segunda-feira, 26 de março de 2012

Minhas percepções: Restaurant Week 2012



Não sei vocês, mas eu fiquei sabendo da edição deste ano do Restaurant Week bem por acaso, ao ler um post de um dos restaurantes participantes no Facebook. Depois, os grandes portais como UOL e Terra mencionaram o evento, obviamente com foco na capital. Mas fora isso, não percebi nenhum burburinho em torno do assunto, nem mesmo nas rodas de conversa dos aficcionados por gastronomia na cidade. Fiquei sem entender por que os próprios restaurantes não demonstraram tanto entusiasmo em divulgar a participação no evento, sendo que a grande vantagem é atrair volume maior de clientes, já que o preço que se paga pela refeição é menor. Entendo que o fator divulgação deva pesar bastante na decisão de um estabelecimento ao aceitar participar do evento, mesmo porque o aumento de clientes não deve ser proporcional ao aumento do faturamento. Outra diferença com relação ao ano passado foi a tranquilidade para fazer as reservas, me pareceu que a demanda foi bem menor que em 2011, quando a maioria dos restaurantes tinham todos os lugares reservados com certa antecedência.

Anyway, não fui atrás de nenhum dado que comprove numericamente o que falei aí em cima pois não se trata de uma afirmação sobre o evento, mas sim um relato sobre a minha percepção, única e exclusivamente, do meu ponto de vista.

Passados os devaneios, vamos ao que interessa: durante o evento, visitamos o Gallo Nero durante um almoço, o Esquinica em um jantar e o Cayenna também durante o almoço. Dentre as opções de estabelecimentos participantes, teria escolhido outros caso tivesse mais tempo (ou fosse melhor organizada), como o Casa de Maria, Conte, L'Alouette e Duo, por saber que têm ótima cozinha; o Estação Marupiara e o Vila Paraíso, pela curiosidade e oportunidade de conhecer por um preço bem camarada. Alguns definitvamente não seriam minhas opções, mas prefiro não levantar polêmica neste post, minha opinião já é conhecida dos leitores deste blog.

Primeira visita: Gallo Nero (almoço)



Sinto desapontar quem esperava que eu fosse falar das opções do menu do evento, mas o que se passou neste restaurante foi que descobri uma das melhores opções de almoço da cidade, em termos de custo x benefício, não só durante o evento! Eles oferecem um menú degustação no almoço de segunda à sexta, chamado menú corrido, que inclui ótimas opções que variam a cada dia, pelo valor fixo de R$ 34,80. Ou seja, couvert, salada (farta) e seis pratos que podem ser repetidos! Na verdade, as seis opções não são servidas à francesa, cada uma em sua louça, naquele esquema interminável em que o garçom põe e tira prato após prato da sua frente. É simples, após o couvert e a salada, os garçons trazem da cozinha os pratos do dia nas próprias frigideiras em que são feitos, para serem servidos em pequenas quantidades aos comensais. O legal é que pode-se pedir repeteco de qualquer coisa, quantas vezes quiser. E acreditem, vai ser difícil querer repetir, porque é muita comida até para alguém com um apetite como o meu! Diante dessa barganha, não tive a menor vontade de experimentar o menú do evento... mas pelo menos vou falar de algo que vale muito à pena!

A cada dia da semana as opções de pratos mudam. No dia da visita, uma quarta-feira, as opções eram risoto de abóbora, filé de lombo grelhado, farfalle ao funghi, papardelle com molho sugo e calabresa, abadejo com champignons e abobrinha assada. A salada era simples, somente com folhas e tomate, mas de tão fresca chegava a estalar. O couvert trazia abobrinhas marinadas, berinjela e azeitonas chilenas, além de ótimas torradas de pão italiano.

Couvert...

... e salada, para abrir os trabalhos.

Os garçons parecem usar alguma lógica na sequência do que é servido, mas nada que interfira na dinâmica da "degustação": primeiro, o risoto de abóbora e, com ele, o filé de lombo, fazendo um bom par no prato. O risoto estava correto e saboroso e o filé de lombo era macio e com aquela gordura necessária para deixar a carne do porco bem saborosa.



Em seguida, foram colocados em meu prato o farfalle com funghi e a abobrinha, tudo sem a menor cerimônia, bem casual mesmo. A massa era simples mas bem feita, com boa quantidade de funghi. A abobrinha era delicada, com uma camada crocante por cima, tipo um farelo de pão, que era gratinada.





Quando consegui abrir algum espaço no prato, lá veio o garçom de novo, desta vez com o papardelle e o abadejo, um pouco de cada. O peixe estava com sabor de fresco e os cogumelos laminados fizeram boa companhia junto com o presunto, nada que comprometesse a delicadeza do pescado. Já o papardelle foi a estrela do menú, estava muito bom mesmo. A massa, apesar de larga - como o papardelle deve ser - tinha espessura fininha e gosto de massa caseira. O molho, uma combinação de sugo, calabresa moída e erva-doce, era perfeito para o tipo da massa e estava delicioso. Se eu tivesse condições de repetir algo, certamente seria o papardelle.

Peixe fresco

O melhor de todos

Fiquei realmente surpresa com o tal menú corrido do Gallo Nero, não só pela qualidade dos pratos - o que já era de se esperar deste restaurante - mas pela ótima relação custo x benefício.

A sobremesa não fazia parte do menú, mas como ir ao Gallo Nero e não comer cannoli, ainda mais em uma cidade onde a sobremesa é raridade? Estava gostoso, com casquinha bem crocante e recheio cremoso, mas senti falta de um pouco mais de açúcar no creme, isso porque não sou nenhuma formiga e até prefiro os doces-não-tão-doces, mas esse recheio pedia sim um pouco mais de doçura.

Canudos italianos

Em suma, o Gallo Nero é uma das melhores opções de almoço da cidade, sem sombra de dúvida.

Segunda visita: Esquinica (jantar)

Alguém aí pode estar se perguntando por que escolhi o Esquinica para o evento, já que estive por lá há pouco tempo, mas a resposta é a seguinte: difícil ir ao Esquinica e não pedir as ótimas tapas, então nada melhor que o incentivo do evento para experimentar um prato, mesmo que este não seja do menu fixo do restaurante. Pelo que já havíamos visto do Esquinica, a experiência não poderia ser ruim, de maneira nenhuma.

Para experimentar o máximo possível, eu e o maridão alternamos as escolhas do menu do evento, que trazia duas opções de entrada, duas de principal e duas de sobremesa - ou seja, provamos de tudo o que o Esquinica tinha para oferecer nesta edição do Restaurant Week. De entrada, gaspacho de tomates ou coca de vegetais, um tipo de pão recheado e assado com legumes e queijo manchego; nos principais, confit de pato com purê de batatas e azeitonas e tartar de salmão assado servido com farofa molhada; de sobremesas, sonho de doce de leite com sorvete de creme ou creme de chocolate com folha gelificada de frutas vermelhas.

O couvert era o mesmo de sempre, com o ótimo alho assado nadando em azeite virgem, azeitonas verdes gigantes, amêndoas torradas, parmesão em pedaços, pães e torradas.

Viciada nesse alho!

O salão estava vazio quando chegamos mas em questão de minutos ficou lotado. A grande maioria das mesas estava ocupada para o evento. Mas o que vimos foi um serviço ágil, atencioso e discreto, independente da lotação da casa.

As entradas vieram rápido, porém tivemos tempo para apreciar o couvert na companhia de um ótimo Carmenère - para a satisfação do nosso atendente, cuja origem era a mesma do vinho, o Chile.

O gaspacho estava excelente, na temperatura certa, com acidez correta e ótimo equilíbrio entre os ingredientes marcantes, como pepino, pimentão, tomate e salsão. O pão de vegetais também era saboroso, úmido e com textura macia, interessante.

Sopa gelada

Coca de vegetais

Os principais também não demoraram a chegar; a quantidade não era farta, mas o sabor e execução compensaram. O pato era saboroso, com carne macia, soltando do osso. O purezinho de batata e azeitona estava uma delícia, pena que era pouqinho... o tartar de salmão também estava saboroso e fazia bom par com a farofinha úmida, com bastante azeite, alho e cebola. Para ser melhor, só precisaria ser mais!

Coxinhas de pato

Tartar de salmão

Pedimos ao nosso atendente que desse um tempinho antes das sobremesas, para que pudéssemos terminar com o vinho. O ambiente estava descontraído no salão, com vozes em volume mais alto, mas sem incomodar, bem no estilo do Esquinica.

As sobremesas não desapontaram. O sonho era bem recheado e sequinho, nada melhor que um bom sorvete para acompanhá-lo. Já o creme de chocolate foi uma grata surpresa, não esperava que fosse tão bom! De textura super cremosa, foi servido geladinho. Em meio ao creme, pedacinhos de chocolate davam contraste na boca, além do azedinho da folha gelificada de frutas vermelhas. Delicioso! Espero que se torne item definitivo do cardápio...

Sweet dream...

Que entre para o cardápio!

Bom jantar, boa companhia, bom vinho e... ótimo preço! Taí algo que o evento faz de bom: média de 50 reais por pessoa (sem o vinho) no Esquinica é algo que, definitivamente, vale muito à pena.

Terceira visita: Cayena (almoço)



Para quem não se lembra, conheci o Cayena durante a última edição do evento e falei sobre a experiência aqui. Achei que o evento deste ano seria uma boa oportunidade de voltar ao lugar para ver o que melhorou e saber o que de bom eles iriam oferecer aos comensais. Gostei das opções do menu, mas confesso que o cardápio do jantar me atraiu mais. Apesar de ter reservado para sábado à noite, tive que desmarcar devido a outro compromisso, mas não quis deixar passar e fui durante o almoço mesmo.

As opções eram: tortilla de batatas, aspargos e bacalhau ou mini bracciola com purê de maçã nas entradas; penne com mignon ao molho de mostarda com ervas finas, rúcula e parmesão ou Panang Curry com arroz thai jasmine; de sobremesa, bolo de fubá cremoso com goiaba em calda ou cocada caminho das índias.

Mamãe preferiu um prato do menu fixo de almoço, um picadinho com ovo poché, acompanhado de arroz, couve e farofa. Eu fui de tortilla de batatas, Panang Curry - um prato de curry com mignon - e o tal bolo de fubá cremoso.

As opções de vinho eram limitadas, ainda mais em se tratando de meia garrafa ou em taça. Só nos restou o Malbec da mini garrafinha que equivale a uma taça, que não desapontou.

Minha entrada veio junto com a saladinha do prato da mamãe. A tortilla não estava ruim, porém a proporção de batata e ovo estava bem desequilibrada, fazendo com que ela se parecesse mais com um omelete do que com uma tortilla. O bacalhau apareceu pouco, mais em forma de alguns fiapos escassos do que em lascas ou pedaços. O aspargo enfeitava o topo. O resultado foi uma tortilla ressecada e desinteressante, que depois tive a oportunidade de ver que os pedaços prontos estavam enfileirados na cozinha, em cima da bancada, não eram feitos na hora - nem mesmo finalizados na hora.



Os pratos principais demoraram bastante, tempo demais para um almoço. Não nos passou despercebido que nossos pratos foram dados à mesa ao lado, mesmo porque as duas pessoas haviam escolhido pratos do menu do evento e o que vi foi um picadinho e um Pagang Curry sendo servidos ao nosso lado. O mais impressionante é que a pessoa que recebeu o picadinho não se manifestou em nenhum momento sobre o equívoco... até cheguei a pensar que seria apenas um problema de servir as mesas fora de ordem mas, quando fomos questionadas se aguardávamos pela sobremesa e, diante da nossa resposta, uma cozinheira furiosa saiu da cozinha para ver o que fora servido à mesa ao lado, tive certeza do que se passou. Uma infeliz coincidência, já que no evento do ano passado erros deste tipo aconteceram e cheguei a mencionar que era um problema decorrente da ocupação atípica influenciada pelos preços mais baixos, porém algo com o qual o restaurante tem que saber lidar quando opta por participar do evento.

Após uma longa espera, nossos pratos vieram. Logo de cara, notei uma falta de preocupação com a decoração do prato do evento, já que o picadinho estava ok. Não que seja fundamental, mas é sabido que também comemos com os olhos e um prato monocromático e desproporcional não é esteticamente atraente...

O curry estava saboroso, com carne macia e molho pouco picante, porém correto. O arroz estava perfeito, aglutinado como um thai jasmine deve ser. Enfim, um prato bem executado, só pecou mesmo na estética.



O picadinho empolgou de cara, porém a gema dura do ovo poché desanimou um pouco, a expectativa era ver uma gema dourada e cremosa escorrer sobre a carne. A quantidade também é pouca, tudo vem em mini-porções, a couve, a carne, a farofa... em termos de sabor, estava apenas ok.

Aspecto bom...

... porém gema dura!

Já não estava lá muito entusiasmada com a sobremesa, mesmo porque sabia que mamãe iria fazer aqueles olhos pidões e eu teria que dar tudo pra ela. O bolinho de fubá, que prometia ser cremoso, tinha apenas uma camada cremosa em seu interior, mas estava gostoso, combinava bem com a goiaba em calda.

Bolinho da mamãe...

O preço dos pratos do almoço é bastante atraente, algo entre 20 e 30 reais, porém as quantidades são bem pequenas. Com relação ao evento, sinto dizer que não vou pagar para ver de novo em uma próxima edição. Quero sim voltar ao Cayena em uma nova oportunidade pois sei que há um bom trabalho por trás do cardápio, da escolha dos ingredientes e comando da cozinha pela chef Manuella Delatorre. O que não quero é sofrer com os tropeços que podem ocorrer em dias de casa lotada, prefiro conhecer o que o Cayena tem de bom sem o corre-corre do evento.

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Gallo Nero Ristorante
R. Maria Monteiro, 59
Tel.: (19) 3308-5711

Esquinica
Av. José de Souza Campos, 425
Hotel Vitória
Tel.: (19) 3755-8000

Cayena Bistrô
R. Capitão Francisco de Paula, 264
Tel.: (19) 3385-3033