domingo, 18 de abril de 2010

O Embate das cervejas: Bar Brejas x Bar do Italiano x Santo Aroma

A idéia para este post começou meio por acaso, quando saímos para comer alguma coisa em uma sexta-feira gelada e, com nossa primeira opção lotada, resolvemos conhecer o Bar Brejas, especializado em cervejas especiais. Não sou uma fanática por cerveja, mas gosto bastante dessa brincadeira de harmonizar as consideradas "premium" com petiscos e sanduíches. O maridão e meu irmão são doentes por cerveja e, por causa deles, passei a gostar mais das loiras especiais. Até então, meu consumo restringia-se às básicas nacionais, durante churrascos e baladas. Fato é que, por termos ido no Brejas naquela sexta, ficou decidido que colocaríamos os grandes pra brigar - Bar Brejas, Bar do Italiano e Santo Aroma (em Vinhedo) - e o resultado você vê aqui.

Bar Brejas

O apelo é a cerveja, obviamente, mas não é qualquer cerveja: a casa oferece diversas opções de cervejas premium, nacionais e gringas, para satisfazer uma demanda cada vez mais crescente pelas "cervejas gourmet". A responsa deles deve ser grande, pois ocupam o imóvel que antes era do Bar do Italiano, respeitável na cidade por ser um dos precursores do movimento gourmet da cevada, do qual falaremos a seguir. O cardápio nos pareceu oferecer vastíssimas opções, tanto das nacionais premium quanto das gringas, como alemãs, tchecas, australianas, belgas (as melhores do mundo, na opinião dos especialistas), escocesas, holandesas, inglesas, irlandesas, trapistas e por aí vai - e vai longe! Não sei se o estoque estava abastecido com todas as opções do cardápio, mas as que pedimos estavam disponíveis (duas HB por R$ 15,90 cada e uma Colorado Cauim por R$ 13,90). Até aí, tudo ótimo. Mas por mais que o bar esteja cumprindo seu papel de oferecer uma vasta gama de cervejas premium, a cozinha vai mal. O cardápio de comes não é extenso, mas oferece boas opções de sanduíches e porções. Escolhi um sanduíche de parma, brie e rúcula na ciabata - imaginando que um lanche como esse não tem erro - mas me enganei: o pão só se parecia com ciabata, pois não tinha nada a ver nem em sabor, nem em textura. A quantidade de presunto parma era tão ínfima que mal sentia-se o gosto. O queijo brie estava ok, mas acabou ficando sufocado pela quantidade exagerada de rúcula, tirando totalmente o equilíbrio de sabores. Resolvi dar uma nova chance e pedimos os mini-hamburguers. A apresentação era bonitinha, mas o sabor em si era ordinário: gordurosos a ponto de deixar aquela sensação de sebo no céu da boca, aquele gosto de chapa suja, sabe? As fritas eram das congeladas, mas dentro do contexto, salvaram a pátria.
Em termos de ambiente, poderia ser bem mais agradável se o som não estivesse tão alto - isso porque tava rolando Beatles, que é quase impossível de incomodar. O serviço era cortês, mas o garçom poderia ser melhor treinado sobre as cervejas, a ponto de poder dar boas sugestões e não somente servir e tirar a mesa. Resumindo: nhé... tá vai...



Bar do Italiano

Como dito anteriormente, ocupava o imóvel que hoje é do Brejas, mas mudou-se para não muito longe dali. O novo bar é mais moderno, todo aberto, com pé-direito duplo, balcão grande e gigantesca prateleira de bebidas. Além da carta de cervejas, oferece 6 opções de chope Schornstein. As opções de cerveja não diferem muito do Brejas, com exemplares dos mesmos países. Exceção para a belga Deus, uma das melhores cervejas do mundo - com preço à altura - e algumas outras que não vimos no outro bar, como a também belga Boon Kriek e a Canadense Unibroue. O garçom que nos atendeu foi logo adiantando que algumas opções não estariam disponíveis, mas não especificou quais. Explicou também sobre a promoção que oferecia uma importada free a cada duas tomadas (com exceção das rolhadas). Legal! Mas nossa alegria foi diminuindo a cada "TEM MAS ACABOU" que ouvíamos... foram 3 vezes... É aí que entra o lance de treinar melhor os garçons. Neste caso, ele poderia já ter dito quais não estariam disponíveis e poderia oferecer outras opções na mesma linha. No caso de uma Pilsen que pedimos e que estava em falta, ele ofereceu uma Lager como opção, apenas atendo-se à faixa de preço similar e não ao tipo equivalente. Em uma das ocasiões em que rolou o "TEM MAS ACABOU", ele não soube nos dizer o nome da substituta que iria nos oferecer, apenas trouxe e disse que se não gostássemos, não precisaríamos pagar. De fato, a cerveja era boa, uma Lager chamada Pfungstädter, servida no copo da Krombacher. Acabou saindo de graça, não porque não gostamos, mas porque o garçom quis compensar nossa frustração com tantos "TEM MAS ACABOU". Pelo menos, o som era dos mais bacanas, com Smiths, Pretenders, Foo Fighters...

Já no que diz respeito aos comes, ponto para o Italiano! O sanduíche, cujos ingredientes eram muito similares ao do Brejas, estava divino. O pão era ciabata de verdade (nem poderia ser diferente no Bar do Italiano) e o recheio era farto, com brie derretendo sobre várias camadas de parma. O outro sanduba, de rosbife com molho tártaro, estava muito bom também, mas faltava um sabor mais pungente, talvez algo como uma mostarda de Dijon. Mas o molho inglês que pedimos ajudou a dar um revitalizada no lanche, só não dá pra perdoar a mostarda fraca e em sachê - quem é leitor do blog sabe que eu abomino sachê, mas dei crédito ao Chopp do Fritz, que usa sachês, porém de mostarde Hemmer. Satisfeitos com o nível dos sandubas, pedimos mini-hamburgers de cordeiro com molho barbecue pra tirar a prova da cozinha e fomos felizes! Apesar do fato de que a textura poderia ser mais tenra e macia, o sabor era delicado, aquele gostinho de cordeiro novinho, muito bom mesmo. E o molho barbecue não parecia que tinha acabado de sair da geladeira, tinha consistência mais líquida e temperatura morna, gostamos bastante. Ponto para a cozinha do italiano, que dá importância aos coadjuvantes das ótimas cervejas. Mas sentimos falta de alguém que entenda do assunto para nos assessorar nos momentos em que precisávamos substituir os pedidos originais devido à falta dos produtos. O mais triste é saber que o próprio Italiano, que é o expert-mor no assunto, estava por lá mas não se deu ao trabalho de sair de trás do balcão, preferindo ficar no bate-papo com os amigos a tirar a má-impressão que a falta das cervejas nos causou. Nisso, o Bar do Italiano perde preciosos pontos no embate...






Santo Aroma - Vinhedo

Não poderia jamais deixar o Santo Aroma de fora deste embate, pois é um dos lugares que conta com a maior diversidade de cervejas premium que já vi, além da consultoria (e simpatia) do expert no assunto, o Peter. O Bar fica em Vinhedo, na entrada da cidade, em uma casa super aconchegante de estilo rústico. Além da música ao vivo nas noites de sexta e sábado, o bom gosto musical do Peter reflete-se nos ótimos DVDs de shows que ele coloca - de Yes a Pearl Jam, passando por clássicos como Rush.
Além de oferecer praticamente a mesma diversidade de cervejas do mundo todo como os adversários anteriores, é o único a oferecer menu-degustação por tipo de cerveja, cada um com sequência de 5 garrafas, nacionais e importadas: Pilsen (R$ 32,00 por pessoa), Weiss (R$ 42,00 por pessoa), Ale (R$ 55,00 por pessoa) e Rolhadas (R$ 125,00 por pessoa, que inclui rótulos como La Trappe, Urthel, Maudite e Trois Pistole). Os menus valem muito à pena, pois o valor unitário médio de um cerveja Pilsen, por exemplo, gira em torno de R$ 15,00 a 20,00, fazendo com que o valor total de R$ 64,00 para duas pessoas seja um bom negócio, já que este valor poderia facilmente chegar a R$ 100,00 se pedidas isoladamente.

Além das ótimas geladas, o Peter faz questão de dividir sua sabedoria com os clientes. Um bate-papo torna-se uma aula, com dicas e curiosidades. Por exemplo, ontem mesmo descobrimos que uma das melhores cervejas "não-rolhadas" do mundo, na opinião dele, é a americana Samuel Adams, de Boston. Aprendemos também que, diferentemente do vinho, a cerveja rolhada não pode ter contato com a rolha, senão estraga, por isso as garrafas são guardadas em pé. O mais legal é que todo esse conhecimento também é compartilhado com os atendentes, que acabam tornando-se entendedores e capazes de assessorar melhor os clientes em termos de sugestões e dúvidas.

Optamos pela degustação de Pilsen, pois o maridão sabe que sou mais chegada às cervejas mais suaves - apesar de que ele já me fez experimentar uma defumada, com inevitável gosto de bacon. O Peter já explica de antemão o que está em falta e por quais pretende substituir. De acordo, partimos para a brincadeira: começando de leve com uma Gold, cerveja nacional produzida pela... Kaiser! Isso mesmo, é uma linha nobre da Kaiser, bem gostosa. A segunda é a nossa já conhecida Colorado Cauim, nacional também, produzida em Ribeirão Preto. A cada cerveja, uma história - o Peter conhece todo mundo desse meio. Resolvemos que precisaríamos comer algo, para não dar vexame, e aceitamos as sugestões da casa: um canapé de patê de carne Blumenau, com rodelas de pepininho sobre pão preto e mini linguiças de frango ao curry, com duo de mostardas e pão preto. Os canapés estavam ótimos, o patê tinha consistência super cremosa, porém não tinha aquele gosto forte que amarra a boca. Perfeito com as loiras geladas. As linguicinhas de frango ao curry eram muito saborosas, sem carregar no curry mas o suficiente para deixar sua marca. De textura macia, estouravam na boca e faziam par perfeito com a mostarda escura (conhecida também como Süsses Senf ou mostarda doce).



Antes de nos trazer a terceira cerveja de nossa degustação, ganhamos um mimo: o Peter nos deu um copo da austríaca Edelweiss, uma cerveja de trigo feita com as águas de degelo dos alpes. Reza a lenda que leva em sua formulação a flor típica dos alpes, o Edelweiss - ou copo de leite - mas isso o Peter já não confirma. Após o mimo, passamos à terceira cerveja de nossa degustação, a Japa-Canadense Ichiban, produzida no Canadá com matéria-prima japonesa. Feita a partir da fermentação do arroz, veio substituir a Bamberg em falta (nota: segundo o Peter, ele não compra mais Bamberg desde que a cervejaria resolveu aumentar seus preços em 60%, sem maiores explicações). A quarta maravilha era a alemã König, uma das mais famosas loiras germânicas (depois da Heidi Klum... hehehe, piadinha infame). Um detalhe: cada cerveja tem seu copo próprio, não somente no formato, mas na marca também. Acho até que nisso a degustação de cervejas é mais chata que a dos vinhos, pois não me lembro de ter tomado nenhum vinho com taça personalizada, a não ser aquelas flûtes ultra-frescas da Veuve Cliquot ou Moët Chandon... mas voltando para nosso assunto, na hora da quinta cerveja eu já não saberia diferenciar muita coisa. Pena, pois a degustação é feita em um crescente de importância e sabor, deixando por último uma boa representante da categoria: a tcheca Czechvar, de sabor leve e refrescante, mas que persiste na boca por um tempo. Seu copo não é um copo, mas sim uma canequinha de vidro, que foi ficando cada vez mais pesada com o passar do tempo...



Na pontuação do embate, o Santo Aroma ganha pontos não só pela vasta carta de cervejas, mas também pelo equilíbrio da cozinha com ótimas sugestões para acompanhar as bebidas, pela disponibilidade e atenção do Peter, preocupado em tornar a experiência o mais interessante possível, e pelo treinamento da equipe, capaz de sugerir boas opções, identificar e solucionar questões que os clientes possam ter.


Tais diferenciais agregam pontos para o Santo Aroma que, aos olhos deste blog, acaba se distanciando dos demais e sagra-se o grande campeão do embate das cervejas. Talvez o único contra seja a distância de Campinas, pois será necessário eleger um motorista que não poderá participar da esbórnia etílica ou então, pegar um taxi.

Após um fim de semana regado a excelentes cervejas, vou precisar de muitas sessões de drenagem linfática para me livrar do inchaço que me acomete neste domingão de sol. Mas posso dizer que cada gole valeu à pena.

Bar Brejas
www.barbrejas.com

Bar do Italiano
www.bardoitaliano.com

Santo Aroma - Vinhedo
Rua Manoel Matheus, 1655
Vinhedo - SP, 13280-000
(0xx)19 3886-4788

5 comentários:

  1. Oi Mari,
    Confesso que não fiz esforço algum para participar com você deste post, valeu muito a pena! Bom, também nem preciso falar que o Santo Aroma é meu favorito, por todo o contexto já descrito. Se o mesmo estivesse em Campinas, seria impossível deixar a "firrma" numa quinta ou sexta, e não passar por lá para um bom happy hour.
    Enfim, quando nós estivermos de garganta seca em Vinhedo, buscaremos novos conhecimentos com o Peter... tudo pela cultura!
    Beijão!
    O Maridão.

    ResponderExcluir
  2. Excelente post Mari!!!

    Tenho um grande apreço pelo Santo Aroma. Na minha ida ao Brasil no final do ano passado, segui pra lá logo no primeiro dia. Saímos para dar aquele pitoresco rolê pela querida Vinhedo e, com bocas e gargantas secas, chegamos no Peter. Aparentemente já havia passado da hora de fechar, e o garçon, um tanto contrariado, nos serviu com a eficiência de sempre. Um pouco depois o Peter liberou o funcionário pro merecido descanso e continuou nos servindo pessoalmente. Mais pessoas chegavam, era uma tarde linda e quente no meio daquele mês de dilúvio...ficamos horas por lá. Difícil lembrar de algum bar com clima melhor que o Santo Aroma. Assim que puser meus pés por aí de novo é pra lá que eu vou.

    ResponderExcluir
  3. Miguel,
    eu sabia que vc ia curtir o post. Anota aí na sua listinha de must-go pra quando vc vier pra cá, faremos questão de acompanhar... hehehe...

    ResponderExcluir
  4. Por favor, verifique se meu telefone está atualizado em sua agenda... quero estar na próxima ida ao Santo Aroma!

    Vou ter que abrir uma gelada antes de dormir depois desta leitura...

    El Rafa

    ResponderExcluir
  5. Rafinha, quer saber o pior? Fomos lá no sábado de novo... hi hi hi...

    ResponderExcluir