domingo, 22 de maio de 2011

Casa de Maria Bistrô Contemporâneo e Gallo Nero Bottiglieria - em comum, o chef André Bearzotti



O Mais Olho Que Barriga esteve recentemente em duas casas cujas cozinhas estão sob a batuta do mesmo chef, o André Bearzotti, chef proprietário da Casa de Maria Bistrô e chef executivo (e sócio) do bistrô da Cave Pavesi, o Gallo Nero. Para quem não sabe, a Cave Pavesi é a antiga Expand, cuja loja de vinhos se manteve praticamente a mesma, porém seu bistrô mudou de nome, de comando e de cardápio.

Não sei por que demoramos tanto para ouvir falar do Casa de Maria, charmoso bistrô localizado no distrito de Barão Geraldo, cujo chef é ex Olivetto, ex La Pasta Gialla, ex Cambuquira (além de passagens pelo Tostex de Trancoso e restaurantes da Inglaterra). Confesso que só fiquei sabendo sobre lugar ao ver seu nome na lista de participantes do SPRW (que acabamos não indo conferir durante o evento), mas fuçando um pouco na biografia do chef, logo minha memória gastronômica me lembrou que já conhecia seu trabalho de outras mesas.

Mas o fato de ter ido ao Casa de Maria e ao Gallo Nero em um curto intervalo de tempo - o que permitiu este post único sobre ambos - foi mera coincidência, pois só fiquei sabendo de que se tratava do mesmo chef quando nosso atendente no Gallo contou um pouco da história da transição da Expand para a Cave Pavesi.

Vamos por partes, começando pelo Casa de Maria: estivemos nesse simpático restaurante em um almoço de sexta-feira, o que nos permitiu conferir o cardápio executivo. Dentre as opções (poucas, mas interessantes), tanto eu quanto a Pati optamos pela truta ao molho thai, com arroz de legumes a julienne. Para acompanhar, Stella Artois para refrescar o calor que fazia naquele dia.

A agradabilíssima área externa

Uma saladinha simples serve de entrada para os pratos do executivo, mas os ingredientes super frescos não desapontaram, acompanhados de croutons e redução de balsâmico.

Capricho

A truta veio em bela apresentação e quantidade satisfatória. O arroz tinha legumes cortados com perfeição (julienne é um corte cujo tamanho de 6cm de comprimento por 2mm de lado nem sempre é respeitado) e os grãos tinham ponto perfeito de cozimento. O molho thai era a estrela do prato, gostamos tanto que pedimos uma quantidade à parte, o que nos foi prontamente providenciado. Para o meu gosto, a truta poderia estar um pouquinho menos grelhada, mas nem de longe estava ressecada, é apenas uma questão de gosto pessoal mesmo.

Delícia de molho

A média de valores dos pratos no executivo é de 30 reais. Os preços do menú a la carte são um pouco mais salgados, média de 50 reais por prato (podendo variar de acordo com os ingredientes, obviamente). Gostamos do que vimos e comemos. Definitivamente, um nova visita será bem vinda para podermos explorar um pouco mais do cardápio do chef, bastante contemporâneo e com alguma influência asiática, o que desperta bastante meu interesse.



Casa de Maria Bistrô Contemporâneo
Rua Maria Nassif Mokarzel, 237 (esquina com Av. Dr. Romeu Tórtima - Av. 1)
Barão Geraldo
(19) 3365-2530

Já no caso do Gallo Nero, percebi que ultimamente alguns acessos ao blog referiam-se à busca pelo Bistrô Expand (sobre o qual falamos aqui), com questionamentos sobre o lugar ter fechado. Fui fuçar em fontes e nenhuma informação me pareceu mais confiável do que a tal Cave Pavesi, loja especializada em vinhos, ter o mesmo endereço da Expand. Mas só fui entender a história já no local, assuntando com o nosso garçom, que nos explicou que o dono encerrara as operações com a importadora Expand, por isso a necessidade de mudar o nome da loja. Com a mudança, novos ares também para o bistrô, não só na decoração mas também com novo chef e consequente novo cardápio.



Chegamos cedo, quando só havia uma única mesa ocupada, mas logo fomos informados de que a maioria dos lugares estaria reservada. Com um salão pequeno, não demorou muito para que todas as mesas fossem ocupadas (devem haver umas 10, 14 mesas, lugar para 40 pessoas). O mais legal é que agora, além da tradicional carta de vinhos, o maitre também te entrega um I-pad com todos os vinhos da loja (mais de mil rótulos), além de aplicativos para "brincar" com o assunto - um verdadeiro passatempo!

Gadget pra entreter por mais de hora...

Dos pratos do menú, poucas mas boas opções de carnes, peixes e risotos. As bruschettas fazem a alegria das entradas, em opções criativas. Nos principais, me chamou a atenção o filé mignon com ragu de cogumelos e spaghetti trufado. O maridão, na falta de cordeiro, escolheu o cabrito, acompanhado de batatas e brócolis. Para acompanhar o jantar carnívoro, a escolha foi um cabernet sauvignon Concha y Toro reserva 2007, porém rolou o irritante "tem mas acabou" e acabamos ficando com o californiano Robert Mondavi Private Selection 2007, da mesma uva - um bom negócio, por 89 reais a garrafa.

Vinho honesto

Na hora de pedir meu prato, fui tão enfática com relação ao ponto da carne que o maridão achou que fui um tanto quanto agressiva. Na verdade, por um prato de mais de 80 reais, não iria tolerar que o ponto viesse errado e simplesmente disse que, se viesse errado, eu pediria para trocar. Verdade seja dita, fui bastante específica e pedi para que o garçom repassasse meu pedido para a cozinha, pois o chef (ou sous chef, que depois vim a saber que era o responsável pela cozinha naquela noite) certamente saberia o que significa "bleu". Mas de nada adiantou minha ênfase, pois quando o prato chegou (belíssimo, diga-se de passagem), logo vi que o ponto estava errado, só de espetar o garfo. Fiz questão de cortar em três partes, para me certificar de que toda a peça estava mais passada do que deveria, e registrei em fotos para que não me chamem de "crica".

Vamos fazer um adendo nesta altura do post e inserir aqui, para evitar polêmicas, a convenção gastronômica para pontos de carnes vermelhas:

- Bem mal ou bleu: cocção muito rápida, consistência branda ao mastigar, cor vermelha no interior (temperatura de 55 graus no interior da peça)

- Malpassado ou Saignant: cocção rápida, crosta externa, consistência ligeiramente firme, cor vermelha rosado no interior (temperatura de 63 graus no interior da peça)

- No ponto ou Au Point: cocção lenta, casca resistente, consistência interna branda, cor rosa no interior, com algumas gotas de sangue na superfície (temperatura de 71 graus no interior da peça)

- Bem passado ou Bien Cuit: cocção muito lenta, consistência firme, cor cinzenta no interior (temperatura de 77 a 82 graus no interior) - (nota da autora: o "horror" completo para uma carne)

Agora, com base nas informações acima, notem a diferença:

O primeiro filé...

... e o segundo, no ponto perfeito!

Não preciso nem dizer que fui prontamente atendida em meu pedido de troca, mas não deixa de ser uma situação desagradável, principalmente porque o prato do maridão estava divino e ele não iria me esperar para comer, deixando tudo esfriar. Dei algumas garfadas no cabrito e a textura era maravilhosa, se desfazia na boca, além do molho super saboroso. Um belo prato a um ótimo custo x benefício (65 reais por uma bela porção ao melhor estilo Conan).

Cabrito a la Conan!

Meu novo prato não tardou a chegar, acompanhado de um pedido de desculpas por parte da cozinha. Estavam desculpados, pois o ponto viera perfeito desta vez, o prato estava saborosíssimo, spaghetti bem al dente com lascas de trufas negras, tudo muito harmonioso. Gostei bastante, principalmente da quantidade, o filé devia ter algo em torno de 300g, 400g.



Vinho bom, comida boa, mal havia espaço para a sobremesa, mas fiquei curiosa para experimentar a versão italiana do nosso folclórico arroz doce, o riso dolce - feito como um risoto mesmo, com direito a arroz arbóreo e ponto de cozimento cremoso devido ao amido (18 reais). A baunilha saborizava o prato, cujos grãos firmes e durinhos contrastavam com a consitência cremosa do conjunto, além da brincadeira de quente e frio devido ao sorvete de chocolate que coroava o prato. Porção gigante, pode e deve ser dividida.

Para quem gosta de risoto, vale experimentar a versão doce

O salão, por ser pequeno, pode ficar bastante barulhento quando lotado, mas não atrapalhou em nada. Quase tivemos uma congestão quando vimos adentrar o recinto o mesmo mala do Cayena (aquele que gritava para todo mundo ouvir o quanto ele tinha de dinheiro), mas nossa sorte foi que ele se sentou relativamente longe da gente e já estávamos de saída. Mais uma sessão de falta de noção e vergonha alheia seria insuportável!

Gostamos bastante do ambiente, da carta de vinhos (óbvio!) e do menú, bem executado pela equipe do chef André. O preço pode ser considerado caro se você não aprecia a vasta oferta de bons vinhos ou se está mais interessado em comer algo leve e descompromissado. O negócio aqui é boa comida para acompanhar bons vinhos, se é o que você procura, não tem erro.

Vale mencionar que este post é especial, pois estamos comemorando a marca de 10.500 acessos ao blog! Que venham mais marcas significativas, para que a gente comemore em forma de ótimas experiências gastronômicas!

Gallo Nero Bottiglieria
(Cave Pavesi)
Rua Maria Monteiro, 59 - Cambuí
(19) 3252-8893 (Recomenda-se reservar)

4 comentários:

  1. Olá Mari, por acaso descobri seu blog e já divulguei no meu facebook. Você está lá?
    abraços e parabéns

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  2. Olá Luiz,
    obrigada pela visita e divulgação no FB. Não estou por lá ainda, mas será inevitável criar um perfil do blog, apesar da minha pseudo-fobia por redes sociais... hehehe...
    Um abraço!

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  3. Oi Mari, descobri seu blog procurando por restaurantes em Campinas. Adorei seus comentários. Também aprecio boa comida e excelente serviço! Visitei o Gallo Nero e o Casa de Maria, duas propostas bem diferentes de um chef muito talentoso. Difícil escolher qual dos dois é o melhor! Obrigada pelas dicas!

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  4. Olá Fabiana,
    obrigada pela visita e comentário. Realmente, o chef A. Bearzotti é talentoso e, para a nossa sorte, o trabalho dele pode ser apreciado nas duas casas. Volte sempre! Um abraço

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