domingo, 3 de junho de 2012

Warong: decepção...

Depois de muito ensaiar, finalmente fui conhecer o Warong, restaurante tradicional de Holambra, conhecido por servir pratos da cozinha holandesa e indonésia. A casa existe desde 1988 e tem como objetivo oferecer o que as cozinhas destes dois países têm de melhor. Você pode estar se perguntando por que misturar duas culinárias aparentemente tão distintas, porém a Indonésia - ou a maioria de seu arquipélago - foi colonizada pelos holandeses e sua cozinha passou a ser apreciada e difundida além de suas ilhas.
A área externa é bem agradável para um dia como este. O salão interno é confortável e espaçoso.

Confesso que estava entusiasmada para experimentar pratos do cardápio indonésio, já que os sabores do sudeste asiático me fascinam há algum tempo, principalmente pelo uso de ingredientes exóticos para o nosso paladar, ricos em aromas e extremos em contrastes. O fato do cardápio listar apenas três opções de pratos indonésios não chegou a me desanimar, já que um deles - O Rijsttafel - era descrito como um verdadeiro "banquete indonésio, uma farta mesa com sabores raros e magníficos", composto por nove (!) pratos, para serem divididos em duas pessoas: Gado Gado, uma salada de legumes cozidos com molho de amendoim; Rijst, o arroz - que é a base de qualquer refeição indonésia; Ayam Kerrie, frango ao curry; Baby Ketjap, pernil de porco cozido no molho de soja; Ikan Jahe, um badejo empanado ao molho de gengibre; Satay Met Pindasaus, cubos de filé mignon grelhados no espeto com molho de amendoim; Udang Santan, o camarão no leite de côco; Rempah, bolinho de carne com côco; Krupuk, um mandiopã de camarão. Ufa! O maridão preferiu escolher um prato do cardápio holandês e ficou com o filé Alkmaar, um corte alto de filé mignon com molho de queijos fundidos e batatas selvagens. Os pratos no almoço dão direito ao salad bar, uma mesa com poucas opções de saladas e duas sopas.

O filé chegou e era realmente alto, com abundante molho de queijo e batatas bolinha bem coradas, uma bela apresentação. O ponto também estava corretíssimo, muito mal passado como de costume.

Já quando a atendente começou a dispor as travessas do meu "banquete indonésio" sobre o rechaud, notei que algo estava estranho... a apresentação era paupérrima, pareciam porções de acompanhamento de churrascaria, sem nenhum apelo estético ou decoração e, o que é pior, sem aroma nenhum. Aquelas travessas não eram condizentes com a descrição do tal banquete, nem com o que eu conheço da culinária indonésia. Respirei fundo e tentei minimizar aquela primeira impressão, talvez o sabor pudesse me surpreender. Ledo engano, o que se sucedeu foi uma tremenda decepção, a qual faço questão de descrever em detalhes, prato por prato:


Gado Gado: simplesmente não veio com o "banquete", quando questionei a falta do prato, a garçonete me disse que, durante o almoço, o Gado Gado não entra na composição do prato pois há o salad bar à disposição. Oi? Que raio de explicação é essa??

Rijst: arroz branco e arroz temperado exatamente iguais ao nosso arroz brasileiro, aquele que acompanha nosso feijão do dia a dia.

Ayam Kerrie ou frango ao curry: não vou nem comentar o uso do curry indiano, em pó, aquele amarelo. Diferentes países utilizam diferentes curries em suas receitas e o utilizado na Indonésia, definitivamente, não é este. Porém, o que mais me incomodou foi o fato do frango estar mal passado, bem rosado perto do osso, inclusive no corte do peito. Nem comi...

Baby Ketjap: o pernil cozido no molho de soja estava extremamente salgado. Obviamente, ao se utilizar o shoyu para o cozimento de uma carne é preciso ter cuidado com o ponto do sal, senão fica intragável mesmo...

Ikan Jahe: o badejo empanado ao molho de gengibre talvez tenha sido o que mais me irritou, o peixe não era badejo e tão pouco era fresco, empanado e frito de forma grosseira . O molho era de tomate, daqueles enlatados, com uma lasca de gengibre. Uma lástima, sinceramente.

Satay Met Pindasaus: os espetinhos de filé mignon não seriam ruins se não fosse pelo absurdo do "molho de amendoim". Faço questão de postar a foto do que eles chamam de "molho de amendoim". Façam-me o favor!


Udang Santan: os camarões no leite de côco eram daqueles mini camarões congelados, comumente utilizados para molhos. Sem mais.

Rempah: bolinho de carne com côco, talvez a única opção que me deu algum prazer naquela refeição...

Krupuk: mandiopã de camarão, deveria ser cortesia tamanha sua simplicidade (tem um pub em Campinas que distribui porções generosas do salgadinho, gratuitamente, aos seus clientes)

Em suma, há tempos eu não me sentia tão incomodada com uma refeição mal feita. Não é uma questão de ajuste de expectativas, uma vez que o próprio restaurante atesta sua expertise em culinária indonésia. Mas o que eu vi naquele "banquete" foi um tremendo desrespeito ao comensal, primeiro pelo fato de não ter sido utilizado um único ingrediente autêntico da culinária indonésia; segundo, por servir algo totalmente incondizente com a proposta de uma culinária tão rica em sabores como a do arquipélago asiático em questão. Terceiro, por subestimar o conhecimento alheio, servindo um prato deste nível e cobrando 105 reais por ele.

A atendente chegou a perguntar se havíamos gostado do prato e eu, obviamente, disse que não, mas não quis me extender em comentários e argumentos, já que a moça nada tinha a ver com a cozinha. Mas o pior de tudo foi perceber o descaso da gerência, uma vez que a atendente me disse que havia reportado minhas críticas à responsável mas, em nenhum momento, alguém veio até a mesa saber o que havia me desagradado, ou se justificar, ou discutir, nada! O que eu espero de um restaurante que tem como missão "servir produtos com qualidade e sofisticação" e "oferecer excelência de produto e atendimento" é, no mínimo, que alguém tenha a decência de se preocupar com a opinião de um cliente, não apenas através de um cartão de feedback, mas sim prontificando-se a ouvir as críticas no momento em que elas surgem e são externadas. Talvez eles mesmos saibam que aquele prato é um ultraje e, por isso mesmo, não querem nem ouvir o que o cliente tem a dizer a respeito.

Sinceramente, os pratos do cardápio holandês parecem ser ótimos, bem executados e corretíssimos. Vi um joelho de porco espetacular sendo servido na mesa ao lado. O filé do maridão estava excelente. De coração, minha sugestão é que aquelas páginas do cardápio com conteúdo indonésio sejam arrancadas, assim o Warong pode focar naquilo que sabe fazer e não ter o grande demérito de servir um prato péssimo como o que eu experimentei naquele almoço. Lamentável.


Warong - Restaurante Indonésio Holandês www.warongbrasil.com.br Rua Campo de Pouso, 607 - Holambra Fone: (19) 3802-1495