sábado, 3 de novembro de 2012

Senderens: duas estrelas no Michelin... mas não tão bem cotado no M.O.Q.B.

Senderens – 2 estrelas no Guia Michelin

Mais um chef estrelado de Paris, Allain Senderens é conhecido por sua cozinha inventiva e original, com traços sutis da cozinha molecular, mas nada exagerado. Não foi difícil conseguir uma reserva, liguei com apenas um dia de antecedência e consegui minha mesa para o horário desejado. O restaurante fica em um canto da Place de La Madeleine, tão perto do meu hotel que fomos a pé mesmo.

A decoração é inusitada, mesclando elementos modernos – e até futuristas, como o teto irregular de aspecto lunar, os espelhos com hologramas de flores e borboletas em tons de roxo e azul – com colunas clássicas de madeira entalhada e luminárias antigas (vocês irão notar o tom alaranjado da iluminação nas fotos, não consegui minimizar o efeito). As mesas não têm toalhas e nem sousplats, os talheres são dispostos diretamente sobre a superfície um pouco antes da chegada dos pratos, sem fazer nenhuma referência ao protocolo francês de disposição de talheres, taças, pratos, pratinhos, guardanapos, etc.

O menu é enxuto, com poucas opções de entradas e principais. Há a opção de menu degustação, porém como em todos os lugares, só é servido para todos da mesa. Enquanto escolhíamos, pedimos duas taças da excelente champagne Louise Pommey Rose, safra 2000. Também nos foi oferecido um amuse bouche cortesia, composto de lãmina crocante de algum tubérculo que não identifiquei qual era, com molho de clorofila. Interessante, mas nada incrível em termos de sabor.



Optei pelo foie gras de entrada e vieras de principal (menos um item na lista de desejos); mamãe optou por duas entradas que, para ela, pareceram mais interessantes que as opções de principais: uma seleção de vegetais Arcimboldo e um creme morno de cogumelos sobre ovos de codorna mollet e crisp de presunto Iberico.

O foie gras era dos bons, coisa fina mesmo, super cremoso e sem o menor sinal de gosto de miúdos. Mas faltou contraste no conjunto, eram três bloquinhos de foie acompanhados de pêras cozidas envoltas em pó de cacau e uma redução adocicada que não sei dizer ao certo do que era, além de um crisp tão fininho que mais parecia uma renda. Visualmente, era lindo, mas na prática, senti falta de algo crocante para contrastar com o aveludado do foie, somente com a pêra acabou ficando enjoativo e perdido na boca.



Os vegetais tinham a melhor textura possível, cada um com suas características preservadas no método de cocção, mas o creme de cenoura e beterraba não acrescentava nada em termos de sabor, portanto o todo era um tanto quanto monótono. Mais uma vez, o aspecto visual era ótimo, porém decepcionava no paladar.



A segunda entrada da mamãe veio com o meu principal, porém em termos de quantidade de comida no prato, a entrada era mais farta que meu prato de vieiras. Dessa vez fiquei decepcionada de verdade com a quantidade, em que planeta um prato com QUATRO vieiras pode ser considerado principal? E mais, em que mundo um prato com QUATRO vieiras pode custar 43 euros? Ok, posso ser gulosa e tal, mas essa foi demais, me senti ultrajada e quando isso acontece, nenhum aspecto positivo que o restaurante possa ter vai me fazer voltar ou recomendar a alguém, portanto a conclusão deste post vocês já sabem. Sim, estavam corretas, mas nada além disso e o mínimo que um lugar desses pode fazer é servir vieiras no seu ponto correto. O creme de cogumelos estava surpreendentemente bom, já que talvez não esperássemos muito de um creme de cogumelos...


Sério? Quatro?



Antes da sobremesa, mais uma cortesia, dessa vez um copinho com um creme de caramelo que estava divino e saciou por completo qualquer vontade que eu pudesse ter de comer doces. Já minha mãe, formiga que é, quis pedir o Saint Honoré, um doce tradicional francês com base de massa folhada, carolinas recheadas com Creme Anglaise, chantilly e morangos. Segundo ela, estava bem gostoso, mas eu nem quis experimentar tamanha minha birra com o prato de vieiras.




Mais um agradinho - talvez pra compensar o tamanho ridículo do prato principal

O Senderens não é um restaurante barato, as entradas custam cerca de 30 euros (meu foie gras custou 36 euros) e os principais giram em torno de 50 - 60 euros. Além das taças de champanhe a 22 euros cada, tomamos também uma taça de Borgogne por 13 euros. No total, nossa conta foi de 223 euros (acrescente a isso 15% de serviço), ou seja, a experiência deveria ter sido bem melhor para que existisse alguma boa relação custo x benefício. Para o jantar que tivemos, considero apenas uma experiência cara.



Senderens Paris

www.senderens.fr



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ainda em Paris: Gourmard

Gourmard – Chef Philippe Dubois (1 estrela no Guia Michelin)

Foi por acaso que descobri este lugar, fuçando no Guia Michelin quando procurava por um restaurante estrelado perto do meu hotel. Não tinha conseguido reservar o Taillevent nem o Le Tour D’Argent para esta noite e não me restavam opções senão telefonar para tentar uma reserva em algum lugar bacaninha. No final das contas, este restaurante se tornou uma grata surpresa para nós, tanto pelo ambiente quanto pela sua cozinha.

Da rua não se tem a exata noção do estilo, já que o salão principal fica no andar de cima. Embaixo, somente a recepção, boulangerie (própria) e cozinha. Logo que se chega ao meio da escada já é possível notar traços da decoração ultra moderna, em tons escuros, com iluminação arquitetural e indireta. São dois salões com mesas bem próximas, sofás em veludo escuro, cortinas e espelhos pretos, lustres de cristal. A freqüência é de Parisienses em sua maioria, não vi turistas, com exceção de dois executivos na mesa ao lado, falando em inglês.

A cozinha do chef Philippe Dubois tem ênfase nos peixes e frutos do mar – há um bar de ostras, que aliás, faz parte da cultura parisiense, eles adoram a iguaria e entendem muito do assunto. Descobri que há diferentes variações de ostras, inclusive divididas de acordo com critérios como concentração de iodo, aroma de nozes ou seu terroir (!). Confesso que prefiro ostras em preparações quentes (fritas, gratinadas ou como ingrediente de massas e risotos), mas não sou muito fã da versão in natura, direto da concha (pronto, podem me linchar virtualmente, sei que serei massacrada pela confissão), por isso não pedi o prato com 6 ou 12 unidades. Mas recomendo para quem gosta, porque o aspecto visual era incrível, nunca vi ostras tão grandes!

Enquanto escolhíamos, fiquei entretida com o amuse bouche, um patê de bacalhau bem gelado com torradinhas de baguette na manteiga. A manteiga é sempre ótima, seja pura ou aromatizada, não tem manteiga ruim na França – nem pão, são sempre excelentes, portanto qualquer couvert é uma atração.

Para começar, escolhi o salmão marinado por 24h com creme de wasabi. Para variar, minha mãe que não gosta dos amigos do mar ficou com a única opção que lhe restava, a famigerada salada verde. Para o prato principal, escolhi um peixe que não conhecia (talvez o nome em português seja Pregado, mas não estou certa) acompanhado de risotto de rúcula. Mamãe foi de carne de novo...zzzzz, um medalhão de filé mignon com batatas e cogumelos. Vocês irão notar, ao longo dos diversos posts sobre a França, que costumo escolher muitos pratos que levam peixes e frutos do mar. Isso porque valorizo a cultura deles de consumir apenas o que é fresco, praticamente tudo é pescado no mesmo dia, com uma logística eficiente de entregas em todas as regiões distantes do litoral (é o caso de Paris, por exemplo). Nada é congelado e aquilo que não é consumido no dia vai para o lixo – pelo menos nos restaurantes de alto nível. Isso quem me afirmou foi meu professor, um chef de cozinha que teve como formação o hotel Ritz de Paris, profundo conhecedor da gastronomia francesa, principalmente dos bastidores.

Obs.: Comecei a escrever este post no trem a caminho de Lyon, justamente quando meu celular resolveu seguir viagem sem mim. Com isto, justifico que este post não terá fotos... se bem que fotos de celular não são apreciadas pelos leitores deste blog, por isso prometo que os próximos terão fotos de alta qualidade, feitas com minha câmera semi-profissional, aquela que minha mãe morre de vergonha quando eu tiro da bolsa para fotografar os pratos... tudo em prol da qualidade de informação para você, leitor!

O salmão marinado veio em nacos carnudos e macios, tão brilhante como um peixe fresquíssimo deve ser. A marinada era muito leve e o creme de wasabi dava potência ao prato, acompanhado de salada de folhas diversas temperadas com azeite virgem e mostarda Dijon.

O prato principal veio em uma panelinha de ferro (cocotte), com o filé de peixe sobre o risotto. Apesar de não ser uma especialidade dos franceses, o risotto estava perfeito em termos de sabor e textura. O peixe, como sempre, fresco e no ponto ideal, com interior macio e suculento e exterior levemente crocante. O que pode não agradar é a quantidade, já que a cozinha francesa é conhecida por suas pequenas porções e até para um leitor novato fica fácil perceber que sou uma verdadeira glutona. Confesso que fico com receio de sentir fome, mas até agora não precisei pedir outro prato ou passar na boulangerie ao lado do hotel para comprar um sanduíche para a ceia... por isso que os franceses são magros, além de comer pouco, andam muito a pé e a comida em si tem menos sal, nosso paladar está mal acostumado - talvez seja culpa do nosso amado hábito de fazer churrasco, a quantidade de sal grosso que utilizamos em uma peça de picanha deve ser o que eles consomem aqui em uma semana...

Mais uma vez passei vontade quando vi um prato de vieiras sendo servido na mesa ao lado. Além do steak tartare, agora precisaria saciar o desejo de vieiras, aqui conhecidas como Coquilles Saint Jacques. Desejos se acumulando, isso me preocupa...

Para acompanhar, seguimos as sugestões dos vinhos em taça que estavam ao lado de cada prato do menu: um Chardonnay para a entrada e um Saint Joseph do Rhône para o principal, ambos ótimos e servidos na temperatura ideal.

De sobremesa, mamãe escolheu um Gateau Basque, um bolinho com figos. Pela primeira vez um desapontamento com a sobremesa, o bolinho era seco e desinteressante, nem o ótimo chantilly conseguiu salvar... não quis sobremesa dessa vez, tinha me entupido dos ótimos macarons do café Angelina naquela tarde e meu limite para doces é baixíssimo. Aliás, se minha opinião sobre macarons interessar a alguém, os do café Angelina são muito melhores que os da Fauchon e da Ladurée juntos. Estas duas são verdadeiras grifes gastronômicas, mas em termos de doces e na minha modesta opinião, o café Angelina é imbatível.Tudo aquilo que se torna muito famoso e vira grife internacionalmente conhecido pode correr o risco de perder a qualidade no processo de produção, devido à larga escala necessária para atender a demanda em constante crescimento. É impossível manter a qualidade do produto final, fabricado artesanalmente, quando se passa a produzi-lo de maneira industrial. Ponto para o Café Angelina, que ocupa o mesmo salão na Rue de Rivoli há mais de 100 anos...

Em termos de valores, a conta no Gourmard deu um total de 160 euros. Mais uma boa opção em Paris com ótima relação custo x benefício, ainda mais em se tratando de um restaurante com uma estrelinha no Guia Michelin. Recomendadíssimo pelo M.O.Q.B!

Gourmard
9, Rue Duphot - 75001 Paris
Tel: 33 1 42 60 36 07
www.gourmard.com



domingo, 28 de outubro de 2012

França - Parte 1: Paris. Para iniciar a viagem, Le Train Bleu

Bonjour mesdames et messieurs! Eis que vos falo diretamente da França, país onde estou por dois principais motivos: o primeiro deles é profissional, pois Paris é sede de dois salões internacionais de gastronomia - o Sial, que é o salão onde expositores de diversos segmentos alimentares apresentam novidades em termos de produtos e técnicas e o Salão do Chocolate, principal e mais importante evento do mundo no segmento de chocolates.

Já o segundo motivo (e não menos importante) é porque vim em busca de boa comida e acredito que esteja em um dos melhores destinos gastronômicos do planeta, por isso minha viagem não se restringe somente a Paris, também estão incluídos no trajeto da gula a cidade de Lyon (berço de Paul Bocuse) e algumas da região da Provence, como Nice, Cannes, Marseille, Aix en Provence... ou seja, a partir de hoje os posts serão dedicados ao que tenho comido por aqui.

Para iniciar a viagem, Le Train Bleu, um restaurante histórico e incrivelmente bonito, localizado na Gare de Lyon, uma das principais estações de trem de Paris. Sua decoração é riquíssima, com pinturas e esculturas no teto dos três enormes salões, feitas para a grande Exposição Mundial, evento que a cidade sediou em 1900 e para qual muitos dos monumentos da cidade foram construídos (inclusive a Torre Eiffel) e, para nossa sorte, continuam fazendo de Paris uma das cidades mais belas do mundo. O restaurante é uma instituição de Paris e algumas personalidades tornaram-se habitués ao longo de sua existência, caso de Coco Chanel, Salvador Dalí, Brigitte Bardot, dentre outros.



O Le Train Bleu já mereceria uma visita somente pelo seu apelo estético, mas a comida está à altura de sua beleza, o que faz do restaurante um programa imperdível para os bons comensais. O serviço é impecável – assim como em todos os restaurantes que estive na França – com direito a finalizações no próprio salão, caso do Steak Tartare, que é preparado à minuta, às vistas do cliente.


Com relação à reserva, aqui cabe uma ressalva importante: na França, não se vai a um restaurante sem reserva e ponto final. Nem que seja preciso telefonar da porta do lugar e pedir uma reserva para daqui 10 minutos, caso contrário, prepare-se para lidar com o mau humor do maître ou com a indisponibilidade de mesa, já que os restaurantes ficam bem cheios independente do dia da semana. Minha sugestão é que se planeje com atencedência os lugares que deseja conhecer e faça suas reservas o quanto antes. Alguns lugares oferecem opção de reservar pela internet, mas é a minoria, então gaste o seu francês com pelo menos duas frases, a que você explica que não fala francês e a outra em que pede permissão para falar em inglês, daí o caminho estará livre e você pode conquistar alguma simpatia e até conseguir uma mesa para um dia cheio.

Isto posto, vamos ao que realmente interessa: o jantar em si. Acomodadas em nossa mesa, tivemos tempo de explorar o menu com calma. Em sua grande maioria, os pratos são os clássicos da cozinha francesa tradicional, aquela cuja base é a gordura da manteiga e do creme de leite. Minha vontade era escolher umas três entradas, mas optei pela que mais me apeteceu: Raviólis de escargot e cogumelos, com espuma de aspargos verdes. Mamãe optou pela lingüiça de pistache com tomates confit e alcachofras. Para o prato principal, quis experimentar o bacalhau fresco com ovo mollet e trufas negras, já que aqui o autêntico peixe das águas geladas do mar do norte chega fresquíssimo, diferente do Brasil onde só encontramos o bacalhau salgado e seco (ou o congelado, mas essa não é uma opção para mim). Mamãe foi de filé Rossini, um corte alto de filé mignon, com batatas gratin. Para acompanhar nosso jantar, escolhemos na gigantesca carta de vinhos um branco da região da Alsácia que caiu muito bem tanto com a entrada quanto com o prato principal (melhor harmonizado com as minhas escolhas do que com as da mãe, porém como ela prefere os brancos, fiquei em paz).

Meus raviólis de escargot eram espetaculares, com massa tão fina quanto uma folha de papel, recheio farto, saborosíssimo e um molho leve que cumpria perfeitamente seu papel de coadjuvante. Os escargots se misturavam aos cogumelos, porém era possível distinguir a diferença de textura entre cada ingrediente. Ao contrário das porções tradicionais francesas, esta era farta, com 3 grandes raviólis bem recheados. Assim como todos os embutidos franceses, a lingüiça era ótima, de sabor forte e proporção corretíssima entre carne e gordura. O confit de tomates era picante e combinava bem com a rusticidade do prato.



Detalhe do recheio farto de escargots e cogumelos


Linguiça de pistache

Na sequência, os principais: o peixe veio em uma posta alta, macia e brilhante, com nacos que se soltavam facilmente, atestando o frescor da carne. O ovo mollet tinha aquela gema dourada e gelatinosa, fazendo par perfeito com as raspas de trufa negra e os aspargos verdes. O conjunto era excelente, mas o peixe realmente se sobressaía, muito devido ao método de cocção no vapor, que preservou suas melhores características.

É claro que a gema estava perfeita!

Quanto ao filé, se tem algo que eu amo na França é que eles nunca erram o ponto. Pelo menos no meu caso, que só como carne muito mal passada, nunca preciso ficar explicando como é o ponto que eu gosto, mesmo porque foram eles que inventaram o ponto BLEU. Já no caso da minha mãe, que prefere ao ponto para mal-passado, a carne estava mal-passada. Mas ok, ela preferiu não se manifestar, até porque ela sabia que eu iria comer uma parte do prato dela e o ponto estava ótimo para mim... mãe é mãe... Com relação à maciez, era daqueles filés que se cortam com colher, uma verdadeira manteiga. As batatas gratin não poderiam ser melhores, mas tai um acompanhamento que não se pode errar na França, deve fazer parte da primeira aula de qualquer escola de gastronomia.


Filé alto e mal passado, como deve ser

Após terminarmos os pratos, enquanto bebericávamos o resto do vinho e aguardávamos para escolher a sobremesa, o maître resolveu fazer um steak tartare bem na minha frente, para a mesa ao lado. Sou apaixonada por tartare e logo cresci os olhos para aquele ritual, pensei seriamente em trocar minha sobremesa pelo tartare mas logo me contive, seria muita gula (ou o verdadeiro significado do título deste blog).


De sobremesa, um clássico Millefeuille com crème Anglaise e caramelo, só para me certificar de que a confeitaria do local não fugiria à regra. Dito e feito, o doce estava um espetáculo de bom, com massa folhada de verdade, aquela que derrete na boca (sim, tem muuuita manteiga naquilo, cada dobra da massa leva uma camada de manteiga e são muitas dobras para que a massa possa folhar no forno) e o creme tinha textura leve, com baunilha de verdade, um conjunto perfeito com o caramelo.



Satisfeitíssimas – e com vontade de voltar andando para o hotel para tentar minimizar o estrago de tanta comilança – pedimos a conta: 190 Euros (+ 15% de gorgeta). Se levarmos em consideração o lugar, a qualidade dos pratos e o vinho, definitivamente não é um jantar caro e o custo benefício é ótimo. Recomendo o Le Train Bleu para qualquer um de passagem por Paris que aprecie a cozinha clássica francesa, além do cenário belíssimo e serviço impecável. Obs.: Excusez-moi pelas fotos de celular, sei que não são das melhores, mas é o que temos para o momento. Para quem quiser dar uma olhada no site oficial do lugar, as fotos não mentem quanto à decoração.



Le Train Bleu
Gare de Lyon, Paris
www.le-train-bleu.com

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Novidade com potencial para favorito: Taverna do Chef Nico

Não vou mentir para ninguém, é fato que estava bastante ansiosa pela inauguração da Taverna do Chef Nico, restaurante do chef siciliano Nico Ferdico, recém chegado dos Estados Unidos com uma bagagem de experiência que vem desde muito cedo. A trajetória do chef, natural de Palermo, pode ser vista na página do restaurante, cujo endereço segue no final desta postagem. O que posso resumir é que sua cozinha, tipicamente siciliana, é das mais saborosas que já tive oportunidade de provar.

Diferentemente da esmagadora maioria dos restaurantes no Brasil, o chef só utiliza peixes e frutos do mar frescos, jamais congelados; as linguiças são feitas lá mesmo, a cada novo carregamento de porco; as massas caseiras são feitas como manda a tradição, com farinha de qualidade e ovos, caso do fettuccine, ravioli, nhoque (de batata mesmo) e lasagna. Alguns ingredientes são importados da Itália, caso do presunto parma, do Speck (um presunto cru levemente defumado), da pancetta, do Pecorino e do Parmigiano Reggiano, além do azeite trufado e tomate pelado.

Tive a oportunidade de acompanhar de perto o trabalho do chef durante dois serviços de jantar e o que vi foi um profissional extremamente experiente, eficaz e bastante focado no resultado final de cada prato. Os anos de trabalho nos Estados Unidos se refletem nos padrões rígidos do chef com relação a diversos aspectos, como temperatura (ele não larga seu termômetro), higiene e qualidade de tudo o que entra e sai da cozinha, desde a matéria prima até o prato finalizado. Nada deixa a cozinha sem passar por seu crivo, estabelecendo assim um padrão de qualidade que, certamente, irá garantir a regularidade de seu trabalho.

A cozinha

O salão é simples, mas decorado com capricho. A cozinha pode ser vista através de uma abertura envidraçada. Durante o dia, o restaurante conta com boa iluminação natural e à noite, com iluminação amena e agradável que o torna aconchegante. O serviço é atencioso, porém carece de treinamento - sei da dificuldade em se encontrar mão de obra de qualidade neste segmento, ainda mais em uma cidade em que quase não há desemprego, mas sei também que os donos têm consciência da situação e se esforçam para deixar a equipe afiada. De qualquer forma, nada que comprometa a refeição, somente alguns pequenos deslizes que podem ser evitados com orientação.




Para este post, vou falar sobre duas visitas que fizemos ao restaurante: a primeira durante o jantar e a segunda, no brunch de domingo - sim, tem brunch na Taverna! Chegaremos lá, mas primeiro o jantar:

O menu conta com opções de atenpastos frios e quentes, saladas, massas e risotos, frango, carne vermelha, peixes e frutos do mar e, finalmente, sobremesas. Muitas das receitas são tradicionais da região do chef, outras são clássicos da culinária italiana. Para começar, enquanto escolhíamos os pratos, pedimos a Tagieri di Salumi, tamanha era nossa expectativa para provar os deliciosos embutidos italianos. O chef nos fez uma "meia-porção", pois a porção inteira é suficiente para 4 pessoas. Finas fatias, cortadas na hora, de Parma, Speck, pancetta e salame, acompanhadas por cubos do autêntico Parmigiano Reggiano com mel e do Pecorino com azeite trufado, além de pimentões grelhados. Os frios são realmente especiais, úmidos e macios, com destaque para a pancetta e o Speck, os favoritos na minha opinião.

Tábua de maravilhas

Acatamos a sugestão do chef com relação às massas: Spaguetti Isabella - com frutos do mar fresquíssimos - para o maridão e Involtini di Melanzane para mim - um clássico siciliano, com capellini ao sugo, envolto por fatias de beringela e gratinado ao forno com molho Béchamel.

A carta de vinhos tem boas opções com ótima relação custo x benefício e conta com apresentação didática sobre quais pratos harmonizam com cada rótulo. Para nosso jantar, escolhemos o Farnese Montepulciano D'Abruzzo, um simpático tinto italiano que cumpriu bem seu papel.

Os pratos vieram logo e a primeira impressão foi ótima: além da boa apresentação, as porções são fartas! O spaguetti do maridão era aromático e tinha grande quantidade de frutos do mar. O fescor dos ingredientes refletia no sabor do prato, aquele gostinho suave de mar, contrastando com um molho levemente picante. Não preciso nem dizer que o ponto de cozimento da massa estava perfeito, um al dente que só os italianos conseguem fazer sem dar aquela sensação de rigidez na mordida.

Spaguetti

Meu prato estava espetacular, riquíssimo em sabor, contrastando massa fininha e delicada com a rusticidade da beringela e do molho. Definitivamente, um Involtini para chamar de meu favorito.

Involtini

A verdade é que uma única visita não é suficiente para experimentar o que a Taverna oferece de melhor. Fiquei louca por vários dos pratos do menú, caso dos arancini, que são aqueles bolinhos de arroz arbóreo; da Mozzarella in Carozza, que são camadas de mozzarella fresca, pão e manjericão empanados, servida com molho de anchovas e alcaparras; do Fettuccine alla Norma, com molho tomates, beringela frita, ricota siciliana e manjericão; do Rollatini Taverna, um peito de frango envolto em bacon defumado, recheado com Parma e mozzarella fresca, cozido com molho de vinho Nero D'Avola, dentre tantos outros.

Para a sobremesa, mais uma sugestão do chef: Fragole all aceto Balsamico di Modena, ou seja, morangos assados no balsâmico com biscoito champagne grelhado e sorvete de baunilha. Uma sobremesa que tem contrastes como quente e frio e doce e ácido não tem como não ser uma delícia, é inevitável.
Fragole

É bacana constatar que, além da preocupação com a boa comida, na Taverna os preços praticados são justos - isso no jantar, pois no almoço há sistema self service por incríveis 21 reais por pessoa. No buffet sempre há duas opções de massa, uma de carne vermelha, uma de frango e uma de porco, além de acompanhamentos e saladas. O brunch de domingo - uma novidade muito bem vinda, diga-se de passagem - merece destaque. Menos breakfast e mais lunch, há opções de frios como salmão defumado, beringela e abobrinha grelhadas, embutidos de alta qualidade e saladas, bem como os pratos quentes, como massas, carnes e acompanhamentos como beringela à parmegiana e arancini.

Na minha visita, as opções de massa eram Penne e Lasagna Clássica; também havia a linguiça caseira grelhada com cebola e pimentões, beringela à parmegiana, lombo recheado com molho de shitake, filé à parmegiana, frango assado com batatas e arancini. Além do buffet, o chef prepara na hora ovos mexidos com bacon (daqueles absurdamentes crocantes, como só quem morou nos EUA sabe fazer), acompanhados de deliciosas french toasts e frutas. Uma taça de tinto ou prosecco como cortesia, além de sucos e água inclusos no valor do brunch, a 44,90 por pessoa - sem dúvida nenhuma, um ótimo negócio para o almoço de domingo, ainda mais para "comilões" como eu!

Defumados
Pães diversos

Buffet frio

Típico de brunch: ovos mexidos, bacon, french toasts

Penne e Lasagna

Arancini e Filés a parmegiana

Beringela e linguiça caseira

Lombo e Frango

Costumo ficar feliz com novidades, gosto de saber que temos novas opções, outro dia mesmo estava desesperada por algo novo e diferente, lembram-se? Pois é, no caso da Taverna, não só fico feliz por ser uma novidade cujo cardápio ainda quero desbravar, mas também pelo fato de ter conhecido a ótima cozinha de um chef autêntico, profissional e extremamente apaixonado pelo seu trabalho, o que se reflete em pratos ricos em sabor e personalidade.
Desejo sucesso e vida longa à Taverna do Chef Nico!

www.tavernadochefnico.com.br
Av. Independência, 5.879
Vinhedo
fone: 3886-7644



terça-feira, 31 de julho de 2012

Degustação no La Campagna

Dia desses tive o prazer de participar de uma das degustações de vinhos italianos que o La Campagna promove uma vez ao mês, com rótulos selecionados pelo sommelier e proprietário Davide Lodato. Além de preparar uma detalhada apresentação sobre os vinhos da noite, Davide também passa seus conhecimentos sobre os aspectos a serem observados em uma degustação e promove uma saudável discussão entre os presentes sobre as descobertas de cada um em relação ao aroma e sabor encontrados em cada taça. Diferente das degustações que tenho ido em São Paulo - como, por exemplo, o Wine Dinner no Arola Vintetres, sobre a qual falamos aqui - no La Campagna o assunto vai muito além de bons goles harmonizados com algum prato; o que rola é uma verdadeira palestra, uma aula sobre os vinhos em questão, sobre os aspectos de seus terroirs, uma interessante troca de informações e impressões. Legal mesmo é ter livre acesso à farta mesa de antipasti, cheia de ótimas opções de queijos, frios, inúmeras receitas de berinjela, bolinhos e etc, tudo nadando em excelente azeite.


Depois de servida a última taça, um prato de pasta quentinha e reconfortante sai da cozinha direto para as mesas, mas quem decide o que será servido é a comandante da cozinha, a Dona Carmela, que apenas pede ao filho que a avise quando a degustação começar.



Na ocasião em que estive presente, o tema era "Vinhos que nascem às sombras dos vulcões italianos", ou seja, Davide selecionou seis rótulos de vinhos cujas uvas são cultivadas nas áreas próximas aos vulcões como Etna e Vesuvio, cujos solos têm características bastante peculiares, bem como suas uvas.
Segue o "wine list" da noite:

1. Aglianico de Vulture - Feudo Monaci
2. Aglianico Campania - Terredora
3. Lacryma Christi del Vesuvio - Mastroberardino
4. Salina Rosso - Caravaglio
5. Etna Rosso - Tenuta Delle Terre Nere
6. Neretna - Tenuta Chiuse del Signore

Conforme o Davide ia passando os slides com fotos de vinícolas, parreiras e cenários magníficos, as taças iam chegando à mesa. A cada vinho, uma pequena troca de impressões, algo saudável para permitir a interação entre os comensais (as mesas são coletivas, como de costume em degustações). 


Difícil falar minhas impressões sobre todos os vinhos, pois não fiz anotações e o intuito não é me aprofundar no assunto aqui no blog, mas a grosso modo, meu favorito foi o segundo vinho, seguido do quinto; não gostei do terceiro; o primeiro e o quarto eram bons, bem diferentes entre si, o quarto tinha um aroma forte de enxofre no início, mas depois se abriu em algo agradável; o último tinha uma impressão "gaseificada" na língua, porém nem todos sentiram. Um possível motivo, segundo o Davide, é o tipo de água presente nos solos vulcânicos. Enfim, para cada vinho uma explicação, achei bastante elucidativa a forma como a degustação foi conduzida.

Como há um mailing de participantes "fixos", muitos já se conhecem e o clima é agradável. Para participar, no entanto, é necessário entrar em contato com o Davide, através do e-mail ou telefone, manifestando interesse. As degustações ocorrem nas últimas sextas-feiras de cada mês e o tema é diferente a cada evento, porém sempre sobre vinhos italianos. O valor por pessoa, geralmente, é de 80 reais, mas pode variar conforme os rótulos da noite, caso desta na qual estive presente, cujo valor era de 100 reais. Além dos vinhos, inclui os antipasti e um prato de massa. Em comparação aos valores das últimas degustações em que fui, diria que o preço está ótimo - ainda mais considerando que, em nenhuma outra vi este nível de explicação e detalhamento sobre os vinhos. Enfim, gostei muito e recomendo para qualquer um que queira provar ótimos vinhos, acompanhados de maravilhas da culinária italiana e do conhecimento de uma pessoa que entende muito do assunto e que ama o que faz. 

La Campagna Ristorante
fone: (19) 3298-6572
www.lacampagna.com.br


terça-feira, 17 de julho de 2012

Nossas escolhas

O post de hoje é dedicado à discussão acerca de nossa participação no júri de Restaurantes da edição 2012/2013 da Veja Comer & Beber. Vou explicar minhas escolhas e dizer o que penso sobre o resultado de cada categoria.

Bom, daí que um dia recebi um e-mail da Veja me sondando para compor o júri desta última edição e, na sequência, um telefonema para explicar como é feita a votação. O que eles procuram são pessoas que já têm algum envolvimento com a "cena gastronômica" da cidade (odeio este termo "cena gastronômica", mas não consigo substituí-lo por nada com o mesmo significado) e que tenham condições de emitir votos por memória, ou seja, não é para sair comendo em todos os lugares para eleger seus favoritos, mesmo porque não há muito tempo para votar (no meu caso tive uma semana).

Notei que muitos blogueiros fizeram parte deste júri, o que me deixa feliz com o reconhecimento à nossa "classe" - a exposição em um veículo de grande circulação atrai mais leitores e isso é legal para quem escreve por conta própria em um espaço auto-patrocinado (não é o caso de todos os blogs, mas é deste aqui, com muito orgulho). Desde o primeiro contato da revista até seu lançamento, no dia 12 passado, segui a orientação de não comentar com ninguém sobre minha condição de jurada, mas confesso que morria de vontade de compartilhar com você, leitor, as minhas escolhas.

Então vamos lá, criei o seguinte esquema para organizar as idéias: categoria, meu voto, o vencedor e meus comentários sobre minha escolha e sobre o premiado.

Categoria: Melhor Brasileiro/Regional
Meu voto: Bar do Marcelino
Vencedor: Bar do Marcelino

Não tive muitas dúvidas nesta categoria, já que sempre penso no Marcelino quando quero comer uma boa feijoada ou quando bate aquela vontade de dar uma volta no cenário bucólico de Joaquim Egídio em um dia de sol. Gosto de onde o restaurante está instalado, de sentar nas mesas próximas das portas para acompanhar o movimento na rua de paralelepípedos, de pedir ovo frito como entrada e chuchar o pão na gema mole... enfim, talvez se tivéssemos na cidade um representante de peso da comida sertaneja meu voto fosse outro, mas o Bar do Marcelino, por enquanto, cumpre muito bem o papel de melhor brasileiro.

Categoria: Melhor Carne
Meu voto: Barbacoa
Vencedor: Barbacoa

Taí uma categoria que ilustra nossa falta de um verdadeiro "templo da carne" na cidade. Não gosto de votar em restaurante de rede, acho que a cidade sempre deve ter um representante "nativo" como vencedor, mas neste caso tive dificuldades para votar. Acho que o Barbacoa leva sua carne muito à sério e é isso que eu procuro quando tenho ganas carnívoras. Quero comer o melhor corte, feito com o melhor método de cocção para aquele corte e no ponto exato que eu pedi. No Barbacoa, paga-se caro pela carne, mas minhas expectativas são sempre atingidas - ou superadas - quando meu pedido chega à mesa. Além de contar com cortes especiais, provenientes da Argentina e Uruguai, o Barbacoa utiliza o char broiler para grelhar suas carnes - na minha opinião, o melhor método dentre todos, pois preserva o interior da carne, selando rapidamente o exterior e não permitindo que ela perca seus sucos, o que confere total maciez.

Mas ainda sinto falta por aqui de uma bela churrascaria com sistema de espeto corrido, no melhor estilo Fogo de Chão, cujo foco são as carnes, porém os acompanhamentos são de altíssima qualidade, com ingredientes nobres. O que vejo nas representantes da categoria é muita carne esturricada ou fria chegando à mesa, garçons querendo te empurrar linguiça e frango, saladas com muita maionese e batata palha e carrinhos de sobremesa parando ao seu lado quando você ainda tem picanha no prato...


Categoria: Melhor cozinha de Peixes e Frutos do Mar
Meu voto: Idalvo's
Vencedor: Idalvo's

Confesso que fiquei em dúvida entre o Idalvo's e o Bar da Praia, em Jaguariúna, mas meu voto foi decidido com base na regularidade e no frescor absoluto de tudo o que é servido no Idalvo's, dia após dia. É um lugar extremamente simples, em um bairro relativamente afastado do burburinho gastronômico da cidade, mas está lá firme e forte há 20 anos, servindo pratos fartíssimos e maravilhosamente executados. Não é barato comer no Idalvo's, mas toda essa logística de transporte e armazenamento de ingredientes tão delicados tem seu preço. É mais honesto assim, prefiro pagar o preço justo por uma refeição dessas do que uma pechincha para comer peixe congelado e camarão chiclete...


Categoria: Melhor Pizzaria
Meu voto: Bráz
Vencedor: Bráz Esse voto foi o mais fácil, rápido e convicto da minha lista. Para o meu gosto, a pizza campeã é deles e ponto final, sem delongas.


Categoria: O Bom e Barato
Meu voto: Spice
Vencedor: Spice

O Spice é daqueles lugares que sempre me vem à cabeça quando quero um almoço saudável, gostoso, rápido e barato. Em tempos de lanches a 20 reais nas redes de fast food, um almoço com buffet à vontade, com inúmeras opções de saladas, quiches, caldos, pratos quentes e sobremesas a menos de 30 reais já seria incrível por si só, mas fica melhor ainda sabendo que há muito rigor na escolha dos ingredientes e esmero no preparo, o que resulta em receitas extremamente saborosas e saudáveis. Como se não bastasse, o restaurante tem um ambiente agradabilíssimo, em uma das ruas mais gostosas do Cambuí. O Spice merece um post só para ele, o qual farei em breve.


Categoria: Melhor Carta de Vinhos
Meu voto: Gallo Nero
Vencedor: Olivetto

Para os leitores do blog, minha opinião sobre o Olivetto não é novidade (para quem não viu, o post pode ser conferido aqui) . Mas vamos nos ater ao quesito em questão, que é a carta de vinhos. Meu critério de avaliação teve como base a quantidade de rótulos à disposição e a forma em que se apresentam na carta. Talvez os representantes das gerações mais tradicionais e conservadoras discordem de mim, mas sou fã do uso do tablet que o Gallo Nero implementou, com um aplicativo que me permite preencher diferentes critérios para sugerir o vinho mais adequado para minhas preferências. Lógico que ele não substitui a figura do sommelier, mas confesso que, pessoalmente, adoro quando um gadget se torna útil no âmbito eno-gastronômico e não resisto aos seus encantos.

Além disso, em números brutos e de acordo com o que pude apurar, a carta do Olivetto conta com cerca de 700 rótulos, enquanto a do Gallo Nero conta com cerca de 1.600 rótulos. Como se não bastasse o critério da quantidade de rótulos, ainda usei minhas experiências em ambos os restaurantes para chegar à conclusão de que, um excelente vinho merece ter a companhia de um prato executado à sua altura e, nesse quesito, o Gallo Nero nunca me desapontou...


Categoria: Melhor Francês
Meu voto: La Palette (The Royal)
Vencedor: Le Troquet

Minha escolha pelo La Palette (e não pelo Le Troquet) deve-se a um conjunto de fatores e não somente à analise da comida em si. Enumero a seguir alguns destes fatores:
1 - sou fã do chef Daniel Valay;
2 - o cardápio do La Palette é mais dinâmico que o do Le Troquet, com novas opções a cada estação; 3 - o ambiente intimista de bistrô me agrada mais que o grande salão do Le Troquet;
4 - não me conformo com a mesmice dos acompanhamentos da maioria dos pratos do Le Troquet, sempre as cenouras, batatas e creme de espinafre;
5 - no conjunto da obra e na minha opinião, o La Palette é o melhor restaurante de Campinas.

Em muitos outros quesitos, os restaurantes se assemelham, mas voto é uma questão de gosto pessoal e isso, já sabemos, não se discute (alguns concordam, outros lamentam...).


Categoria: Melhor Oriental
Meu voto: Lagundri
Vencedor: Kindai

Essa escolha também foi certeira, pensei no Lagundri de cara, não tive dúvida nenhuma. Se o Kindai é um bom restaurante? Claro que sim, inclusive um japonês que se destaca dentre tantos outros na cidade, não só pela ambientação, mas pelo cardápio diferenciado, frescor dos ingredientes e corretíssima elaboração dos pratos. Mas se tem um lugar que é diferente de tudo, esse lugar é o Lagundri. Diferente em termos de cozinha, exótico em termos de experiência, prioriza a escolha de ingredientes originais (tendo em vista que precisam ser importados, o mérito do restaurante é ainda maior)... para mim, o Lagundri está em outro nível. Não sei se é justo colocá-lo em uma mesma categoria que os japoneses, pois são cozinhas tão diferentes que os critérios para julgar não podem ser os mesmos. Enfim, uma pena o Lagundri não ter vencido, pois para mim é um dos melhores restaurantes da cidade e, sem dúvida, o melhor oriental/asiático.


Categoria: Melhor Italiano
Meu voto: La Campagna Ristorante
Vencedor: Bellini

  Para os leitores do blog, não é segredo minha predileção pelo La Campagna, inclusive o primeiro post foi dedicado a este autêntico representante da culinária siciliana. Mas os anos passam, as pessoas buscam por novidades - assim como eu - e o ótimo italiano quase não é mais indicado na publicação. Gosto do Bellini, gosto do Fellini, gosto do Duo (se tivesse um prêmio para a melhor polenta, eles ganhariam disparado), adoro o Bertazzoli em Vinhedo, adoro o Gallo Nero, mas amo o La Campagna... simples assim. Os antepastos são divinos, me acabo com cada item daquela mesa, as infinitas formas de preparar beringela, tudo nadando em azeite extra virgem, rústico e intenso. Gosto dos pratos do cardápio siciliano, pois sei que a dona Carmela tem mais satisfação em prepará-los do que os do cardápio tradicional e cozinha é isso, é paixão. E nada melhor do que terminar a refeição com autênticos Canolli, raridade nos cardápios da grande maioria dos restaurantes italianos. Comer no La Campagna é uma experiência que me agrada do começo ao fim, sem tirar nem por.


Categoria: Melhor Variado
Meu Voto: Théo Medeiros
Vencedor: Théo Medeiros

Essa categoria pode ser ingrata, pois abrange de tudo e não foca em nada. Um variado pode ser qualquer restaurante que não tem uma cozinha específica, então a concorrência é gigantesca. Mas a peneira está em separar quem faz de tudo de quem faz com maestria, aí sobram poucos no páreao. E, apesar das várias opções, meu voto foi rápido e certeiro, pois em alguma categoria eu teria que incluir o restaurante do chef Théo, considerando que gosto muito de tudo o que ele faz. No caso do restaurante homônimo, gosto da comida, gosto do ambiente, gosto de serviço e o preço é justíssimo, então, voilá! Théo Medeiros como o melhor variado.

Categoria: Restaurante Revelação
Meu Voto: Esquinica
Vencedor: Esquinica

O critério para esta categoria era escolher um restaurante inaugurado entre julho de 2011 e julho de 2012 que se destacasse como revelação. Confesso que só conseguia pensar no Esquinica e no Meme Cambuí, mas não tive muita dificuldade em optar pelo Esquinica. O que mais pesou na minha decisão foi pelo caráter inovador do restaurante Ibérico, com uma proposta diferente do que temos hoje na cidade. O Meme é sim um bom restaurante, uma grata surpresa dentre as novas casas da cidade, mas não exatamente uma novidade em termos gastronômicos. Já o Esquinica trouxe para Campinas as deliciosas tapas espanholas, elaboradas com ingredientes de primeira, que permitem um clima descontraído, principalmente para mesas mais numerosas. A experiência do chef Jonathan Wehrung em sua passagem por Barcelona confere às receitas do Esquinica a autenticidade e perfeita execução que merecem os beliscos espanhóis. Um dos lugares que mais gosto de ir na cidade.


Categoria: Chef do ano
Meu Voto: Jonathan Wehrung (Esquinica)
Vencedor: Théo Medeiros (Théo Medeiros)

Essa foi difícil, fiquei um bom tempo num impasse... o mais coerente seria escolher como chef do ano aquele que comanda as panelas do restaurante que votei como revelação, já que estamos falando do último ano. Mas também pensei muito em votar no ótimo André Bearzotti pelo seu excelente desempenho no Gallo Nero e no Casa de Maria, no Daniel Valay, cujo trabalho à frente do Grupo The Royal é irretocável ou ainda no Théo Medeiros, já consagrado tantas vezes como o melhor pela publicação. Talvez não tenha votado no Théo somente pelo fato de já saber, no meu íntimo, que ele ganharia, então seria legar indicar outro profissional. Acabei optando pelo Jonathan Wehrung pelo coerência com o voto do Restaurante revelação, mas foi o voto menos certeiro de todos, pois gosto muito do trabalho desses chefs que citei - trabalho este que tive a satisfação de ver e provar algumas vezes nas boas mesas de Campinas.


Foi legal fazer parte do juri deste ano, considero o convite um reconhecimento pela minha dedicação a este espaço, escrevendo sobre um assunto pelo qual nutro uma paixão enorme, a quem quer que seja. Agradeço à Veja e, principalmente, a você leitor, pelo prestígio ao Mais Olho que Barriga.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Pensatas gastronômicas

Caro leitor, seja você leitor assíduo ou não deste blog, leitor que veio parar aqui por acaso, leitor de passagem, qualquer um que esteja lendo isso agora, gostaria de pedir algo a você, encarecidamente: conte-me algo novo! Sim, por favor, preciso de novidades gastronômicas, senão corro o risco de sofrer um bloqueio e não mais conseguir escrever nada por aqui... estou em uma fase de "marasmo criativo", preciso de emoção para criar um novo post e isso só acontece quando vou com sede ao pote, quando vou conhecer um novo restaurante, quando experimento novos sabores, quando algo me surpreende e tenho vontade de dividir a experiência com vocês.


Acontece que, nos últimos tempos, não tenho sentido essa emoção, não ouvi ninguém comentando sobre um novo lugar, sobre uma descoberta de algo delicioso, ainda que escondido em uma biboca da baixa gastronomia, nada! Na hora de escolher onde comer, tenho preferido meus portos seguros, lugares que já fui e continuo indo pois gosto da comida, do serviço, do ambiente e prefiro gastar meu dinheiro com algo que me satisfaça por completo. Mas existe em mim esse espírito aventureiro que anseia por novidades, por sabores mais exóticos, por experiências mais complexas, por algo d-i-f-e-r-e-n-t-e.


Sim, tenho na ponta da língua meus lugares favoritos da cidade para as mais diversas ocasiões, querem ver? Para um jantar a dois, o Lagundri; para bebericar e petiscar com amigos, o Esquinica; para um almoço de domingo com direito a esbórnia, o brunch do Vila Real; para aquele almoço durante a semana que não pode demorar mais que meia hora, o Spice; para enfiar o pé na jaca e comer durante horas, o Bar do Marcelino; para um bom vinho, acompanhado de oa comida, o Gallo Nero; para um bom hamburger, o Fiftie's; para aqueles raros rompantes saudáveis, a salada do Kilimanjaro; para conforto imediato, a polenta do Duo; para grandes comemorações, o La Palette... por mais que alguns novos lugares na cidade tenham me surpreendido, caso do Esquinica, do Meme, do Conte, do Duo, ainda sinto falta de um cenário gastronômico mais fervilhante, com direito a representantes de culinárias até então pouco exploradas. Por que não um coreano moderno, um indiano tradicional, uma cevicheria, um regional de respeito, um diner com lobster roll e philly steak no menu, sei lá, algo que não seja igual ao que já temos de monte por qui.


Concordo que a análise pré-abertura de um negócio deve ser um verdadeiro drama para o investidor, mas será mesmo que Campinas não tem público para se ajustar às tendências da gastronomia mundial? Já viram como ficam os shoppings da cidade aos finais de semana e feriados, na hora do almoço? Ou como fica a rodovia dos Bandeirantes no sábado à noite, sentido São Paulo? Você aí, que gosta de comer bem, vai me dizer que, vez ou outra, não recorre à paulicéia em busca de novas experiências, indo atrás daquela dica do amigo paulistano que nós julgamos ser muito mais entendidos que nós, dada a vasta gama de estabelecimentos "diferenciados" aos quias ele tem acesso, todos os dias da semana? E quando volta de lá, adora falar que é habitué deste ou daquele restaurante de Sampa, que lá o esquema é outro, é "diferente"...


Pois bem, é neste "diferente" que eu queria chegar. Não precisa ser diferente, precisa ser interessante, precisa despertar o interesse e a curiosidade dos comensais, precisa valer à pena em todos os sentidos. Não há mais espaço para erros primários, como comida ruim, pedidos trocados ou serviço incompetente, o que se paga hoje em dia é caro demais para não se justificar. No meu caso, basta uma única experiência ruim para que eu nunca mais coloque os pés no lugar, não tem desculpa para determinados problemas. Fico feliz que tenhamos ótimos representantes da boa gastronomia na cidade, em diversas categorias e estilos, mas este cenário precisa ser mais dinâmico, estabelecimentos considerados "mais ou menos" devem ceder lugar a novos potenciais e isso só ocorre quando o público demonstra sua opinião através da frequência. Por isso, só volto aos lugares que considero bons ou ótimos, com a esperança de que as pessoas façam o mesmo, fazendo surgir novas opções.


Nesta semana teremos o lançamento da edição 2012 2013 da Veja Comer & Beber Campinas. Apesar de não querer nutrir grandes esperanças com relação a novidades na cidade, espero ter alguma boa surpresa no quesito revelação, já que minha sede pelo novo e diferente parece estar me deixando "seca" demais - em termos de entusiasmo criativo, claro...



Essa foto é do Lamen - ou Ramen - do Momofuku Noodle Bar, um dos restaurantes-sensação de NY, do chef coreano David Chang. Daí fica a pergunta que ilustra meu sentimento ao escrever este post: por que não posso comer um ramen em Campinas, se temos inúmeros restaurantes japoneses?

domingo, 3 de junho de 2012

Warong: decepção...

Depois de muito ensaiar, finalmente fui conhecer o Warong, restaurante tradicional de Holambra, conhecido por servir pratos da cozinha holandesa e indonésia. A casa existe desde 1988 e tem como objetivo oferecer o que as cozinhas destes dois países têm de melhor. Você pode estar se perguntando por que misturar duas culinárias aparentemente tão distintas, porém a Indonésia - ou a maioria de seu arquipélago - foi colonizada pelos holandeses e sua cozinha passou a ser apreciada e difundida além de suas ilhas.
A área externa é bem agradável para um dia como este. O salão interno é confortável e espaçoso.

Confesso que estava entusiasmada para experimentar pratos do cardápio indonésio, já que os sabores do sudeste asiático me fascinam há algum tempo, principalmente pelo uso de ingredientes exóticos para o nosso paladar, ricos em aromas e extremos em contrastes. O fato do cardápio listar apenas três opções de pratos indonésios não chegou a me desanimar, já que um deles - O Rijsttafel - era descrito como um verdadeiro "banquete indonésio, uma farta mesa com sabores raros e magníficos", composto por nove (!) pratos, para serem divididos em duas pessoas: Gado Gado, uma salada de legumes cozidos com molho de amendoim; Rijst, o arroz - que é a base de qualquer refeição indonésia; Ayam Kerrie, frango ao curry; Baby Ketjap, pernil de porco cozido no molho de soja; Ikan Jahe, um badejo empanado ao molho de gengibre; Satay Met Pindasaus, cubos de filé mignon grelhados no espeto com molho de amendoim; Udang Santan, o camarão no leite de côco; Rempah, bolinho de carne com côco; Krupuk, um mandiopã de camarão. Ufa! O maridão preferiu escolher um prato do cardápio holandês e ficou com o filé Alkmaar, um corte alto de filé mignon com molho de queijos fundidos e batatas selvagens. Os pratos no almoço dão direito ao salad bar, uma mesa com poucas opções de saladas e duas sopas.

O filé chegou e era realmente alto, com abundante molho de queijo e batatas bolinha bem coradas, uma bela apresentação. O ponto também estava corretíssimo, muito mal passado como de costume.

Já quando a atendente começou a dispor as travessas do meu "banquete indonésio" sobre o rechaud, notei que algo estava estranho... a apresentação era paupérrima, pareciam porções de acompanhamento de churrascaria, sem nenhum apelo estético ou decoração e, o que é pior, sem aroma nenhum. Aquelas travessas não eram condizentes com a descrição do tal banquete, nem com o que eu conheço da culinária indonésia. Respirei fundo e tentei minimizar aquela primeira impressão, talvez o sabor pudesse me surpreender. Ledo engano, o que se sucedeu foi uma tremenda decepção, a qual faço questão de descrever em detalhes, prato por prato:


Gado Gado: simplesmente não veio com o "banquete", quando questionei a falta do prato, a garçonete me disse que, durante o almoço, o Gado Gado não entra na composição do prato pois há o salad bar à disposição. Oi? Que raio de explicação é essa??

Rijst: arroz branco e arroz temperado exatamente iguais ao nosso arroz brasileiro, aquele que acompanha nosso feijão do dia a dia.

Ayam Kerrie ou frango ao curry: não vou nem comentar o uso do curry indiano, em pó, aquele amarelo. Diferentes países utilizam diferentes curries em suas receitas e o utilizado na Indonésia, definitivamente, não é este. Porém, o que mais me incomodou foi o fato do frango estar mal passado, bem rosado perto do osso, inclusive no corte do peito. Nem comi...

Baby Ketjap: o pernil cozido no molho de soja estava extremamente salgado. Obviamente, ao se utilizar o shoyu para o cozimento de uma carne é preciso ter cuidado com o ponto do sal, senão fica intragável mesmo...

Ikan Jahe: o badejo empanado ao molho de gengibre talvez tenha sido o que mais me irritou, o peixe não era badejo e tão pouco era fresco, empanado e frito de forma grosseira . O molho era de tomate, daqueles enlatados, com uma lasca de gengibre. Uma lástima, sinceramente.

Satay Met Pindasaus: os espetinhos de filé mignon não seriam ruins se não fosse pelo absurdo do "molho de amendoim". Faço questão de postar a foto do que eles chamam de "molho de amendoim". Façam-me o favor!


Udang Santan: os camarões no leite de côco eram daqueles mini camarões congelados, comumente utilizados para molhos. Sem mais.

Rempah: bolinho de carne com côco, talvez a única opção que me deu algum prazer naquela refeição...

Krupuk: mandiopã de camarão, deveria ser cortesia tamanha sua simplicidade (tem um pub em Campinas que distribui porções generosas do salgadinho, gratuitamente, aos seus clientes)

Em suma, há tempos eu não me sentia tão incomodada com uma refeição mal feita. Não é uma questão de ajuste de expectativas, uma vez que o próprio restaurante atesta sua expertise em culinária indonésia. Mas o que eu vi naquele "banquete" foi um tremendo desrespeito ao comensal, primeiro pelo fato de não ter sido utilizado um único ingrediente autêntico da culinária indonésia; segundo, por servir algo totalmente incondizente com a proposta de uma culinária tão rica em sabores como a do arquipélago asiático em questão. Terceiro, por subestimar o conhecimento alheio, servindo um prato deste nível e cobrando 105 reais por ele.

A atendente chegou a perguntar se havíamos gostado do prato e eu, obviamente, disse que não, mas não quis me extender em comentários e argumentos, já que a moça nada tinha a ver com a cozinha. Mas o pior de tudo foi perceber o descaso da gerência, uma vez que a atendente me disse que havia reportado minhas críticas à responsável mas, em nenhum momento, alguém veio até a mesa saber o que havia me desagradado, ou se justificar, ou discutir, nada! O que eu espero de um restaurante que tem como missão "servir produtos com qualidade e sofisticação" e "oferecer excelência de produto e atendimento" é, no mínimo, que alguém tenha a decência de se preocupar com a opinião de um cliente, não apenas através de um cartão de feedback, mas sim prontificando-se a ouvir as críticas no momento em que elas surgem e são externadas. Talvez eles mesmos saibam que aquele prato é um ultraje e, por isso mesmo, não querem nem ouvir o que o cliente tem a dizer a respeito.

Sinceramente, os pratos do cardápio holandês parecem ser ótimos, bem executados e corretíssimos. Vi um joelho de porco espetacular sendo servido na mesa ao lado. O filé do maridão estava excelente. De coração, minha sugestão é que aquelas páginas do cardápio com conteúdo indonésio sejam arrancadas, assim o Warong pode focar naquilo que sabe fazer e não ter o grande demérito de servir um prato péssimo como o que eu experimentei naquele almoço. Lamentável.


Warong - Restaurante Indonésio Holandês www.warongbrasil.com.br Rua Campo de Pouso, 607 - Holambra Fone: (19) 3802-1495

domingo, 22 de abril de 2012

Arola Vintetres: o melhor espanhol do Brasil



Dia desses mamãe me encaminhou um e-mail sobre um wine dinner no premiado Arola Vintetres, eleito por inúmeras publicações o melhor restaurante espanhol do Brasil, do premiadíssimo chef catalão Sergi Arola. Com vinhos da vinícola Pujanza, da região de Rioja, na Espanha, o menu parecia muito interessante, por isso não pensamos duas vezes e fizemos nossas reservas.

O lugar por si só já é um espetáculo: localizado no vigésimo terceiro andar do hotel Tivoli Mofarrej, na Alameda Santos, o restaurante é todo envidraçado, o que permite que os comensais desfrutem de uma belíssima vista de Sampa. A cozinha do chef Arola - que possui duas estrelas no Guia Michelin e outras 5 casas espalhadas pelo mundo - é de vanguarda, inventiva e inovadora, coisa autoral mesmo. Em suas "tapas gourmet" é possível encontrar muita técnica aliada a uma boa dose de criatividade. No nosso menu, opções como batatas bravas, gazpacho, carré de cordeiro e lombo de vitela ganhariam novas definições após aquele jantar que prometia ser, no mínimo, fora de série.

Vista da nossa mesa

Como chegamos no horário marcado, pudemos nos sentar em uma mesa junto à janela. As taças da degustação já estavam a postos e o serviço não demorou a nos trazer o couvert, acompanhado do primeiro vinho da noite: Dios Ares Blanco 2009. Couvert simples mas com ótimos pães, patê e manteiga de creme de leite, mais leve e aerada. Flor de sal com pimenta para complementar a ótima manteiga.



Aos poucos, as entradas eram servidas, primeiro o chupito de gazpacho, que nada mais era do que um shot da sopa fria (adoro o fato de que os espanhóis não se utilizam de anglicismos e acabam por criar ótimos termos para expressões que, normalmente, usamos em inglês). Pena que era só um shot, porque o gazpacho estava como deve ser: fresco, saboroso e ácido na medida certa.



Em seguida, as batatas bravas "Arola", deliciosos cilindros de batatas crocantes, com batatas cremosas em seu interior e cobertas por aioli - aquela maionese de alho e azeite de oliva. Bocaditos do céu...



Para encerrar as entradas, ceviche de pescada amarela com cebola roxa, abacate e ar de tomate - sim, chegei a temer que a cozinha enveredasse pelo caminho tecnoemocional, com seus ares, espumas e desconstruções que, por vezes, me cansam. Mas não, foi só o ar de tomate mesmo que, no final das contas, tinha sua função no prato. O peixe era fresquíssimo e combinava muito bem com a cebola, os cubinhos de abacate e até com o ar de tomate que, pasmem, tinha gosto de tomate mesmo. Só não amei a escolha do peixe para o ceviche, acho que a pescada amarela não é tão sutil em termos de sabor e textura quanto outros peixes para ceviche, mas nada que a desabone.



Na sequência do menu, o prato seguinte foi o carré de cordeiro com mil folhas de mandioquinha e ervilha torta. Confesso que não estava muito ansiosa pelo prato, já que carré de cordeiro é algo que encontramos facilmente por aí. Mas quando experimentei o primeiro pedaço da carne, percebi que nunca havia provado um cordeiro com uma textura sequer semelhante àquela. Parecia que a gordura havia penetrado na carne, provavelmente em um processo de cozimento bem lento, conferindo um misto de maciez e sabor perfeitos. O mil folhas de mandioquinha também era surpreendente, com inúmeras fatias de mandioquinha com espessura de folha de papel que, no conjunto, tornavam-se cremosas e macias. Sorte que mamãe não é muito chegada em cordeiro e eu surrupiei seu carré, para meu completo deleite... carré muito bem acompanhado de duas opções de tintos, um Dios Ares Crianza 2006 e um Dios Ares Reserva 2006, ambos 100% Tempranillo.



O segundo prato, um lombo de vitela com crocante de castanha do Pará com purê de abóbora e manga já despertava meu interesse diante do excelente desempenho do cordeiro. Mas não imaginava que minhas expectativas seriam novamente superadas: a carne, cortada em fatias de média espessura, também tinha textura perfeita e sabor rico. O crocante de castanha dava o contraste perfeito com a carne que derretia na boca. O puré de abóbora com manga surpreendeu pela combinação dos dois ingredientes, que pode soar inusitada em um primeiro momento mas, a cada garfada, mostrou-se equilibradíssima. Além do ótimo tinto Pujanza 2007, um mimo surpresa: Pujanza Norte 2006, o vinho top da vinícola espanhola, 60% tempranillo e 40% de castas variadas, passa 18 meses em barricas de carvalho. Não à toa foi cotado com 94 pontos no Parker e uma garrafa não sai por menos de 350 reais.



Satisfeitíssimas com o jantar - e um tanto alcoolizadas, verdade seja dita - ainda faltava experimentar a sobremesa, torrijas com espuma de chocolate (olha a espuma aí) e sorvete de nata com farofa crocante de baru - uma castanha cujo sabor lembra o amendoim. Torrijas são as rabanadas espanholas, que podem ser feitas com pães de forma ou caseiros e levam leite, açúcar e canela na versão original. Mas esta torrija que experimentamos não estava lá essas coisas, acabou sendo o ponto fraco do jantar, já que estava um pouco dura e ressecada. Nem o ótimo sorvete de nata pode ajudar...



O balanço final do jantar foi super positivo, o restaurante é de altíssima qualidade, além de um lugar lindíssimo. Gostei muito de conhecer a cozinha de um chef tão renomado e premiado como o Sergi Arola, representada com maestria pelo chef Fabio Andrade na casa paulistana. Definitivamente, um lugar que recomendo, dentre tantas boas opções em Sampa, sobretudo para ocasiões especiais.



Arola Vintetres

Tivoli São Paulo - Mofarrej
Alameda Santos, 1437 - Jardins
Fone: (11) 3146 5923
www.arolavintetres.com.br