sábado, 3 de novembro de 2012

Senderens: duas estrelas no Michelin... mas não tão bem cotado no M.O.Q.B.

Senderens – 2 estrelas no Guia Michelin

Mais um chef estrelado de Paris, Allain Senderens é conhecido por sua cozinha inventiva e original, com traços sutis da cozinha molecular, mas nada exagerado. Não foi difícil conseguir uma reserva, liguei com apenas um dia de antecedência e consegui minha mesa para o horário desejado. O restaurante fica em um canto da Place de La Madeleine, tão perto do meu hotel que fomos a pé mesmo.

A decoração é inusitada, mesclando elementos modernos – e até futuristas, como o teto irregular de aspecto lunar, os espelhos com hologramas de flores e borboletas em tons de roxo e azul – com colunas clássicas de madeira entalhada e luminárias antigas (vocês irão notar o tom alaranjado da iluminação nas fotos, não consegui minimizar o efeito). As mesas não têm toalhas e nem sousplats, os talheres são dispostos diretamente sobre a superfície um pouco antes da chegada dos pratos, sem fazer nenhuma referência ao protocolo francês de disposição de talheres, taças, pratos, pratinhos, guardanapos, etc.

O menu é enxuto, com poucas opções de entradas e principais. Há a opção de menu degustação, porém como em todos os lugares, só é servido para todos da mesa. Enquanto escolhíamos, pedimos duas taças da excelente champagne Louise Pommey Rose, safra 2000. Também nos foi oferecido um amuse bouche cortesia, composto de lãmina crocante de algum tubérculo que não identifiquei qual era, com molho de clorofila. Interessante, mas nada incrível em termos de sabor.



Optei pelo foie gras de entrada e vieras de principal (menos um item na lista de desejos); mamãe optou por duas entradas que, para ela, pareceram mais interessantes que as opções de principais: uma seleção de vegetais Arcimboldo e um creme morno de cogumelos sobre ovos de codorna mollet e crisp de presunto Iberico.

O foie gras era dos bons, coisa fina mesmo, super cremoso e sem o menor sinal de gosto de miúdos. Mas faltou contraste no conjunto, eram três bloquinhos de foie acompanhados de pêras cozidas envoltas em pó de cacau e uma redução adocicada que não sei dizer ao certo do que era, além de um crisp tão fininho que mais parecia uma renda. Visualmente, era lindo, mas na prática, senti falta de algo crocante para contrastar com o aveludado do foie, somente com a pêra acabou ficando enjoativo e perdido na boca.



Os vegetais tinham a melhor textura possível, cada um com suas características preservadas no método de cocção, mas o creme de cenoura e beterraba não acrescentava nada em termos de sabor, portanto o todo era um tanto quanto monótono. Mais uma vez, o aspecto visual era ótimo, porém decepcionava no paladar.



A segunda entrada da mamãe veio com o meu principal, porém em termos de quantidade de comida no prato, a entrada era mais farta que meu prato de vieiras. Dessa vez fiquei decepcionada de verdade com a quantidade, em que planeta um prato com QUATRO vieiras pode ser considerado principal? E mais, em que mundo um prato com QUATRO vieiras pode custar 43 euros? Ok, posso ser gulosa e tal, mas essa foi demais, me senti ultrajada e quando isso acontece, nenhum aspecto positivo que o restaurante possa ter vai me fazer voltar ou recomendar a alguém, portanto a conclusão deste post vocês já sabem. Sim, estavam corretas, mas nada além disso e o mínimo que um lugar desses pode fazer é servir vieiras no seu ponto correto. O creme de cogumelos estava surpreendentemente bom, já que talvez não esperássemos muito de um creme de cogumelos...


Sério? Quatro?



Antes da sobremesa, mais uma cortesia, dessa vez um copinho com um creme de caramelo que estava divino e saciou por completo qualquer vontade que eu pudesse ter de comer doces. Já minha mãe, formiga que é, quis pedir o Saint Honoré, um doce tradicional francês com base de massa folhada, carolinas recheadas com Creme Anglaise, chantilly e morangos. Segundo ela, estava bem gostoso, mas eu nem quis experimentar tamanha minha birra com o prato de vieiras.




Mais um agradinho - talvez pra compensar o tamanho ridículo do prato principal

O Senderens não é um restaurante barato, as entradas custam cerca de 30 euros (meu foie gras custou 36 euros) e os principais giram em torno de 50 - 60 euros. Além das taças de champanhe a 22 euros cada, tomamos também uma taça de Borgogne por 13 euros. No total, nossa conta foi de 223 euros (acrescente a isso 15% de serviço), ou seja, a experiência deveria ter sido bem melhor para que existisse alguma boa relação custo x benefício. Para o jantar que tivemos, considero apenas uma experiência cara.



Senderens Paris

www.senderens.fr