domingo, 28 de outubro de 2012

França - Parte 1: Paris. Para iniciar a viagem, Le Train Bleu

Bonjour mesdames et messieurs! Eis que vos falo diretamente da França, país onde estou por dois principais motivos: o primeiro deles é profissional, pois Paris é sede de dois salões internacionais de gastronomia - o Sial, que é o salão onde expositores de diversos segmentos alimentares apresentam novidades em termos de produtos e técnicas e o Salão do Chocolate, principal e mais importante evento do mundo no segmento de chocolates.

Já o segundo motivo (e não menos importante) é porque vim em busca de boa comida e acredito que esteja em um dos melhores destinos gastronômicos do planeta, por isso minha viagem não se restringe somente a Paris, também estão incluídos no trajeto da gula a cidade de Lyon (berço de Paul Bocuse) e algumas da região da Provence, como Nice, Cannes, Marseille, Aix en Provence... ou seja, a partir de hoje os posts serão dedicados ao que tenho comido por aqui.

Para iniciar a viagem, Le Train Bleu, um restaurante histórico e incrivelmente bonito, localizado na Gare de Lyon, uma das principais estações de trem de Paris. Sua decoração é riquíssima, com pinturas e esculturas no teto dos três enormes salões, feitas para a grande Exposição Mundial, evento que a cidade sediou em 1900 e para qual muitos dos monumentos da cidade foram construídos (inclusive a Torre Eiffel) e, para nossa sorte, continuam fazendo de Paris uma das cidades mais belas do mundo. O restaurante é uma instituição de Paris e algumas personalidades tornaram-se habitués ao longo de sua existência, caso de Coco Chanel, Salvador Dalí, Brigitte Bardot, dentre outros.



O Le Train Bleu já mereceria uma visita somente pelo seu apelo estético, mas a comida está à altura de sua beleza, o que faz do restaurante um programa imperdível para os bons comensais. O serviço é impecável – assim como em todos os restaurantes que estive na França – com direito a finalizações no próprio salão, caso do Steak Tartare, que é preparado à minuta, às vistas do cliente.


Com relação à reserva, aqui cabe uma ressalva importante: na França, não se vai a um restaurante sem reserva e ponto final. Nem que seja preciso telefonar da porta do lugar e pedir uma reserva para daqui 10 minutos, caso contrário, prepare-se para lidar com o mau humor do maître ou com a indisponibilidade de mesa, já que os restaurantes ficam bem cheios independente do dia da semana. Minha sugestão é que se planeje com atencedência os lugares que deseja conhecer e faça suas reservas o quanto antes. Alguns lugares oferecem opção de reservar pela internet, mas é a minoria, então gaste o seu francês com pelo menos duas frases, a que você explica que não fala francês e a outra em que pede permissão para falar em inglês, daí o caminho estará livre e você pode conquistar alguma simpatia e até conseguir uma mesa para um dia cheio.

Isto posto, vamos ao que realmente interessa: o jantar em si. Acomodadas em nossa mesa, tivemos tempo de explorar o menu com calma. Em sua grande maioria, os pratos são os clássicos da cozinha francesa tradicional, aquela cuja base é a gordura da manteiga e do creme de leite. Minha vontade era escolher umas três entradas, mas optei pela que mais me apeteceu: Raviólis de escargot e cogumelos, com espuma de aspargos verdes. Mamãe optou pela lingüiça de pistache com tomates confit e alcachofras. Para o prato principal, quis experimentar o bacalhau fresco com ovo mollet e trufas negras, já que aqui o autêntico peixe das águas geladas do mar do norte chega fresquíssimo, diferente do Brasil onde só encontramos o bacalhau salgado e seco (ou o congelado, mas essa não é uma opção para mim). Mamãe foi de filé Rossini, um corte alto de filé mignon, com batatas gratin. Para acompanhar nosso jantar, escolhemos na gigantesca carta de vinhos um branco da região da Alsácia que caiu muito bem tanto com a entrada quanto com o prato principal (melhor harmonizado com as minhas escolhas do que com as da mãe, porém como ela prefere os brancos, fiquei em paz).

Meus raviólis de escargot eram espetaculares, com massa tão fina quanto uma folha de papel, recheio farto, saborosíssimo e um molho leve que cumpria perfeitamente seu papel de coadjuvante. Os escargots se misturavam aos cogumelos, porém era possível distinguir a diferença de textura entre cada ingrediente. Ao contrário das porções tradicionais francesas, esta era farta, com 3 grandes raviólis bem recheados. Assim como todos os embutidos franceses, a lingüiça era ótima, de sabor forte e proporção corretíssima entre carne e gordura. O confit de tomates era picante e combinava bem com a rusticidade do prato.



Detalhe do recheio farto de escargots e cogumelos


Linguiça de pistache

Na sequência, os principais: o peixe veio em uma posta alta, macia e brilhante, com nacos que se soltavam facilmente, atestando o frescor da carne. O ovo mollet tinha aquela gema dourada e gelatinosa, fazendo par perfeito com as raspas de trufa negra e os aspargos verdes. O conjunto era excelente, mas o peixe realmente se sobressaía, muito devido ao método de cocção no vapor, que preservou suas melhores características.

É claro que a gema estava perfeita!

Quanto ao filé, se tem algo que eu amo na França é que eles nunca erram o ponto. Pelo menos no meu caso, que só como carne muito mal passada, nunca preciso ficar explicando como é o ponto que eu gosto, mesmo porque foram eles que inventaram o ponto BLEU. Já no caso da minha mãe, que prefere ao ponto para mal-passado, a carne estava mal-passada. Mas ok, ela preferiu não se manifestar, até porque ela sabia que eu iria comer uma parte do prato dela e o ponto estava ótimo para mim... mãe é mãe... Com relação à maciez, era daqueles filés que se cortam com colher, uma verdadeira manteiga. As batatas gratin não poderiam ser melhores, mas tai um acompanhamento que não se pode errar na França, deve fazer parte da primeira aula de qualquer escola de gastronomia.


Filé alto e mal passado, como deve ser

Após terminarmos os pratos, enquanto bebericávamos o resto do vinho e aguardávamos para escolher a sobremesa, o maître resolveu fazer um steak tartare bem na minha frente, para a mesa ao lado. Sou apaixonada por tartare e logo cresci os olhos para aquele ritual, pensei seriamente em trocar minha sobremesa pelo tartare mas logo me contive, seria muita gula (ou o verdadeiro significado do título deste blog).


De sobremesa, um clássico Millefeuille com crème Anglaise e caramelo, só para me certificar de que a confeitaria do local não fugiria à regra. Dito e feito, o doce estava um espetáculo de bom, com massa folhada de verdade, aquela que derrete na boca (sim, tem muuuita manteiga naquilo, cada dobra da massa leva uma camada de manteiga e são muitas dobras para que a massa possa folhar no forno) e o creme tinha textura leve, com baunilha de verdade, um conjunto perfeito com o caramelo.



Satisfeitíssimas – e com vontade de voltar andando para o hotel para tentar minimizar o estrago de tanta comilança – pedimos a conta: 190 Euros (+ 15% de gorgeta). Se levarmos em consideração o lugar, a qualidade dos pratos e o vinho, definitivamente não é um jantar caro e o custo benefício é ótimo. Recomendo o Le Train Bleu para qualquer um de passagem por Paris que aprecie a cozinha clássica francesa, além do cenário belíssimo e serviço impecável. Obs.: Excusez-moi pelas fotos de celular, sei que não são das melhores, mas é o que temos para o momento. Para quem quiser dar uma olhada no site oficial do lugar, as fotos não mentem quanto à decoração.



Le Train Bleu
Gare de Lyon, Paris
www.le-train-bleu.com

3 comentários:

  1. Fenomenal! Você por acaso pretende visitar o Les Hombres? Estarei esperando pelos próximos posts :) bon voyage

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  2. Salut, Vitor!
    Tive que restringir minha wish list de restaurantes de Paris, porque senão ela passaria de 40 e eu só tenho algumas noites... o Les Ombres é disputado por causa da vista da torre, a cozinha deve ser bem interessante, sei que é basicamente Fusion. Se eu conseguir um tempinho para ir lá, certamente postarei! Merci!

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  3. ;) nossa lua de mel foi por aí, e tivemos uma grata surpresa nesse restaurante. Teria gostado de ver um review seu de lá. Mas não tem problema, porque com certeza vou descobrir n outros de seus posts.

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