terça-feira, 15 de março de 2011

Um post para carnívoros- além de um pequeno desabafo



Ultimamente venho sido acometida por uma falta de inspiração que me obriga a me distanciar um pouco do blog... lógico que alguém que se propõe e escrever um blog, cuja atualização frequente é essencial para manter o interesse dos leitores, deve estar preparado para postar um conteúdo de qualidade mesmo quando não bate aquela inspiração louca. Acho que tenho me preocupado mais com a qualidade literária do que escrevo do que com o conteúdo em si, por isso peço desculpas pela ausência de novos posts. Este pequeno desabafo talvez me ajude a reencontrar aquele equilíbrio que, há algum tempo, costumava dar certa leveza à tarefa de fazer um blog bacana e de acordo com as premissas que eu mesma estipulei.

Bom, vamos ao cenário deste post: uma chuvosa noite de segunda-feira de carnaval, um desejo teimoso de tomar um vinho honesto, de preferência acompanhado de uma boa comida. Algumas de nossas opções, como o Chef Theo, por exemplo, não estavam funcionando (tive a brilhante idéia de telefonar antes, para não ficar rodando a esmo enquanto a fome aumentava) e não nos sobrou muita coisa dentro do "escopo" que havíamos estabelecido. Quase rumamos para Holambra, com o intuito de, finalmente, conhecer um lugar que venho namorando há tempos, o Warong, mas a chuvinha teve uma forte influência na preguiça para pegar a estrada. Foi aí que falei para o maridão, não sem uma certa ironia: "quer saber de uma coisa? Vamos lá no Red Angus comer a melhor carne do mundo!" e foi assim que decidimos nosso destino.

Antes de mais nada, vamos esclarecer esse lance de "melhor carne do mundo", título que o Red Angus clama para si por conta dos cortes provenintes da raça homônima, cuja "marmorização" das carnes confere alta maciez. Até onde meu singelo conhecimento me permite saber, o status de melhor carne do mundo pertence a uma raça de gado japonesa, chamada Wagyu, cujo local de origem é Kobe, daí o nome "Bife de Kobe" ter se tornado referência para a carne deste gado nipônico. Reza a lenda que o Wagyu é um animal com gordura inigualável, cuja dieta se baseia em cerveja e grãos e ainda tem direito a massagens regulares (!), que amaciam sua carne devido ao relaxamento proporcionado ao boi. A raça tem maior predisposição genética à produção de gordura intramuscular do que qualquer gado ocidental, ou seja, sua carne seria superior à do Red Angus.

Quanto ao ambiente da churrascaria Red Angus - me parece que eles ainda estão em dúvida entre o título de churrascaria ou restaurante - o DVD do grupo Roupa Nova em um volume acima do considerado normal para o famoso "som ambiente" atestava que o local trata-se mesmo de uma churrascaria, no melhor estilo "churrascolândia", porém sem o espeto corrido... o serviço me pareceu estar em clima de folia, já que era meio de carnaval e os garçons estavam pra lá de risonhos, trocando piadinhas entre si e não ligando muito para o tempo que a gente se debatia na tentativa de chamar algum deles.

O cardápio não é aquele basicão, dividido entre carnes, aves, peixes e massas, mas sim algo que grita "se você é vegetariano, fuja!" - as seções dividem-se em Red Angus, aves, caprinos, suínos, frutos do mar, risotos, saladas (muitos carpaccios) e entradas... cortes especiais com preços equivalentes à tal fama do boi: um tal de "pirulito", que nada mais é que o Côte du Boeuf (ou ainda, em inglês, Prime Rib) pode custar o equivalente a uma refeição completa e não rende duas porções (nem se seu apetite for a metade do meu, não tente dividir as porções aqui). O legal é que as carnes são feitas na grelha em churrasqueira de carvão, o que confere um sabor rústico e levemente defumado. Destaque também para o famoso King Crab, o gigante do Alasca que ganhou status de estrela no restaurante e custa algo em torno de R$ 90,00 (para duas pessoas - em termos).

Quando pedimos a carta de vinhos, o garçom nos convidou para ir pessoalmente à adega, o que o maridão fez prontamente. Segundo ele, uma boa adega, com diversidade de rótulos e de preços também. A climatização também se mostrou satisfatória, o vinho estava numa temperatura ótima quando foi servido. Fomos de Cabernet Sauvignon -o chileno TerraNoble (2008), que saiu por 50 e poucos a garrafa.

Gostamos tanto do vinho que não sobrou uma só gota na garrafa...

Das entradas, me interessei por um carpaccio defumado de Red Angus (claro) mas aí rolou o irrtante "tem mas acabou" e acabei pedindo uma porção de bolinhos de picanha, já sem nenhuma expectativa e com muita fome. De principal, optei pelo Ossobuco (Red Angus também) com risoto de alho poró - decisão esta tomada mais pelo aparente alto custo x benefício do que por pretensões gastronômicas - enquanto o maridão foi de costelas suínas ao barbecue.

E não é que o tal boleto de picanha surpreendeu? Super sequinhos e crocantes por fora, os bolinhos eram quase cremosos por dentro, certamente devido à mistura da carne com algum elemento que dava uma bela liga, talvez pão, como na boa e velha receita de almôndegas... apesar de não terem sido servidos com pimenta (uma heresia!), ficaram divinos com um tabasco verde que tivemos que solicitar ao garçom.

Delícia os bolinhos de picanha (desconto para a "cama de alface" da decoração, desnecessária)

Os pratos vieram até que com rapidez, mas pode ser que minha noção de tempo estivesse deturpada por conta do vinho que descia redondo. Fartura foi o que se viu - muita carne mesmo - tanto no caso do ossobuco quanto no caso da costela. Acabei me entretendo tanto com o meu prato que nem tinha percebido que as costelas do maridão não tinham o molho barbecue. Foi mais ou menos na décima quinta garfada que ele desconfiou "acho que veio tão pouco molho que nem tô sentindo"... olhei para o prato dele (pela primeira vez) e atestei que, certamente, o molho estava faltando. Para chamar o garçom, uns 5 minutos, para ele trazer o molho à parte, talvez uns 10... primeiro eles tentaram descobrir que havia errado, se era o churrasqueiro ou o cozinheiro, depois eles resolveram pedir o molho à cozinha, que demorou para mandar. Desnecessário dizer que, se fosse comigo, já teria me irritado profundamente com a demora. Sorte que o maridão é sossegado e não tão faminto quanto esta que vos escreve...

Quanto aos pratos, meu ossobuco estava muito bom, a carne era super macia, daquelas que a gente corta fácil com as costas da faca. Lógico que, em termos de textura, havia aquela sensação de pequenos fiapos ao mastigar, típico das carnes de panela, caso do ossobuco. O tempero harmonizava bem com o prato, o risoto estava cremoso mas com grãos al dente e o tutano - minha parte preferida - veio farto dentro do osso, gelatinoso e saboroso, para minha total alegria.

Belo tutano!

As costelinhas eram carnudas e não estavam esturricadas, mesmo tendo sido assadas na churrasqueira. Uma pilha delas se amontoavam no prato, brigando por espaço com as batatas rosti. Lógico que sobrou pra mim a função de "gaivota" da mesa, não deixando que nada fosse para o lixo (uma questão de princípios).

Apesar da falta do molho barbecue, as costelas vieram bonitas e em boa quantidade

A esta altura, já nem ligava mais para o DVD do Roupa Nova ou para
o altíssimo ruído das cadeiras a cada vez que alguém se levantava - sério, o pessoal poderia providenciar aqueles discos de feltro pra amenizar o barulho chato - ou ainda para as adoráveis crianças correndo entre as mesas. Meu estômago estava tão agradecido pela bela refeição que isso tudo já não me importava. Mas pode ser que tais fatores incomodem aqueles que buscam um ambiente mais agradável para um jantar a dois, ou um serviço mais atencioso, esperto e discreto.

A conta também não foi das mais altas, mas passou longe de uma pechincha. Os pratos custam em média 40-50 reais, mas há opções mais caras, principalmente os cortes especiais de Red Angus ou o King Crab. Vinhos a partir de 50 reais (acho que não havia nenhuma opção plausível por menos que isso). Talvez o almoço executivo seja bem mais negócio para os que curtem uma boa carne, mas não estão dispostos a enfrentar a violência gastronômica de um espeto corrido.

Red Angus Churrascaria e Restaurante
www.restauranteredangus.com.br

2 comentários:

  1. Mari, deu saudades de vc e corri pra ver se tinha novos posts no blog! Sempre fico com água na boca quando leio... não sei se é pela qualidade literária ou se é pelo seu apetite que eu conheço, hehehe! Beijão, Márcia Japa

    ResponderExcluir
  2. Marcinha, minha japa favorita! Saudades de vc também, é sempre bom receber a visita de pessoas queridas aqui no blog. Se quiser, posso te chamar para uma participação especial quando for fazer a próxima incursão em Sampa. Tava bem afim de experimentar o Lamen (ou Ramen) do Aska, na Liberdade, vc seria a companhia perfeita! Beijão!

    ResponderExcluir