domingo, 22 de abril de 2012

Arola Vintetres: o melhor espanhol do Brasil



Dia desses mamãe me encaminhou um e-mail sobre um wine dinner no premiado Arola Vintetres, eleito por inúmeras publicações o melhor restaurante espanhol do Brasil, do premiadíssimo chef catalão Sergi Arola. Com vinhos da vinícola Pujanza, da região de Rioja, na Espanha, o menu parecia muito interessante, por isso não pensamos duas vezes e fizemos nossas reservas.

O lugar por si só já é um espetáculo: localizado no vigésimo terceiro andar do hotel Tivoli Mofarrej, na Alameda Santos, o restaurante é todo envidraçado, o que permite que os comensais desfrutem de uma belíssima vista de Sampa. A cozinha do chef Arola - que possui duas estrelas no Guia Michelin e outras 5 casas espalhadas pelo mundo - é de vanguarda, inventiva e inovadora, coisa autoral mesmo. Em suas "tapas gourmet" é possível encontrar muita técnica aliada a uma boa dose de criatividade. No nosso menu, opções como batatas bravas, gazpacho, carré de cordeiro e lombo de vitela ganhariam novas definições após aquele jantar que prometia ser, no mínimo, fora de série.

Vista da nossa mesa

Como chegamos no horário marcado, pudemos nos sentar em uma mesa junto à janela. As taças da degustação já estavam a postos e o serviço não demorou a nos trazer o couvert, acompanhado do primeiro vinho da noite: Dios Ares Blanco 2009. Couvert simples mas com ótimos pães, patê e manteiga de creme de leite, mais leve e aerada. Flor de sal com pimenta para complementar a ótima manteiga.



Aos poucos, as entradas eram servidas, primeiro o chupito de gazpacho, que nada mais era do que um shot da sopa fria (adoro o fato de que os espanhóis não se utilizam de anglicismos e acabam por criar ótimos termos para expressões que, normalmente, usamos em inglês). Pena que era só um shot, porque o gazpacho estava como deve ser: fresco, saboroso e ácido na medida certa.



Em seguida, as batatas bravas "Arola", deliciosos cilindros de batatas crocantes, com batatas cremosas em seu interior e cobertas por aioli - aquela maionese de alho e azeite de oliva. Bocaditos do céu...



Para encerrar as entradas, ceviche de pescada amarela com cebola roxa, abacate e ar de tomate - sim, chegei a temer que a cozinha enveredasse pelo caminho tecnoemocional, com seus ares, espumas e desconstruções que, por vezes, me cansam. Mas não, foi só o ar de tomate mesmo que, no final das contas, tinha sua função no prato. O peixe era fresquíssimo e combinava muito bem com a cebola, os cubinhos de abacate e até com o ar de tomate que, pasmem, tinha gosto de tomate mesmo. Só não amei a escolha do peixe para o ceviche, acho que a pescada amarela não é tão sutil em termos de sabor e textura quanto outros peixes para ceviche, mas nada que a desabone.



Na sequência do menu, o prato seguinte foi o carré de cordeiro com mil folhas de mandioquinha e ervilha torta. Confesso que não estava muito ansiosa pelo prato, já que carré de cordeiro é algo que encontramos facilmente por aí. Mas quando experimentei o primeiro pedaço da carne, percebi que nunca havia provado um cordeiro com uma textura sequer semelhante àquela. Parecia que a gordura havia penetrado na carne, provavelmente em um processo de cozimento bem lento, conferindo um misto de maciez e sabor perfeitos. O mil folhas de mandioquinha também era surpreendente, com inúmeras fatias de mandioquinha com espessura de folha de papel que, no conjunto, tornavam-se cremosas e macias. Sorte que mamãe não é muito chegada em cordeiro e eu surrupiei seu carré, para meu completo deleite... carré muito bem acompanhado de duas opções de tintos, um Dios Ares Crianza 2006 e um Dios Ares Reserva 2006, ambos 100% Tempranillo.



O segundo prato, um lombo de vitela com crocante de castanha do Pará com purê de abóbora e manga já despertava meu interesse diante do excelente desempenho do cordeiro. Mas não imaginava que minhas expectativas seriam novamente superadas: a carne, cortada em fatias de média espessura, também tinha textura perfeita e sabor rico. O crocante de castanha dava o contraste perfeito com a carne que derretia na boca. O puré de abóbora com manga surpreendeu pela combinação dos dois ingredientes, que pode soar inusitada em um primeiro momento mas, a cada garfada, mostrou-se equilibradíssima. Além do ótimo tinto Pujanza 2007, um mimo surpresa: Pujanza Norte 2006, o vinho top da vinícola espanhola, 60% tempranillo e 40% de castas variadas, passa 18 meses em barricas de carvalho. Não à toa foi cotado com 94 pontos no Parker e uma garrafa não sai por menos de 350 reais.



Satisfeitíssimas com o jantar - e um tanto alcoolizadas, verdade seja dita - ainda faltava experimentar a sobremesa, torrijas com espuma de chocolate (olha a espuma aí) e sorvete de nata com farofa crocante de baru - uma castanha cujo sabor lembra o amendoim. Torrijas são as rabanadas espanholas, que podem ser feitas com pães de forma ou caseiros e levam leite, açúcar e canela na versão original. Mas esta torrija que experimentamos não estava lá essas coisas, acabou sendo o ponto fraco do jantar, já que estava um pouco dura e ressecada. Nem o ótimo sorvete de nata pode ajudar...



O balanço final do jantar foi super positivo, o restaurante é de altíssima qualidade, além de um lugar lindíssimo. Gostei muito de conhecer a cozinha de um chef tão renomado e premiado como o Sergi Arola, representada com maestria pelo chef Fabio Andrade na casa paulistana. Definitivamente, um lugar que recomendo, dentre tantas boas opções em Sampa, sobretudo para ocasiões especiais.



Arola Vintetres

Tivoli São Paulo - Mofarrej
Alameda Santos, 1437 - Jardins
Fone: (11) 3146 5923
www.arolavintetres.com.br

2 comentários:

  1. Oi Mari.
    Faltou registrar o serviço impecável e a simpatia do sommelier que, inconformado com o nosso aparente desinteresse, insistiu para que provássemos o Pujanza Norte 2006, realmente um vinho excelente.
    Mamãe.

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  2. Well said, mom.
    Vale lembrar que nosso "aparente desinteresse" deveu-se às incontáveis taças sorvidas até então... hehehe... e para nossa sorte, o ótimo Yugo Myiashita não se conformou e nos convenceu a provar o melhor vinho da noite.

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