segunda-feira, 28 de março de 2011

O début de Campinas na SPRW



Finalmente alguém teve a brilhante idéia de estender o já bem sucedido evento de gastronomia de São Paulo, o São Paulo Restaurant Week, para outras - e expressivas - cidades do estado. Além de Campinas, participam desta edição cidades como Santos, Ribeirão Preto, São José dos Campos, São Sebastião, Embu, Barueri, Cotia, Guarujá e cidades do ABC paulista. O evento Restaurant Week em si, nascido em Nova Iorque há quase vinte anos, ganhou sua versão nacional em 2007 na capital paulista, causando furor entre o público que, por uma fração do preço normal, teria a oportunidade de frequentar as melhores mesas da cidade.

Em Campinas, participam do evento em 2011 alguns restaurantes já velhos conhecidos do público e também outros mais recentes, que ainda buscam conquistar o paladar da clientela local e vêem no evento uma ótima oportunidade para mostrar seu trabalho, tendo em vista o excelente preço do menu composto por entrada, prato principal e sobremesa - R$ 29,90 no almoço e R$ 39,90 no jantar (bebidas e serviço não estão incluídos).

Como minha intenção é sempre incluir novidades no blog, procurei por lugares participantes que ainda não foram visitados pelo M.O.Q.B., mas que estavam na minha listinha de próximas visitas. Reservas feitas, o primeiro a ser visitado foi o Conte Italian Steakhouse, cujo menu para o evento me pareceu bem interessante: nas opções de entrada, ceviche al mare ou torre de carpaccio; nos principais, filetto em fondue de queijo e frigideira de cogumelos, lombo de cordeiro com coulis de frutas vermelhas e couscous marroquino ou chorizo em leito de bordelaise com farofa crocante. Para as sobremesas, tortinha de maçã com sorvete de creme, marquise de chocolate com anglaise de laranja ou cassata de frutas secas.

Na chegada, o banner anunciando o serviço de manobrista gratuito já me conquistou, ainda mais em se tratando de um restaurante na rua Sampainho, um verdadeiro inferno às quintas, sextas e sábados. O local ainda estava vazio e a hostess prontamente nos recebeu e verificou nossa reserva, indicando a mesa.

O maitre logo no explicou o menú, que estava impresso e colocado em todas as mesas, o que me fez questioná-lo se o restaurante teria dedicado 100% de sua capacidade para o evento, o que ele confirmou. Achei muito legal ver que o lugar apostou alto no evento e respeitou o consequente aumento de demanda sem prejuízo dos clientes, coisa que não se vê nos participantes da capital, que reservam apenas um percentual de sua capacidade para as reservas relativas ao evento e ainda corre-se o risco de sofrer uma certa discriminação por parte do serviço.

Escolhidas as opções, o maitre (que também faz as vezes de sommelier da casa) nos deus algumas sugestões de vinhos, mas acabamos decidindo no faro. Como optei pelo ceviche de entrada, quis uma garrafa de 187ml de sauvignon blanc antes de partir para o tinto, no caso o chileno Tabalí Reserva Merlot (excelente vinho, diga-se de passagem). Para aqueles que sentem falta de ler mais sobre os vinhos neste blog, sugiro uma visita ao vivendovinhos.blogspot.com - cujo autor é da região e manja bastante do assunto, infinitamente mais que eu!

Branco para começar, tinto para continuar...

Nossas entradas chegaram, ceviche para mim e carpaccio para o maridão. A apresentação era belíssima, o que pode ser constatado pelas fotos. No caso do ceviche, senti falta de algo contrastante, seja no sabor ou na textura, mas tudo me pareceu muito "flat", talvez algo monótono, sem surpresas no paladar, apenas a acidez do limão com a textura dos frutos do mar. Já o carpaccio tinha algo de interessante, principalmente pelo crisp de parmesão e lascas de amêndoas.

Talvez uma pimentinha tornaria o ceviche mais interessante...

A torre

Das opções do menu, senti falta de um peixinho nos principais, mas como trata-se de uma steakhouse, imagino que o forte está mesmo nas carnes. Escolhi o filé com fondue de queijo e frigideira de cogumelos, enquanto o maridão foi de chorizo com bordelaise e farofa crocante. Tivemos uma certa dificuldade em esclarecer o ponto que queríamos, pois para o garçom "mal passado" era o mesmo que "ao ponto para mal". Expliquei que havia uma grande diferença, se não para ele, pelo menos para a cozinha, por isso fiz questão de deixar claro que queríamos mal passado mesmo! Os pratos vieram sem demora e também com bela apresentação, mas o ponto não estava exatamente mal passado, como eu já esperava. Não acho que o prato foi prejudicado por isso, mesmo porque estava tudo excelente, realmente muito gostoso. Meus filés eram ultra macios, o queijo fundido era de ótima qualidade, super cremoso e aveludado, os cogumelos estavam presentes em boa quantidade e havia ainda um tipo de onion rings bem fininha e apimentada, que conferia ao prato um importante contraste de texturas e sabores. Comi com tanta vontate e em prazerosas garfadas, que não deixei uma migalha sequer no prato.

Excelente filé!

O chorizo, um bifão bem alto e muito macio, veio suculento e quase tão mal passado quanto o desejado. A farofinha crocante roubou a cena, um pecado de gostosa, principalmente devido aos pedaços de linguicinha defumada. O molho bordelaise estava bem reduzido e caramelado como deve ser.

Aí está a farofinha matadora...

Refastelados com o banquete, regado a muito vinho, até havíamos nos esquecido da sobremesa. Tortinha de maçã para ele, marquise de chocolate para mim, que também vieram em boa quantidade e bela apresentação. A marquise de chocolate, uma espécie de creme denso e firme, vinha sobre o anglaise de laranja, um tipo de creme à base de ovos, com raspas de laranja. Como a marquise já era muito cremosa, talvez fosse interessante adicionar algum elemento crocante, tipo um crumble ou farofinha. Mas o sabor estava bem gostoso, inclusive a combinação com o cítrico da laranja. A tortinha não poderia dar errado, tortinha quente de maçã com sorvete de baunilha é infalível.

Marquise de chocolate com anglaise de laranja

Dupla infalível: tortinha + sorvete

O melhor desse jantar foi o preço. Não fosse pelos vinhos, não pagaríamos mais que 100 reais, um excelente custo x benefício pelo que nos foi oferecido. Além disso, fiquei muito curiosa para experimentar o que mais o Conte tem a oferecer, já que o cardápio habitual da casa tem várias opções interessantes e eles já provaram que merecem o crédito para uma nova (e breve) visita.



Conte Italian Steakhouse
www.conterestaurante.com.br

terça-feira, 15 de março de 2011

Um post para carnívoros- além de um pequeno desabafo



Ultimamente venho sido acometida por uma falta de inspiração que me obriga a me distanciar um pouco do blog... lógico que alguém que se propõe e escrever um blog, cuja atualização frequente é essencial para manter o interesse dos leitores, deve estar preparado para postar um conteúdo de qualidade mesmo quando não bate aquela inspiração louca. Acho que tenho me preocupado mais com a qualidade literária do que escrevo do que com o conteúdo em si, por isso peço desculpas pela ausência de novos posts. Este pequeno desabafo talvez me ajude a reencontrar aquele equilíbrio que, há algum tempo, costumava dar certa leveza à tarefa de fazer um blog bacana e de acordo com as premissas que eu mesma estipulei.

Bom, vamos ao cenário deste post: uma chuvosa noite de segunda-feira de carnaval, um desejo teimoso de tomar um vinho honesto, de preferência acompanhado de uma boa comida. Algumas de nossas opções, como o Chef Theo, por exemplo, não estavam funcionando (tive a brilhante idéia de telefonar antes, para não ficar rodando a esmo enquanto a fome aumentava) e não nos sobrou muita coisa dentro do "escopo" que havíamos estabelecido. Quase rumamos para Holambra, com o intuito de, finalmente, conhecer um lugar que venho namorando há tempos, o Warong, mas a chuvinha teve uma forte influência na preguiça para pegar a estrada. Foi aí que falei para o maridão, não sem uma certa ironia: "quer saber de uma coisa? Vamos lá no Red Angus comer a melhor carne do mundo!" e foi assim que decidimos nosso destino.

Antes de mais nada, vamos esclarecer esse lance de "melhor carne do mundo", título que o Red Angus clama para si por conta dos cortes provenintes da raça homônima, cuja "marmorização" das carnes confere alta maciez. Até onde meu singelo conhecimento me permite saber, o status de melhor carne do mundo pertence a uma raça de gado japonesa, chamada Wagyu, cujo local de origem é Kobe, daí o nome "Bife de Kobe" ter se tornado referência para a carne deste gado nipônico. Reza a lenda que o Wagyu é um animal com gordura inigualável, cuja dieta se baseia em cerveja e grãos e ainda tem direito a massagens regulares (!), que amaciam sua carne devido ao relaxamento proporcionado ao boi. A raça tem maior predisposição genética à produção de gordura intramuscular do que qualquer gado ocidental, ou seja, sua carne seria superior à do Red Angus.

Quanto ao ambiente da churrascaria Red Angus - me parece que eles ainda estão em dúvida entre o título de churrascaria ou restaurante - o DVD do grupo Roupa Nova em um volume acima do considerado normal para o famoso "som ambiente" atestava que o local trata-se mesmo de uma churrascaria, no melhor estilo "churrascolândia", porém sem o espeto corrido... o serviço me pareceu estar em clima de folia, já que era meio de carnaval e os garçons estavam pra lá de risonhos, trocando piadinhas entre si e não ligando muito para o tempo que a gente se debatia na tentativa de chamar algum deles.

O cardápio não é aquele basicão, dividido entre carnes, aves, peixes e massas, mas sim algo que grita "se você é vegetariano, fuja!" - as seções dividem-se em Red Angus, aves, caprinos, suínos, frutos do mar, risotos, saladas (muitos carpaccios) e entradas... cortes especiais com preços equivalentes à tal fama do boi: um tal de "pirulito", que nada mais é que o Côte du Boeuf (ou ainda, em inglês, Prime Rib) pode custar o equivalente a uma refeição completa e não rende duas porções (nem se seu apetite for a metade do meu, não tente dividir as porções aqui). O legal é que as carnes são feitas na grelha em churrasqueira de carvão, o que confere um sabor rústico e levemente defumado. Destaque também para o famoso King Crab, o gigante do Alasca que ganhou status de estrela no restaurante e custa algo em torno de R$ 90,00 (para duas pessoas - em termos).

Quando pedimos a carta de vinhos, o garçom nos convidou para ir pessoalmente à adega, o que o maridão fez prontamente. Segundo ele, uma boa adega, com diversidade de rótulos e de preços também. A climatização também se mostrou satisfatória, o vinho estava numa temperatura ótima quando foi servido. Fomos de Cabernet Sauvignon -o chileno TerraNoble (2008), que saiu por 50 e poucos a garrafa.

Gostamos tanto do vinho que não sobrou uma só gota na garrafa...

Das entradas, me interessei por um carpaccio defumado de Red Angus (claro) mas aí rolou o irrtante "tem mas acabou" e acabei pedindo uma porção de bolinhos de picanha, já sem nenhuma expectativa e com muita fome. De principal, optei pelo Ossobuco (Red Angus também) com risoto de alho poró - decisão esta tomada mais pelo aparente alto custo x benefício do que por pretensões gastronômicas - enquanto o maridão foi de costelas suínas ao barbecue.

E não é que o tal boleto de picanha surpreendeu? Super sequinhos e crocantes por fora, os bolinhos eram quase cremosos por dentro, certamente devido à mistura da carne com algum elemento que dava uma bela liga, talvez pão, como na boa e velha receita de almôndegas... apesar de não terem sido servidos com pimenta (uma heresia!), ficaram divinos com um tabasco verde que tivemos que solicitar ao garçom.

Delícia os bolinhos de picanha (desconto para a "cama de alface" da decoração, desnecessária)

Os pratos vieram até que com rapidez, mas pode ser que minha noção de tempo estivesse deturpada por conta do vinho que descia redondo. Fartura foi o que se viu - muita carne mesmo - tanto no caso do ossobuco quanto no caso da costela. Acabei me entretendo tanto com o meu prato que nem tinha percebido que as costelas do maridão não tinham o molho barbecue. Foi mais ou menos na décima quinta garfada que ele desconfiou "acho que veio tão pouco molho que nem tô sentindo"... olhei para o prato dele (pela primeira vez) e atestei que, certamente, o molho estava faltando. Para chamar o garçom, uns 5 minutos, para ele trazer o molho à parte, talvez uns 10... primeiro eles tentaram descobrir que havia errado, se era o churrasqueiro ou o cozinheiro, depois eles resolveram pedir o molho à cozinha, que demorou para mandar. Desnecessário dizer que, se fosse comigo, já teria me irritado profundamente com a demora. Sorte que o maridão é sossegado e não tão faminto quanto esta que vos escreve...

Quanto aos pratos, meu ossobuco estava muito bom, a carne era super macia, daquelas que a gente corta fácil com as costas da faca. Lógico que, em termos de textura, havia aquela sensação de pequenos fiapos ao mastigar, típico das carnes de panela, caso do ossobuco. O tempero harmonizava bem com o prato, o risoto estava cremoso mas com grãos al dente e o tutano - minha parte preferida - veio farto dentro do osso, gelatinoso e saboroso, para minha total alegria.

Belo tutano!

As costelinhas eram carnudas e não estavam esturricadas, mesmo tendo sido assadas na churrasqueira. Uma pilha delas se amontoavam no prato, brigando por espaço com as batatas rosti. Lógico que sobrou pra mim a função de "gaivota" da mesa, não deixando que nada fosse para o lixo (uma questão de princípios).

Apesar da falta do molho barbecue, as costelas vieram bonitas e em boa quantidade

A esta altura, já nem ligava mais para o DVD do Roupa Nova ou para
o altíssimo ruído das cadeiras a cada vez que alguém se levantava - sério, o pessoal poderia providenciar aqueles discos de feltro pra amenizar o barulho chato - ou ainda para as adoráveis crianças correndo entre as mesas. Meu estômago estava tão agradecido pela bela refeição que isso tudo já não me importava. Mas pode ser que tais fatores incomodem aqueles que buscam um ambiente mais agradável para um jantar a dois, ou um serviço mais atencioso, esperto e discreto.

A conta também não foi das mais altas, mas passou longe de uma pechincha. Os pratos custam em média 40-50 reais, mas há opções mais caras, principalmente os cortes especiais de Red Angus ou o King Crab. Vinhos a partir de 50 reais (acho que não havia nenhuma opção plausível por menos que isso). Talvez o almoço executivo seja bem mais negócio para os que curtem uma boa carne, mas não estão dispostos a enfrentar a violência gastronômica de um espeto corrido.

Red Angus Churrascaria e Restaurante
www.restauranteredangus.com.br