
Mais de dez anos depois de expandir suas atividades para Curitiba, esta tradicional cantina de São Paulo escolheu Campinas para abrigar sua nova casa, com ambientes e cardápio idênticos aos da casa-mãe. Se este blog tivesse foco nos restaurantes da capital, talvez eu não estivesse escrevendo sobre o Lellis, já que o restaurante é velho conhecido dos paulistanos, assim como seu dono, o baiano João Lellis, cuja carreira teve início no imortal Giggeto da rua Avanhandava. Mas achei que seria interessante dedicar um post ao mais novo concorrente da cidade no quesito "cantina italiana", pois parece que a briga vai ser boa...

Com um cardápio extenso, que inclui uma infinidade de opções da massas, molhos, carnes e peixes, a carta de vinhos impressiona com seus 230 rótulos. O atendimento é extremamente atencioso, deixando até dúvida se a equipe não teria sido trazida da matriz paulistana, além do serviço de manobrista como cortesia - algo que deveria ser padrão para os restaurantes da cidade.
Sobre o cardápio, nada que fuja do script de uma cantina, com massas rústicas e porções fartas. Aliás, todas as porções são para duas pessoas, sendo que o valor cobrado por meia porção corresponde à 60% do preço no cardápio, talvez um pouco injusto para as mesas com número ímpar de ocupantes. Inclusive, estávamos em 7 e um dos pratos teve que ser meia porção. O que me deixou entusiasmada mesmo foram as mais de 30 opções de antepastos, dentre elas alcachofras, camarões, berinjelas, pimentões... decidi que na minha próxima visita ao Lellis, ficarei só nos antepastos, acompanhandos de um bom vinho, claro.


Para a escolha dos pratos, acabei dividindo o meu com uma amiga que também está num momento "detox" e topou pedir um linguado grelhado com espinafre. O maridão dividiu um cappelletti de carne ao mulho de tomates e funghi e os demais comensais pediram fusilli à napolitana com calabresa e filé ao molho madeira com tagliarini aos quatro queijos. Os pedidos vieram rápido e sim, as porções são mesmo fartas.
O linguado
Infelizmente, o peixe estava passado demais, fazendo com que as partes mais finas da carne ficassem muito ressecadas. Gosto muito de linguado por ser um peixe delicado, de carne brilhante e macia, mas o ponto errado acaba anulando estas características. E de todos os pratos, o peixe foi o que veio em menor quantidade, contrastando com o exagero das demais porções.

O cappelletti
Se fosse eu, não teria pedido o molho de funghi com tomates, já que acho que são dois elementos de personalidade rivalizando entre si, sem que nenhum se sobressaia. Mas na opinião de quem comeu, o molho estava gostoso, com cogumelos carnudos e macios e acidez no ponto certo. A massa estava al dente, mas sem incomodar. Na minha opinião, os cappelletti poderiam ser menores e mais delicados, mas essa definitivamente não é uma característica da cozinha do Lellis.

O fusilli
Este foi o prato cuja porção era individual, mas quem comeu ficou satisfeito e ainda sobrou. A massa estava no ponto certo e o molho era muito saboroso, com a feliz combinação de calabresa com tomates. Apesar da espessura do fusilli, não ficou pesado nem "massudo".

O filé com tagliarini
Ao fazer o pedido, o garçom não perguntou o ponto da carne nem o pessoal se lembrou de mencionar, então não podiam reclamar dos filés bem-passados. Se fosse eu, antes mesmo de pedir a carne já falaria do ponto, pois não consigo comer nada que não seja mal-passado. Mas na opinião de quem comeu, o sabor era bom, mas a textura da carne bem-passada comprometia sua maciez. Já o tagliarini nos deu a impressão de estar muito cozido, mas tal impressão era mais por causa do molho de queijos, que deixava tudo meio "grudento" - porém gostoso.

Pelo que pudemos perceber, praticamente todas as mesas ocupadas estavam comemorando aniversários, o que nos forçou a ouvir a canção de parabéns tocada pelos músicos presentes umas 10 vezes. Mas como nós também estávamos lá pelo mesmo ensejo, entramos no clima e cantamos juntos. A única ressalva é que os músicos não vieram até nossa mesa prestigiar o comensal aniversariante e, por isso, fizemos nós mesmos a cantoria, o que provocou um certo mal-estar entre os funcionários e os músicos. No final das contas, os músicos se redimiram com um pout pourri das mais animadas canções italianas de cantina.
O que podemos dizer é que trata-se de um restaurante para inúmeras ocasiões, com opções para todos os gostos, televisões espalhadas pelo amplo salão, sala de espera com serviço de bar e preço dentro dos padrões. Em uma quinta-feira à noite, várias mesas estavam ocupadas por casais, famílias com filhos, grupos de amigos... não há uma definição de público, mas fiquei feliz em ver um casal entrar depois das dez e meia da noite e ser atendido da mesma forma, o que não acontece sempre em outros restaurantes de mentalidade provinciana que vemos por aí. Talvez seja o jeito de trabalhar aprendido por João Lellis nesses quase 50 anos de estrada.

Lellis Trattoria - Campinas
www.lelliscampinas.com.br