terça-feira, 5 de abril de 2011

Restaurant Week: balanço final



A seguir, mais duas experiências durante a SPRW e, ao final, um balanço do evento, do ponto de vista desta blogueira.

Almoço no Bellini Ristorante - pechincha!

O italiano do Hotel Vitória entrou no evento apenas para o almoço, oferecendo somente uma opção de entrada, duas de principal (ambos massas) e uma de sobremesa. Para um almoço por R$ 29,90 (+ R$ 1,00 da doação), o Bellini me pareceu uma excelente pedida, já que o restaurante é bem cotado e já tive boas experiências por lá (apesar de que algumas não tão boas assim demonstram uma certa irregularidade da casa, algo irritante para um restaurante de nível que não cobra barato). Mas justamente pela pechincha do menu do evento, eu e minha amiga Lilian acabamos nos empolgando e pedimos um vinho para alegrar (e encarecer) a refeição.

pães fresquíssimos e muito bem feitos

O couvert, apesar de simples, contava com pães deliciosos, formando uma dupla perfeita com a boa manteiga. As entradas, legumes grelhados com redução de balsâmico e crisp de parmesão, estavam ótimas, com legumes al dente e molho caramelado. Só a da Lilian que foi trocada pois veio sem a bela cebola roxa presente na minha, o que causou uma certa inveja...

Entradinha bem executada

As opções de prato principal eram Raviolones, um com recheio de ragu de cordeiro e molho da própria carne e outro com três queijos e manteiga de ervas. Duas carnívoras que somos, ambas fomos de cordeiro, uma boa escolha pois o prato estava bom, no ponto correto, recheio em boa quantidade e o molho... sensacional! Mereceu ser raspado até o final com o ótimo pão do couvert.

O molho era a estrela do prato, raspei até a última gota com o pão...

A sobremesa, um semifreddo de torrone servido com creme de paçoquinha, era muito interessante, mas a casquinha que vinha em cima roubou a cena, tanto é que quando acabou, o sorvete em si perdeu um pouco da graça.

Semifreddo de torrone

Se não tivéssemos pedido o vinho, este almoço pra lá de honesto teria nos custado algo em torno de 40 reais, com alguma bebida e serviço inclusos. O manobrista é gratuito durante o almoço, mais um ponto para o Bellini. Em suma, apesar de não participar no jantar, o restaurante ganhou minha simpatia por ter me causado a sensação de um almoço muito bem pago. Pretendo voltar lá para fazer uma resenha bacana aqui para o blog, acho que o Bellini tem boas coisas a oferecer.


Cayena Bistro - passo maior que a perna?

Alguém já havia me pedido uma resenha do Cayena nos comentários do blog, mas confesso que ele não estava no meu wish list (pelo menos não nas visitas a curto prazo) e o evento se mostrou uma ótima oportunidade para conhecer o lugar. Fiz minha reserva com antecedência e, chegando lá, vimos que a casa apostou todas as fichas no evento, uma vez que todas as mesas estavam reservadas e quem chegasse sem reserva não seria atendido. Como chegamos cedo, o lugar ainda não estava cheio e o serviço foi bastante atencioso. Logo anotaram os pedidos e nos trouxeram o couvert, gostoso porém descobri depois que o valor do mesmo era absurdo por pessoa - 15 reais - o que não se justifica por pães, berinjela grelhada, manteiga com ervas e azeitonas! Não quero nem entrar no mérito da questão do couvert como conceito de se pagar para sentar em determinada mesa, pois não é o caso (alguns restaurantes mais sofisticados justificam seu alto preço de couvert pelas toalhas de linho, talheres de prata e copos de cristal) mas achei extremamente abusivo o valor, o equivalente ao valor de uma entrada.

Nossa mesa era na área externa, uma boa pedida para noites agradáveis...

Pedi para dar uma olhada no menú completo, mesmo já tendo escolhido minhas opções no menú do evento, para conhecer um pouco do estilo da casa e suas especialidades. Fiquei impressionada com os pratos, principalmente pelo falet de wagyu, aquele gado japonês da massagem que falei neste post aqui. Tudo bem elaborado, com toques de fusion couisine, mas nada por menos de 50 reais nos principais. Já a carta de vinhos era bem fraquinha, com pouquíssimas opções de uvas, de poucos países.

No menú do evento, tínhamos: bresaola ou ceviche de robalo nas entradas, fetuccine de palmito de pupunha com cogumelos frescos, mix de mini tomates, abacaxi caramelizado no saquê e shoyu ou Risoto de ragú de cordeiro com frutos e frutas secas nos principais e crema catalana ou panacota de sobremesa. Escolhemos um de cada, não só porque nossos gostos bateram direitinho com as opções, mas também para enriquecer a experiência para o blog (altruístas, não?)

O serviço, que se mostrou esperto e cordial no começo, já começava a dar sinais de que casa cheia não é trivial: por diversas vezes, vimos os garçons trocando as mesas da parte externa (onde estávamos), levando couvert onde já tinha, pratos principais onde ainda não havia entradas e assim por diante. Percebemos que apenas um deles era mais treinado e sobre ele recaía a responsabilidade de orientar os outros, mais novos e visivelmente inexperientes.

As entradas vieram sem demora, ceviche pra mim e bresaola para o maridão. O ceviche estava perfeito, ácido no ponto certo, peixe fresquíssimo, pimenta e coentro, tudo muito equilibrado e na temperatura certa. A bresaola estava boa porém extremamente salgada, mesmo para uma carne curada.

Ótimo ceviche

Já a bresaola estava salgada além da conta

Estava ansiosa pelo meu prato, o fetuccine de pupunha, ainda com prato equivalente do Maní na memória (um dos mais fantásticos que já comi na vida), por isso tentava regular minha expectativa para não me frustrar. Quando finalmente chegou - com direito a Cloche (aquela "tampa" de prata que cobre o prato e é retirada somente na frente do comensal, para evitar a perda de calor e aromas) - gostei do que vi, a apresentação era linda. No caso do prato do maridão, de cara já vimos que a porção era bem pequena, principalmente em se tratando de risoto como prato principal. Não sabemos dizer se a porção foi diferente devido ao evento ou se é padrão do restaurante, mas eu não gostaria de pagar algo em torno de 50 reais por um prato tão escasso em termos de quantidade, sinceramente.

Acho que na foto já se nota que a porção era pequena

O fetuccine estava saboroso, porém a espessura grossa dos fios de pupunha comprometia a leveza do prato, alguns ainda bem fibrosos, deixando o prato pesado, ou seja, o contrário do que deveria ser. O risoto estava bem al dente, o que não seria problema algum caso houvesse a cremosidade necessária, porém o caldo estava um pouco aguado, o que denota o erro no ponto. Mesmo assim, os sabores eram interessantes e as frutas secas davam um bom contraste de texturas , que seria melhor ainda caso o risoto estivesse cremoso.

Lindo prato, pena que não estava tão leve quanto eu esperava



A esta altura o serviço havia desaparecido da área externa onde estávamos. Notamos que demoraram uns 15 minutos para perceberem que nós já havíamos terminado os pratos e mais uns 20 para nos servirem as sobremesas. Quando questionamos a demora, o garçom acabou entregando mais do que deveria, nos revelando que o responsável na cozinha pelas sobremesas é o mesmo das entradas e que a casa estando cheia, a capacidade estava comprometida. Realmente, o evento pode ser ótimo para alguns restaurantes, mas nem tão bom para outros, expondo seus pontos fracos e comprometendo a primeira impressão de muitos clientes.

A demora quase foi recompensada pelas ótimas sobremesas: a panacota, com morangos em calda, era exata no ponto e na doçura. A crema catalana (o equivalente espanhol do creme brulee) também tinha ponto perfeito, casquinha fina e temperatura ideal.



Sobremesas irretocáveis

Mais uma boa espera pela conta acabou pondo fim em nossa paciência para esperar pela nota paulista, além da crescente irritação com nossos vizinhos de mesa, que insistiam em compartilhar conosco (e com o restante das mesas) todos seus assuntos, desde intimidades de casais a revelações de salários e patrimônios. Existe uma grande diferença entre os que falam alto por falta de noção e os que falam com intenção de serem ouvidos por todos. Péssimo.

A conta, que incluía o vinho de cerca de 50 reais, saiu por 170 reais. Levando-se em consideração o menú a 40 por pessoa, fica claro porque considero abusivo o couvert a 15 reais por pessoa.

Por essas e outras, ainda não tenho certeza se voltarei tão cedo ao Cayena, ainda mais se for para experimentar a carne do wagyu por 62 reais o prato. No balanço final do evento, das três experiências que eu tive, aparentemente o Conte foi o restaurante que melhor soube aproveitar sua participação, por três motivos: trata-se de uma casa relativamente recente, com necessidade de exposição e divulgação para o público em geral; a brigada estava bem preparada para os dias de casa lotada, tanto salão quanto cozinha; a boa impressão causada foi a primeira impressão de muitos dos que frequentaram o Conte nessas duas semanas, ou seja, se o ditado se confirma, a impressão que fica é a boa. No caso do Bellini, um restaurante já consagrado na cidade, premiado e reconhecido, a participação no evento me parece algo mais político do que de fato útil para a casa. O menú de 30 reais no almoço não atraiu mais clientes, pude notar pelas inúmeras mesas vazias no dia em que estive lá. Não vejo também como uma necessidade do Bellini atrair as massas, mas ficar de fora do evento poderia parecer pedante às vistas dos comensais locais. Já para o Cayena, o evento pode ter sido taiçoeiro, apesar da lotação que faz os olhos de qualquer proprietário brilhar. Nem todo restaurante está preparado para lidar com casa cheia, em dias seguidos, principalmente se a lotação não é frequente. É preciso ter cuidado para que eventuais falhas, que talvez não aconteçam em dias de funcionamento normal, não sejam determinantes para minar as intenções de uma segunda visita, no caso dos que visitam a casa pela primeira vez na ocasião do evento. Mas no geral, as três visitas valeram à pena, cada uma com seu propósito e seu retorno. Que venham as próximas edições!

Bellini Ristorante
Hotel Vitória
Via Norte Sul, 425
3755-8027
www.belliniristorante.com.br

Cayena Bistrô
Rua Capitão Francisco de Paula , 264
Cambuí | Campinas
3385-3033