de acontecer naquele restaurante tivesse me modificado de alguma forma, para sempre.

Per Se
www.perseny.com
10 Columbus Circle (at 60th Str.)
4th floor
Manhattan, New York
212 823-9335

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Em Manhattan, vá de Keith McNally - não tem erro!

Quando se fala em NY, é impossível definir uma lista enxuta de bons restaurantes para conhecer na cidade. As boas opções são infinitas e chega a dar uma angústia na hora de definir quais escolher para o determinado número de dias da viagem. Mas uma coisa é certa: assim que marcar sua passagem, defina e reserve. Isso porque os bons restaurantes de Manhattan são competidíssimos, com listas de espera para reservas e dificilmente aceitam "walk ins", ou seja, quem chega sem reserva e quer uma mesa (aceitar eles até aceitam, mas a espera pode ser de horas e podem te colocar para jantar no balcão do bar).

Uma boa dica é o site www.opentable.com , que permite reservar online para a maioria dos restaurantes da cidade, com confirmação por e-mail, tudo muito simples e rápido. Mas para os que não estão disponíveis no site, não tem jeito mesmo, é passar a mão no telefone e gastar uns trocados a mais com ligações internacionais.

Foi este o caso quando optei pelo Minetta Tavern e Morandi, dois restaurantes do fenômeno chamado Keith McNally. Fenômeno porque o cara consegue abrir lugares em Manhattan que, além de se tornarem hot spots imediatos, são sucesso absoluto de críticas e duram por anos, o que é tarefa dificílima em uma cidade como NY. Além do faro para o que "pega", ele foi o responsável por dar fama a vizinhanças quando ninguém falava delas, caso do Meatpacking District e de Tribeca, com casas renomadas como o Pastis, Pravda, Balthazar, Shiller's, das quais todo mundo já ouviu falar.

O Minetta eu já conhecia de outra viagem, mas queria levar o maridão e meu irmão lá também, porque o lugar tem comida excelente e ambiente pra lá de bacana, parece uma balada mesmo. O Morandi eu queria conhecer por ser mais uma casa badalada do McNally, mas com cardápio de uma tratoria rústica italiana, o que me interessa muitíssimo.

Reservas feitas, o primeiro deles foi o Morandi, numa noite de terça-feira que mais parecia sexta, de tanta gente que lotava a entrada do restaurante, que fica no Greenwich Village. O som alto, o bar lotado e a espera pela mesa (mesmo tendo reservas) chegam a incomodar um pouco e você tenta se lembrar se veio para jantar ou para a balada, mas o setimento logo passa quando você se senta e começa a fuçar no menú, que e enxuto mas com opções que tornam a escolha certeira, como esta entrada: alcachofrinhas fritas no azeite e azeitonas verdes recheadas com linguiça, empanadas e fritas.



Se ficou difícil de imaginar como é a azeitona, a foto facilita.

Já que estamos falando de uma tratoria, nada melhor do que pedirmos uma massa. A do maridão tinha um ingrediente que nós não sabíamos o que era e a garçonete não conseguiu nos explicar, então foi na base da surpresa que descobrimos que Urchin era, na verdade, ouriço do mar e que a massa estava divina. Além do ouriço, tinha carne de carangueijo. A minha massa era com vôngoles, que vinham na concha mas eram enormes e carnudos (as fotos não ficaram muito boas, mas dá pra ter uma idéia):

O inevitável "não sei o que é mas tá gostoso" da massa com ouriço do mar (se eu tivesse um I-phone, teria jogado no google na hora).

Vôngoles gigantes

De sobremesa, não poderia ter pedido outra coisa a não ser os cannoli, aqueles canudinhos de massa crocante com recheio de mascarpone com pistache (ou com chocolate) que eu tanto amo e quase nunca encontro por aqui.

Canudinhos de felicidade

A comida do Morandi é boa, sem exageros mas certeira no que se propõe. O ambiente pode ser um pouco desconfortável devido ao ruído causado pela mistura entre música alta e gente tentando falar mais alto ainda. As mesas são pequenas e o espaço entre elas é mínimo, então quem passa pode esbarrar em você, o que também pode ser irritante. Isto posto, recomendo o Morandi para quem quer aliar uma boa experiência gastronômica a um lugar bem frequentado e agitado, ao estilo dos novaiorquinos.

Já o Minetta Tavern, outra casa do restauranter e clássico do Village, pode ser definida como uma mistura de bistrô parisiense com taverna e steakhouse retrô, dando a impressão de que se está em um lugar ao mesmo tempo vibrante e caótico. Como o cara não dá ponto sem nó, a intenção é essa mesmo, de criar um ambiente que passe a sensação de que a lotação e agitação do lugar tornam-o ainda mais exclusivo para quem tem a oportunidade de conhecê-lo. Para se ter idéia do que estou falando, mesmo tendo ligado com quase um mês de antecedência, minha reserva ficou para às 11h da noite, o que é bem tarde para um restaurante em NY (taí uma coisa intrigante, em uma das maiores e mais importantes metrópoles do mundo, os restaurantes fecham cedo).

Chegamos um pouco antes das 11h e após falar com a hostess, ainda tivemos que esperar uns bons 20 minutos pela mesa. O bar estava impraticável, não dava nem para chegar perto do balcão, mas com um pouco de paciência conseguimos pedir nossas bebidas. Outro detalhe importante é que, nos EUA em geral, quando se pede uma bebida no bar do restaurante, mesmo que se esteja esperando por uma mesa, é preciso pagar no bar mesmo, não tem essa de lançar na conta junto com a refeição. E tem mais um detalhe: não se esqueça da gorjeta para o barman (uns 2 dólares por bebida está de bom tamanho).

Após sermos acomodados em meio àquela agitação toda, um olhar mais minucioso denuncia a frequência do lugar: pessoas do meio teatral, excêntricos convictos, casais jovens e de meia-idade, não necessariamente de gêneros opostos, homens de negócios esticando o happy-hour, belas mulheres em trajes arrasadores, enfim, uma fauna bastante diversificada e complexa, que não permite rótulos pré-definidos.

O menú é enxuto, compacto para caber somente os clássicos de uma brasserie, combinados com os pratos "antiquados" de uma taverna em decadência, mas nada que não seja extraordinariamente gostoso e bem feito (vale mencionar que estão por trás da cozinha os dois ex-chefs do Balthazar - outra casa de sucesso initerrupto do McNally - e também sócios do Minetta, Lee Hanson e Riad Nasr). São exemplos disso a Terrine de Ossobuco, o Trio de Tartares - de vitela, de cordeiro e de mignon, o Black Label Burger - que leva a fama de ser o melhor burger do mundo - além de pratos como Pé de porco grelhado.

As porções podem ser generosas em alguns pratos e francesas em outros. O Black Label burger não tem erro, é muito bom mesmo, mas também não custa barato - são 26 dólares por um hamburger - mas vale à pena. Gosto muito das entradas francesas, como a terrine de ossobuco com foie gras e o trio de tartares, então o acabo fazendo é pedir duas entradas ao invés do prato principal. Os grelhados são a especialidade, com destaque para o Côte du Boeuf e para o New York strip - são pratos caros, mas pode-se dividir tranquilamente em dois.

Não vou poder postar fotos deste jantar, pois acabei descobrindo que a câmera estava sem bateria só quando fui tirar a primeira foto. Mas tenho convicção do que digo quando indico o Minetta Tavern para alguém que está com viagem marcada: além da ótima comida, o Minetta é um lugar considerado trendy, com a essência novaiorquina em cada detalhe, que foge de qualquer definição convencional. É preciso conhecer para entender o que é autêntico em uma cidade tão cheia de armadilhas para turistas.

Morandi
www.morandiny.com
211 Waverly Place
New York, NY 10014-2737, United States
(212) 627-7575

Minetta Tavern
www.minettatavernny.com
113 MacDougal Street
New York, NY 10012-1201, United States
(212) 475-3850

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Grand Central Oyster Bar & Restaurant



Que a Grand Central Station é um lugar lindo e um "must see" de NY, todo mundo já sabe. Mas o que nem todo mundo sabe é que lá dentro fica um dos restaurantes mais tradicionais da cidade.

O Oyster Bar da Grand Central é enorme, com imensos salões e balcões que acomodam centenas de pessoas todas as noites. As estrelas do menú são os amigos do mar, claro, com destaque para as ostras fresquíssimas e lagostas em aquários gigantes, esperando (ou não) sua vez de ir para a panela. O cardápio é gigantesco, impresso diariamentee em folhas com formato de periódico, dividido em Aperitivos, Sopas, Buffet frio, Camarões, Carangueijos, Vieiras, Defumados, no Vapor, Crús, e por aí vai.

Os salões enormes, com ares de taverna.

Chega a dar pena dos bichinhos, mas eles ficam tão gostosos no nosso prato...

Para começar - e, como não poderia deixar de ser - escolhemos provar as ostras fritas, acompanhadas por molho tártaro. Estavam divinas, sequinhas por fora e macias por dentro, bem carnudas.



De prato principal, o maridão não resistiu à lagosta, mas preferiu não escolher pessoalmente sua vítima no aquário, com uma pitada de sentimentalismo. Já eu quis experimentar o famoso lobster roll, espécie de sanduíche de lagosta, típico daqui.

A lagosta veio linda, quase inteira no prato, o que deixou o maridão entretido por um bom tempo, inclusive com as ferramentas para quebrar a casca das patas - eles providenciam um babador para quem vai lutar com a lagosta, um barato. Detalhe é que ele escolheu a pequena, que já era do tamanho do prato, imaginem se fosse a grande, a luta demoraria mais uma meia-hora.



O meu lobster roll estava bem gostoso, com bastante carne de lagosta, mas as batatas chips que acompanhavam eram de batata doce, o que aqui significa doce mesmo. Não sou muito fã de batata doce, mas fiquei bem satisfeita com meu lobster roll, que era bem farto também.



De sobremesa, um autêntico cheesecake de NY, cujas cremosidade e sabor em muito diferem do cheesecake vendido no Brasil. Talvez seja o queijo, ou o próprio know-how que eles dominam, mas estava infinitamente melhor do que qualquer um que já comi.



Pedimos também um strudel de frutas vermelhas com chantilly e calda. Muito bom também, com uma casquinha que parecia de cabelo de anjo, com fios crocantes que contrastavam com o recheio aveludado das frutas vermelhas.



Enfim, uma refeição memorável, em um lugar lendário, com um serviço impecável. E para se ter tudo isso, não precisamos desembolsar nenuma fortuna. A lagosta é vendida por peso conforme "cotação" do dia (por isso mesmo o menú é impresso diariamente) e estava a 26,95 dólares por libra. O lugar por si só já vale a visita, nem que seja para sentar no balcão e degustar as maravilhosas ostras.

Grand Central - Oyster Bar & Restaurant
42nd Str. - www.oysterbarny.com

terça-feira, 18 de maio de 2010

American Way of Eating (and Drinking)

Pessoal, apesar da falta de tempo para postar, resolvi fazer um resumo com os melhores momentos gastronômicos da viagem até agora. Passamos 4 dias em Chicago e hoje é nosso segundo dia em NY, mas já posso adiantar que devo ter acrescentado uns bons 2kg de pura alegria na balança... é isso aí, férias!

Só pra começar bem o dia: brunch do domingo, com ovos fritos ao estilo "sunny side up", tiras de bacon, bolinhos de batata à milanesa e panquecas com syrup. Lógico que não rolou almoço depois disso...


Em um dia normal, meu café da manhã foi bem mais saudável que o brunch acima: queijo, ovo e bacon na ciabatta. Não?

Capuccino e cookie para o lanchinho - o verdadeiro cookie, com pedaços de chocolate que derretiam.

Logo no nosso primeiro dia de US and A, meu irmão nos levou para conhecer um autêntico burger. O MELHOR da minha vida... detalhe é que eles perguntam qual deve ser o ponto da carne, o que atesta que os caras são do ramo mesmo...

O nome dessa costela aí era Flinstone's, não preciso nem explicar o motivo, né? Estilo "Conan"...

Para acompanhar a costela, a ótima Samuel Adams, uma lager feita em Boston.

Falando em cerveja, fizemos questão de registrar o preço do pack com 6 long necks das cervejas gourmet... ódio!

E para finalizar a sessão "ódio-de-quem-pode-comprar-tudo-por-menos", Chimay a 12 dólares...

No próximo post, Grand Central Oyster Bar, Il Castelo Little Italy, Morandi e outros mais. Sorry pela correria, mas acho que fotos podem ser tão interessantes quanto bons textos, certo?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Um japa nada conservador

Pois é, pessoal, dia desses mordi minha língua. Eu, que escrevi neste post aqui que só gostava do Matsu porque lá é papo-reto, sem invencionices, acabei indo parar em um japa que parece ter como inspiração a cozinha tecno-emocional do Adriá... e o melhor, fiquei apaixonada!

A convite dos amigos Gio e Gabs, fomos conhecer o Mori Sushi em Vinhedo. A casa faz parte de uma pequena rede, proveniente de Sampa, onde conta com mais algumas unidades - mas parece que tem alguma rixa aí, não entendi direito quem é de quem na história toda. Eles oferecem sistema a la carte ou festival de sushi (com ou sem sashimi), mas o pulo do gato é sentar no balcão, onde o sushiman vai poder dar vazão à criatividade de acordo com as reações dos clientes. Foi o que fizemos, e o resultado vocês conferem a seguir.

Logo na abertura dos trabalhos, o sushiman nos ofereceu uma primeira rodada "tímida", com o intuito de sentir qual era a nossa... os sushis tradicionais de qualquer restaurante, mas com temperatura corretíssima e acidez do arroz no ponto certo também, o que pode incomodar bastante quando está desequilibrado. Até aqui, tudo tranquilo, mas nada demais.



Com aquela voracidade que só os brasucas têm, devoramos tudo sem deixar um grãozinho de arroz sequer. O sushiman, notando nossa delicadeza, tratou de repor com fartura, porém perguntou se gostávamos de experimentar coisas "diferentes"... xiii, essa pergunta pode ter conotações esquisitas, mas ali no balcão do restaurante japa, dissemos que sim, com moderação. Foi aí que começou o processo artístico do rapaz, que foi nos testando com receitas, digamos, exóticas.

Para começar a brincadeira, ele mandou esse sushi de salmão semi-grelhado (que é só selado, na verdade), com molho tarê e estrelas de carambola. Olhei para o maridão e vi que ele estava quase fechando a cara, do tipo "detesto doce com salgado", mas também mordeu a língua: o sushi era sublime, tanto é que foi nosso favorito da noite, com direito a repeteco.



Sentindo nossa vibração, o sushiman resolveu prosseguir no terreno da invencionice e nos ofereceu um sushi de salmão batidinho, que tinha como base um quadradinho de abacaxi sobre licor de menta (!). O maridão e o Gabriel com aquela cara de "tá ficando fresco demais isso aqui", ficaram só olhando enquanto eu e a Gio, assanhadíssimas, íamos atacando tudo.

Fresco mesmo, o licor de menta deixa um gostinho geladinho no final.

Dada a nossa empolgação, o sushiman deve ter pensado "é hoje que eu vou servir aquela receita mirabolante que ninguém nunca topa experimentar", mas resolveu segurar um pouco a onda e nos mandou duplinhas de salmon joe, aquele sushi cuja base é um rolinho de salmão por fora, com salmão picado com cebolinha por cima.

Até o que era para ser básico estava diferente, muito melhor que os joes que já comi por aí...

Depois de um pulinho na normalidade, o sushiman continuou com o festival, no sentido mais literal da palavra. Desta vez, um sushi de salmão com alguma coisinha frita por dentro - não vou conseguir descrever tudo no detalhe porque o sushiman escondia o jogo, dizendo que era para evitar plágios (!) - e acompanhado por couve frita.

A brincadeira de texturas era fantástica!

Ávidos por mais novidades e após os meninos perderem um pouco do receio causado pela excentricidade do menu, experimentamos duas outras receitas que tinham frutas no preparo: ambos eram hot-rolls, porém um deles levava calda de maracujá com molho tarê e uma finíssima fatia no topo. O outro tinha calda de laranja com pedacinhos da fruta. Estavam bem gostosos, mas acho que o que levava maracujá ficou com o sabor da fruta muito acentuado, poderia ter mais equilíbrio.

Um pouco menos de calda talvez tivesse dado o equilíbrio necessário para este aqui.

Laranja combina com muita comida, já não é de hoje, mas ficou especialmente gostosa com este aqui.

Após o repeteco do salmão com carambola, experimentamos um sushi apelidado de "bolinho de chuva", por sua aparência. De fato, é como se fosse um bolinho frito, recheado com uma pasta de salmão, sobre licor de cassis com fatias de morango e flocos de arroz por cima (a piadinha do isopor foi inevitável ao ver os flocos de arroz, mas nosso sushiman entrou super no clima). A descrição pode fazer o bolinho-de-chuva parecer bizarro, mas não é. Pelo contrário, agradou.

O mais engraçado é que o sushiman disse que nunca tinha comido o tal bolinho-de-chuva, mas que tinha certeza de que era muito bom. Nós, pelo menos, sabemos que é.

Depois de tanta novidade, resolvi pedir um velho companheiro, com o qual costumo encerrar minhas refeições japas: o sushi skin. Mas não é que até ele tinha traços da criatividade do nosso sushiman? E não é que ficou bem melhor assim?

Além da ausência do arroz (o que, nesta altura do campeonato, foi até bom), o skin ainda tinha uma mini-fatia de limão por cima e algo que parecia uma farofinha de castanha de cajú. Deu até briga pra comer o último, decidida no Jokenpow pelo Gabs e eu. Vendo o ridículo da nossa situação, o sushiman mandou uma outra unidade, pra gente parar logo com o papelão.

Satisfeitíssimos com o festival, ficamos naquele estado "contemplativo". Enquanto o pessoal decidia se continuava na cerveja ou não (tomamos aquela japa-canadense da qual falei neste post aqui), avistei a geladeira do Melona e soube o que eu queria: o melhor picolé de frutas do mundo. Para quem não sabe, Melona é uma marca de sorvetes coreanos, até pouco tempo atrás vendidos somente na Liberdade, mas que hoje caíram no gosto do público e podem ser encontrados em qualquer esquina. Levantei do meu banquinho enquanto rolava a discussão sobre a cerveja e peguei o meu sabor favorito: melão.

Pra mim, um picolé coreano de melão foi a maneira mais convencional de encerrar este jantar tão exótico, porém fantástico.

O valor do festival por pessoa no jantar é de R$ 47 e não inclui somente ovas e Unagi (alguém aí assiste Friends?). Vi no menú que também oferece festival no almoço por um valor mais baixo, mas não me lembro ao certo. Mas a dica mesmo é ficar perto do sushiman, no balcão mesmo, pois é ali que ele executa sua criatividade ao extremo.


Mori Sushi - Vinhedo
Rua Santos Dumont, 274
Centro - Vinhedo, SP
fone: (19) 3876 1727